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SALVADOR

Gasolina cara e menor movimento de pessoas geram prejuízos aos mototaxistas

Por Antônio Laranjeira | Agência Mural

21/05/2021 - 6:00 h
Profissão é comum na Liberdade, um dos bairros mais populosos de Salvador Foto: Antônio Laranjeira / Ag. Mural
Profissão é comum na Liberdade, um dos bairros mais populosos de Salvador Foto: Antônio Laranjeira / Ag. Mural -

Uma série de novos obstáculos surgiu no caminho dos mototaxistas de Salvador desde o início da pandemia de Covid-19. Na Liberdade, bairro que passou por três fases de restrições entre 2020 e 2021, profissionais regularizados e clandestinos reclamam das condições de trabalho enfrentadas nesse período.

Luís Cláudio Capinam, 48, que trabalha no bairro desde 2009, diz nunca ter visto algo igual. Ele é um dos 1.276 “mototáxis” regularizados pela Prefeitura de Salvador. “O motociclista está na linha de frente, com ou sem pandemia. O maior problema do serviço de mototáxi é a insegurança no trabalho. Da mesma maneira que a gente protege nossa vida do vírus, a protege do assaltante", comenta Luís Cláudio.

A vacinação e o auxílio financeiro cedidos até o momento foram destinados para os mototaxistas maiores de 60 anos, grupo que representa menos de 0,5% dos trabalhadores regularizados informados pela administração. Esse grupo também teve direito ao auxílio financeiro de R$ 270 da prefeitura de Salvador à classe. Os profissionais de 21 a 59 anos foram beneficiados com uma cesta básica mensal até o fim da pandemia.

Mas para Maurício Silva, 36, que atua como mototaxista desde 2018, no bairro Pero Vaz, as dificuldades financeiras afastam os profissionais da regularização.

“Para rodar como mototáxi é preciso investimento no ‘kit amarelo’, manutenção de todos os itens, pedido para mudar a cor da moto. Nem sempre todo mundo consegue. Eu comecei querendo regularizar, mas, como não consegui, rodo clandestinamente há três anos. Não é 100% certo, mas não é 100% errado”, avalia.

O geógrafo Ricardo Barbosa da Silva, pesquisador do grupo de pesquisa Rede Mobilidade Periferias da Unifesp - Zona Leste, indica os motivos que contribuíram para a formação da classe.

“Possivelmente são vários os fatores que levam uma pessoa a trabalhar como mototaxista, seja regularizado ou não. No fundo, o surgimento e a dinâmica desse serviço estão relacionados a desemprego, pobreza urbana, crise generalizada de mobilidade na cidade e precarização dos transportes coletivos”, observa.

O pesquisador ressalta a importância do serviço no contexto atual. "O mototáxi é um serviço que apareceu como uma alternativa à população periférica. Essas pessoas são as mais dependentes do transporte coletivo, geralmente lotados, situação que na pandemia torna-se uma condição de maior vulnerabilidade de contaminação", diz Silva.

O último credenciamento de novos mototáxis ocorreu entre janeiro e fevereiro deste ano, quando foram convocados 61 mototaxistas. Atualmente, das 2.995 vagas disponibilizadas pela prefeitura, 1.276 estão preenchidas (cerca de 50,5%), número menor do que os 1.330 declarados pelo Sindicato dos Mototaxistas da Bahia (Sindmoto-BA), em agosto de 2019.

Para Clemilton Almeida, gestor da Coordenadoria de Táxis e Transportes Especiais (Cotae), uma das principais vantagens em ser regularizado é a possibilidade de aproveitar os benefícios garantidos pela lei do mototáxi (nº 9149/2016), decretada em 2016. “Os mototaxistas regularizados têm benefícios sociais da prefeitura, como linhas de crédito e convênios. Em eventos como Carnaval, Réveillon e Festa do Bonfim, por exemplo, oferecemos acessos aos bloqueios e pontos exclusivos”, afirma Almeida.

Contudo, o mototaxista Jeorge Gregory, 44, regulamentado desde 2006, dez anos antes da “Lei do mototáxi”, diz que esse benefício foi impactado pela pandemia. “O mototaxista regularizado agora não vê mais quase nenhum benefício da prefeitura. Por isso muitas pessoas não fazem questão de se regularizar. No entanto, quem faz isso se destaca com os clientes", assinala.

Quem está regularizado também pode trabalhar por meio do aplicativo Giross, que funciona desde 2019 na capital baiana. O sistema, desenvolvido pelo engenheiro Felipe Martins, atende a mais de 200 empresas que dependem de mototáxis e motofretes. A startup responsável pelo Giross afirma oferecer benefícios para os profissionais mais bem avaliados, como a revisão mecânica total da motocicleta até vale-refeição.

Mas, para o mototaxista Luís Claudio Capinan, o sistema apresenta desvantagens no custo operacional. "O problema de qualquer aplicativo é que as corridas são mais baratas do que o que cobramos no ponto. Com a gasolina cada vez mais cara e a falta de passageiros, não compensa usar aplicativo e ainda pagar uma taxa por cada corrida que fizer”, diz. Para ele, é hora de essa operação ser de iniciativa pública. “Se fosse um aplicativo da prefeitura, sem taxas para os mototaxistas regularizados, seria interessante e um incentivo para ser um profissional regularizado", diz.

Quanto a isso, Jeorge Gregory ainda destaca as dificuldades financeiras provocadas pela menor circulação de pessoas nas ruas durante a pandemia, o que complicam a situação de quem quer seguir as regras. "A frota tem que ser renovada em cinco anos. Minha moto, de 2015, precisa ser trocada até 2020 por exigência da lei. Mas nessa pandemia o movimento nas ruas caiu muito. Lutamos por condições melhores ou por isenções maiores para conseguir comprar nova moto e rodar dentro da lei", reivindica Gregory.

A Secretaria de Mobilidade de Salvador (Semob) diz que a última inspeção dos veículos ocorreu no 1º semestre de 2019. “Em virtude da pandemia, não houve vistoria no ano passado. Em 2021, a inspeção está prevista para o 2º semestre”, diz o órgão.

Mesmo com a pandemia, a fiscalização continua. Em 2020, foram 138 motos irregulares removidas ao pátio da Transalvador, e no 1º trimestre de 2021 foram 34 motos apreendidas.

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