Festa de Santa Bárbara promete ‘vestir’ o Centro Histórico de vermelho

Se tem uma coisa que Salvador - e toda a Bahia - gosta é de festa e o ciclo de festas populares e de largo da capital começa hoje, com a celebração de Santa Bárbara. Mesmo com a alta dos casos de Covid-19 e a volta da obrigatoriedade do uso de máscara em locais fechados, a festa que cobre o Centro Histórico de vermelho está de pé. Porém, caso a contaminação continue nessa crescente - o número de casos aumentou em 500% no estado em novembro, de acordo com a Secretaria de Saúde do Estado (Sesab) -, essa pode não ser a realidade dos festejos que estão por vir.

“Mesmo com a festa acontecendo, sem dúvidas temos que dizer a cada irmão e irmã que a saúde é importante para todos nós. Então você, devoto e devota de Santa Bárbara, Conceição da Praia e Santa Luzia, que abrem esse ciclo de festas, e todos os devotos de outros santos: tudo isso é importante, mas a vida tem uma importância ainda maior. Então usem máscaras e permaneçam no cuidado e no respeito”, pede o capelão da Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, o cônego Lázaro Muniz, que explicou que eles vinham afirmando que os festejos de Santa bárbara aconteceriam, mas sabendo que essa decisão poderia não permanecer.

No entanto, com festa ou sem festa neste domingo, a corretora Tévora Mary Santos afirma que manter a fé e garantir que todos estejam em segurança é o mais importante. “O número de casos está aumentando, então todo mundo precisa fazer a sua parte e seguir com aquilo que é mais seguro. Se a recomendação é que usemos máscara, vamos todos usar. Se precisa de um número restrito de pessoas e mudar os festejos, que assim seja. É preciso ter cuidado com a gente e com o próximo”, salienta ela que, quando criança, era chamada de ‘Santa Barbára menina’, por causa do tamanho do cabelo.

Na última semana o Governador da Bahia, Rui Costa (PT), voltou a tornar obrigatório - sem previsão de revogação -, o uso de máscara em transportes públicos, salões de beleza, restaurantes (e similares), templos religiosos, escolas, universidades, teatros, cinemas, museus, parques de exposições e espaços congêneres. “A situação é preocupante. A maioria das pessoas internadas hoje são de idosos e de pessoas não vacinadas. Não dá para entender essa tamanha resistência à vacinação. A gente pede que as pessoas se vacinem, não há motivo para que as pessoas continuem morrendo quando tem vacina”, desabafou Rui Costa durante coletiva.

Após os decretos do governador, o Prefeito de Salvador, Bruno Reis (UB), afirmou que não descarta a possibilidade de adotar medidas restritivas para conter o avanço da Covid-19 na capital. E devido ao avanço dessas restrições, outra festa de largo que pode não acontecer como nos anos anteriores à pandemia é Conceição da Praia, no próximo dia 8. Juíza (administradora geral) da Irmandade do Santíssimo Sacramento e Nossa Senhora da Conceição da Praia, Marília Gabriela Silva Dias, explica que a expectativa seria a retomada da novena e da festa sem nenhuma restrição, mas pode não ser assim.

“A alternativa por ter um público grande é pedir a gentileza que as pessoas tomem todas as precauções, como o uso de máscara e álcool gel, além de não compartilhar objetos pessoais, principalmente celular, e manter o distanciamento. Aqueles que tiverem problemas respiratórios solicitamos cuidado com a saúde, e que participem do novenário e da festa através das redes sociais e Youtube da Basílica. Acima de tudo, sigam as orientações da OMS, e permaneçam com a máscara e todos os cuidados”, pede a juíza.

Já para a esperada Festa do Bonfim as esperanças ainda são um pouco maiores. Os fiéis só irão subir a Colina Sagrada no dia 15 de janeiro, e com a população se cuidando e se vacinando, o número de casos ativos pode começar a diminuir e, consequentemente, as restrições.

Senhor do Bonfim

Reitor da Basílica do Senhor do Bonfim, o cônego Edson Menezes afirma que todas as preparações estão sendo feitas na esperança de que os festejos aconteçam como antes da pandemia. Porém, o aumento do número de pessoas contaminadas tem deixado a organização apreensiva e preocupada.

“Estamos nutrindo a esperança de que a população vai acatar as orientações que estão sendo dadas pelas autoridades governamentais, assim como estamos abertos a acolher qualquer decisão que seja tomada e decreto que seja publicado, para então fazermos as adaptações na programação conforme o que esteja em vigor. A nossa esperança é que tudo possa acontecer, mas deixamos um apelo para que as pessoas colaborem, contribuam, usando máscaras, seguindo as orientações e não esqueçam: vacinar-se é um ato de amor”, pede o cônego Edson Menezes.

E quem faz coro a esse apelo é o jornalista Edgar Paiva: nascido em 12 de janeiro, todo ano que seu aniversário cai numa quinta-feira - como será em 2023 -, ele comemora mais um ano de vida na Festa do Senhor do Bonfim. “Vou na Conceição da Praia também, mas a do Bonfim é minha preferida. Muitas vezes cai no meu aniversário e é bom“.

FALTA DE PLANEJAMENTO AMEAÇA A CENTENÁRIA FESTA DE IEMANJÁ

Completando 100 anos em 2023, a Festa de Iemanjá é uma das mais aguardadas e populares do ciclo de festejos de Salvador, e acontece no dia 2 de fevereiro de 2023. Mas sua organização tem passado por dificuldades que vão além do cancelamento dos festejos em razão da pandemia.

O problema? A Festa de Iemanjá não tem qualquer filiação com alguma igreja ou mesmo com o governo ou prefeitura, toda a organização da festa é feita pelos pescadores da Z-1, no Rio Vermelho, com o apoio de moradores e comerciantes do bairro, mas até o momento nenhum acordo ou apoio foi firmado pensando na festa.

Dúvida

“E com o crescimento de casos de Covid-19 e com o decreto do governo colocando o uso obrigatório de máscara, a realização da festa está se tornando cada vez mais uma dúvida. Governo e prefeitura estão anunciando o Carnaval e outras festas populares, só que ninguém nos procura, a verdade é essa”, lamenta Getúlio Santana, pequeno produtor rural e ex-comerciante do Rio Vermelho, que há anos ajuda na organização.

“Eles só nos procuram depois da Festa do Bonfim, menos de 15 dias antes da Festa de Iemanjá, dessa forma, fica difícil fazer uma festa grande e bem-feita. Realmente acho que, caso a festa aconteça, não será do jeito que gostaríamos”, afirma Getúlio Santana.

A interferência da prefeitura também tem sido um problema, afirma Getúlio, isso porque o órgão, ano a pós ano, vem querendo fazer a festa como bem quiser, esquecendo toda uma tradição vinda dos pescadores.

“Temos tentado organizar com alguns pescadores e moradores do bairro uma reunião entre nós para irmos até os órgãos da prefeitura e do estado para ver se conseguimos fazer a festa juntos e respeitando essa história nesse centenário”, conta.

“Queremos uma festa melhor, bem programada e organizada, Ainda assim acredito que está muito em cima e com a questão da pandemia, não consigo falar com firmeza que ela irá ser realizada como antes”, explica Santana.