Funcionários de rádio e TV fazem paralisação relâmpago | A TARDE
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Funcionários de rádio e TV fazem paralisação relâmpago

Publicado quinta-feira, 16 de fevereiro de 2006 às 00:00 h | Autor: JORNAL A TARDE

Em duas emissoras, piquetes impediram a entrada dos profissionais



EDER LUIS SANTANA




Quem ligou a televisão na manhã de ontem em busca de informação foi surpreendido com a falta de notícias locais em alguns telejornais de Salvador. Em duas emissoras, as redações ficaram quase vazias por causa da manifestação feita pelos trabalhadores de empresas de rádio e televisão, que reivindicavam melhores salários. O protesto deixou o trânsito lento durante toda a manhã na Estrada de São Lázaro. Hoje, devem ocorrer novas manifestações, mas os locais não foram revelados.



Na TV Bahia, emissora que integra a Rede Bahia de Comunicação, afiliada da Rede Globo, a edição de ontem do Bahia Meio Dia foi veiculada com entradas ao vivo do quadro Desaparecidos a partir do interior do Estado, ao invés das entradas na Praça da Piedade, normalmente ancoradas pelo jornalista Casemiro Neto. Vinhetas não foram exibidas. O Bahia Meio Dia é líder de público, com 16,1% da audiência em Salvador, segundo dados do Ibope colhidos entre os dias 23 e 29 de janeiro.



O ato começou por volta das 3 horas da madrugada, quando membros do Sindicato dos Trabalhadores de Rádio, Televisão e Publicidade da Bahia (Sinterp-BA) interditaram a Estrada de São Lázaro, na Federação, que dá acesso à TV Bahia. Um outro grupo se manteve posicionado em frente à TV Aratu, que fica na Federação. Nas duas emissoras, os funcionários foram impedidos de ter acesso às instalações. Por volta das 9 horas, os manifestantes se juntaram aos que estavam em São Lázaro.



Sem funcionários, a TV Aratu não transmitiu o Bom Dia Bocão, nem o Bom Dia Bahia, que vão ao ar, respectivamente, às 7 e 7h40. Nesse mesmo horário não houve trabalhadores para organizar o Jornal da Manhã, da TV Bahia. O programa teve de ser gravado no domingo, quando preventivamente o jornalismo da emissora decidiu preparar o telejornal. Na Globo FM, que fica no prédio da TV Bahia, a programação não teve participação de locutores, até o meio-dia.



REIVINDICAÇÕES – Cerca de 300 trabalhadores participaram do movimento, de acordo com estimativas da Polícia Militar. Com data-base vencida desde janeiro, a categoria reivindica reajuste salarial de 12%. Além disso, pretende que o piso salarial dos radialistas suba de R$657 para R$800, na capital, e de R$ 348 para R$ 600, no interior. No caso dos trabalhadores de TV, o acréscimo é de R$ 655 para R$ 800, para os que trabalham na capital, e de R$ 348 para R$ 600, para aqueles do interior.



“Já tentamos negociar 14 vezes e as empresas não sinalizam com acordo”, reclama o vice-coordenador do Sinterp, Álvaro Assunção. O sindicato tenta ainda que as empresas ofereçam plano de saúde e um programa de participação nos lucros. Por volta das 11 horas, sindicalistas se reuniram com membros do Sindicato das Empresas de Rádio e Televisão (Ferteb), que ofereceu no máximo 6% de reajuste. O encontro aconteceu na sede da Delegacia Regional do Trabalho (DRT).



O assessor sindical do Ferterb, Jorge Castro, afirmou que as empresas não teriam condições de pagar além desse percentual. “As outras reivindicações não podem ser negociadas. Planos de saúde e participação nos lucros têm de ser conversados com cada empresa”, assinalou. Castro comentou que as emissoras prejudicadas ontem vão mover uma ação de perdas e danos contra o sindicato.



Hoje, os trabalhadores terão mais uma rodada de negociações. Por volta das 19h, se reúnem na sede da CUT, atrás do Colégio Central, em Nazaré, para decidir sobre uma possível greve da categoria durante o Carnaval. O diretor da TV Aratu, Nei Bandeira, se mostrou surpreso diante do ato e afirmou que, caso haja greve no Carnaval, serão tomadas medidas para não prejudicar a transmissão. Na TV Bahia, nenhum dos diretores falou sobre o assunto.



PM apura suposto uso indevido de viatura



O único que conseguiu furar o bloqueio em frente à TV Bahia foi o editor-chefe do Jornal da Manhã, Genildo Lawinsky. Por volta das 10h45, o jornalista foi visto deitado, escondendo o rosto sob um saco plástico, no banco de trás de uma viatura da PM.



O coordenador de policiamento da capital, coronel Nilton Mascarenhas, diz que tomou conhecimento do fato depois que A TARDE foi buscar informações. Ele afirmou que o caso será apurado, uma vez que a viatura chegou ao local sem o conhecimento dos membros da PM que cuidavam da segurança durante a manifestação.



O veículo no qual o jornalista teria passado é o de placa JPZ-3706, com numeração 91.201, segundo funcionários, que preferiram não se identificar



Outros trabalhadores confirmaram, de dentro da emissora, que o jornalista entrou no carro da PM. Ele foi o âncora do telejornal, que foi ao ar somente com entradas ao vivo feitas pelos repórteres das cidades de Barreiras, Itabuna, Vitória da Conquista, Feira de Santana e Juazeiro.



Genildo foi procurado por A TARDE e disse que não era notícia, e sim, “um transmissor de notícias”. O presidente do Sinterp-BA, Edmundo Filho, diz que vai entrar com uma denúncia junto ao Ministério Público pelo uso indevido de viaturas.



A pista que dá acesso à TV Bahia só foi liberada por volta do meio-dia, quando terminou o telejornal Bahia Meio Dia. Durante toda a manhã, os diretores da emissora convocaram seus funcionários por telefone. Todos foram barrados.

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