SALVADOR
Fechamento do Marista gera protesto
Por Alana Fraga, do A TARDE
Cerca de 800 pessoas, entre estudantes, ex-alunos, pais, funcionários e professores do Colégio Marista realizaram uma passeata em protesto ao fechamento da unidade do Canela. Apitos, faixas, balões e flores foram erguidos e tocados a partir das 10 horas desta terça, partindo do pátio do colégio em direção ao Largo do Campo Grande. Depois, a caminhada seguiu novamente para o Marista para um “abraço solidário” e o canto do hino nacional.
“Nossa caminhada é pelo resgate dos valores de lealdade, honestidade, honra e senso de justiça implantados durante os 104 anos de história desse colégio e que não estão sendo utilizados nessa situação”, afirmou o coordenador da Comissão de Comunicação do Marista, Nilo Góes.
A emoção da passeata contagiou até mesmo os passantes nas ruas, que gritavam e aplaudiam os manifestantes em apóio à causa. Emocionados, os alunos do Marista expressaram indignação com o provável fechamento da instituição. “Isso é uma falta de respeito com todos nós. Onde está a filosofia marista?”, perguntou a estudante da 8ª série, Clara Fagundes. A preocupação com o futuro dos funcionários também foi destacado pelos alunos. “Como podem esquecer uma história de quase um século e deixar os funcionários sem emprego, alguns até perto de se aposentar”, disse Ana Márcia Melo, da 8ª série.
Pai de aluno, o secretário de saúde do estado da Bahia, Jorge Solla, era um dos presentes na passeata. Solla fez questão de ressaltar que, como instituição filantrópica e isenta de impostos, o colégio, por meio dos seus responsáveis, devem um esclarecimento mais efetivo à comunidade.“Os proprietários do colégio não podem se dar ao luxo de vender (o colégio) assim, por mais que seja uma instituição privada. A expectativa da nossa manifestação é que essa situação seja revertida”, afirmou Solla. As aulas na escola foram interrompidas ontem pela diretoria acadêmica por meio de comunicado enviado aos professores e alunos. Na opinião de Nilo Góes, a decisão “foi uma forma de tentar intimidar a manifestação”.
Na unidade do Marista no Canela, onde estudam cerca de 1.200 estudantes, trabalham 80 professores e 60 funcionários, que estão em processo de demissão. Muitos deles estão lá há quase 20 anos, como o professor Rosival Carvalho. “Lutaremos na medida do possível para manter a história do colégio e o emprego desses funcionários”, declarou o professor.
Por meio de cartas, diversos pais de alunos do Marista em Patamares declararam-se solidários ao colégio do Canela e anunciaram o desligamento de seus filhos da instituição. Mais de 400 pré-matrículas confirmadas no colégio do Canela foram cancelados.
ASSEMBLÉIA - Na próxima segunda-feira (20), às 19 horas, haverá uma assembléia na sede do Marista em que as comissões (jurídica, comunicação e pais) irão apresentar propostas para a solução do caso. A informação foi concedida pela presidente da Associação de Pais do Colégio, Mônica Baqueiro. Segundo ela, a comissão jurídica do Marista - que trabalha em conjunto com as demais - está tomando providências para o funcionamento do colégio no próximo ano e os resultados obtidos serão expostos ao público na ocasião. Mônica acredita no sucesso das lutas que estão sendo travadas.
“Temos provas de que, juridicamente, a venda não foi efetuada porque não há registros em cartório. Já conseguimos saldo positivo com a previsão de tombamento do colégio. Agora queremos uma conversa pessoalmente com o representante da Unbec (União Norte Brasileira de Educação e Cultura) para discutirmos propostas e soluções. Até agora Brasília não nos deu pronunciamento nenhum”, explicou Mônica.
De Brasília, o advogado responsável pela direção jurídica das unidades do Marista, Bernard Ribeiro, disse que o senhor Gentil Paganotto (representante da Unbec) veio à Salvador fazer pessoalmente o pronunciamento do fechamento do colégio. Na ocasião, Gentil afirmou que encaminharia a lista de reivindicações dos funcionários à direção executiva caso fosse enviada antes da reunião (09), mas a lista chegou no dia 10.
De acordo com Ribeiro, a direção se reunirá novamente em Brasília no final do mês para tratar do fechamento do colégio, fato que ele afirma ser irreversível. “A decisão (do fechamento) não tem volta. A venda foi deliberada pelo conselho geral e está realmente efetivada e juricamente consolidada”, afirmou o advogado.
COMUNICADO – A rede responsável pelo colégio Marista, em comunicado oficial, relatou que “no segundo semestre de 2008, dando continuidade à perspectiva de unificar o ensino Marista em Salvador, a Unbec começou a estudar a possibilidade de venda do colégio do Canela, o que se concretizou no fim do mês de setembro”.
A nota continua, salientando: “Os alunos regularmente matriculados no Marista do Canela, desejando, poderão ser acolhidos na sede de Patamares, desde que se inscrevam na secretaria da nova unidade, impreterivelmente até o dia 14 de setembro”. Com relação aos funcionários e professores, a direção da Unbec diz: “Os professores e funcionários também contarão com o apoio da instituição, que está se mobilizando no sentido de tentar recolocá-los em outras estabelecimentos de ensino”.
TOMBAMENTO - Com a confirmação da venda do colégio para “um grupo de investidores”, no último dia 06, a Associação de Pais e Amigos do Marista entraram com uma solicitação em favor do tombamento. Segundo Mateus Torres, gerente de pesquisa e legislação do Instituto do Patrimônio Artístico e Cultural da Bahia (Ipac), o processo completo para aprovação do tombamento pode durar cerca de seis meses. “Quando o dossiê que está sendo elaborado estiver pronto, será encaminhado para o Conselho de Cultura. Caso seja aprovado, é encaminhado para a Secretaria de Cultura e depois é passado ao governador para assinatura final”, explica Mateus.
Colaborou Juracy dos Anjos
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