SALVADOR
'Fealdade personificada': a história do homem mais feio de Salvador
Ernesto de Freitas Catalina venceu concurso feito por revista
Por Gabriel Moura
Ernesto de Freitas Catalina era um dos farmaceuticos mais bem conceituados de Salvador na primeira metade do século XX. Baianos de todas as partes iam até sua drogaria atrás de xaropes, tônicos e aspirinas. Ernesto só não conseguia encontrar a cura para uma doença: sua feiura.
A desprestigiada diagramação facial do rapaz já era notada por toda a high-society soteropolitana, mas foi chancelada por votação popular promovida pela revista Renascença, cujo 'concurso de fealdade' elegeu, em 1925, Ernesto.
Ao final do plebiscito, com quase mil participantes, Ernesto de Freitas Catalini somou 305 votos. O segundo colocado, Antonio Pedro Ribeiro, teve apenas 188, seguido por Franklin de Freitas, fechando o pódio com 161.
O que piora a situação do rapaz é que ele não vinha de família tradicional ou era citado nas disputadas colunas sociais. Ernesto seria um mero anônimo não fosse a fuça que ostentava.
Tanto que quase nada se sabe sobre a vida de Ernesto, exceto a exaltada feiúra. As poucas informações encontram-se em um perfil escrito pela própria Renascença em 1923, quando formou na faculdade de Farmácia.
O texto até cita que ele morava no Rio Vermelho, mas gasta a maior parte dos caracteres descrevendo a aparência do perfilado. Ironias como "perfeito Don Juan Tenório" ou "fealdade personificada", em linguagem mais direta, foram alguns dos apelidos mencionados.
"Passa em direção à faculdade com grande quantidade de livros e cadernos sob o braço. Passo lento, cabeça um tanto pendida para a frente devido ao seu enorme peso", descreve o texto, ressaltando a vasta circunferência craniana do jovem.
Feios também amam
A condição enfrentada pelo rapaz, no entanto, não o impediu de achar o amor verdadeiro. A própria revista cita que Ernesto costumada ser visto "grelando" com uma moça pela capital baiana - "fazendo lembrar o jacaré quando choca os ovos", detalha a Renascença.
Durante um encontro formal, conversa vai, conversa vem, conquistou o coração da amada, com quem casou-se. A identidade da caridosa não foi revelada, apenas descreveram-a como alguém de baixa estatura.
Benfeitor
Além de piadas, Erneste espalhava a autoestima pela cidade. Um causo narrado pela publicação foi um encontro dele com o poeta Roberto Correia, de quem arrancou fartos risos.
Encucado, um transeunte questionou ao poeta o motivo de tamanha felicidade. "É que, finalmente, encontro o primeiro mais feio do que eu", explicou.
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