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'Golpe do Pix': ex-cabo da PM buscava ajuda após despejo com o filho

Antonio Paulo Hohenfeld diz ter procurado emissora por moradia e assistência para o filho deficiente

Por Leo Moreira e Thiago Conceição

29/03/2023 - 16:00 h | Atualizada em 29/03/2023 - 17:09
Imagem ilustrativa da imagem 'Golpe do Pix': ex-cabo da PM buscava ajuda após despejo com o filho
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O ex-cabo da Polícia Militar (PM) Antonio Paulo Hohenfeld, uma das vítimas do suposto desvio de doações em campanhas da Record TV Itapoan, disse ao Portal A TARDE que procurou a equipe da emissora para pedir ajuda após ser despejado do local onde morava com o filho deficiente, em novembro de 2022. A exemplo de Hohenfeld, até o momento, pelo menos 15 casos do chamado 'escândalo do Pix' são investigados pela Polícia Civil.

O pai do Arthur de Jesus, de 8 anos, que tem dermatite atópica crônica, síndrome de Jô e síndrome de Hiper-IgE, que causam feridas graves na pele e em órgãos, soube no dia 22 de novembro do último ano que teria que deixar o Clube de Sargentos da Bahia, no Chame-Chame (Salvador). Sem ter um lugar para ficar com o garoto, no mesmo dia, fez contato com uma equipe de reportagem do veículo de comunicação envolvido na situação.

O objetivo era conseguir uma ajuda financeira para a moradia e custeio do tratamento de saúde do filho, que fez procedimentos médicos e usa medicação para o tratamento de abscessos em regiões como a dos olhos. Demitido da Polícia Militar em 1994, após participar de um movimento grevista, ele ainda tinha em mente usar o alcance da audiência local para pedir o avanço de um pedido de anistia enviado para o governo baiano.

Na frente do Clube, por volta das 11 horas, o militar encontrou os profissionais da emissora de televisão. Naquele momento, com o filho nos braços e em situação de despejo, foi informado de que um número de Pix da empresa seria colocado no ar para as pessoas que desejassem ajudá-los. Sem conhecer o número, ele não foi informado de que mais tarde receberia algum documento de prestação de contas da campanha. Foi o primeiro contato com o repórter que comandou a pauta.

"Sou vítima do escândalo do Pix. Procurei a Record no dia 22 de novembro de 2022. Levei duas horas e meia de reportagem, explicando a situação do meu filho. Ao invés de colocar o meu Pix, o repórter colocou o Pix que seria da emissora, como mostra a gravação de um dos programas da rede daquela data, que foi ao ar do meio-dia até às 14 horas e 45 minutos. Já fiz o meu depoimento na Delegacia da Mouraria. Espero o ressarcimento de todas as doações feitas pelos telespectadores e pelos colegas policiais para o tratamento de meu filho", disse o ex-cabo.

Suspeita

Ainda ao Portal A TARDE, Hohenfeld explicou que após a realização da transmissão ao vivo, recebeu da reportagem da Record TV Itapoan o valor de R$ 15.671,53, em transferência feita através de Pix. Ele foi informado de que o valor foi o total conseguido até às 16 horas e 45 minutos do mesmo dia da gravação da reportagem.

"O Pix foi apresentado na chamada da matéria, enquanto eu chorava, pedia uma solução para a minha questão, em especial para o meu filho. E colegas [policiais] ficaram comovidos com a situação, fizeram doações. Um e outro ainda falaram da transferência de R$ 3 mil, R$ 2 mil. Então achei estranho o valor final, sem a apresentação de nenhum comprovante das transações que foram feitas até aquele momento", disse o pai do garoto Arthur.

Após a conclusão da reportagem pela TV, o ex-cabo disse que o repórter, junto com os demais membros da equipe que cobriram a sua história, entraram no carro e foram embora sem fazer um comentário sobre a forma de prestação de contas das doações que estavam sendo recebidas pelo mecanismo financeiro.

Imagem ilustrativa da imagem 'Golpe do Pix': ex-cabo da PM buscava ajuda após despejo com o filho
| Foto: Reprodução / Arquivo Pessoal

Enquanto espera pelo desfecho do caso, Hohenfeld tenta obter ajuda para o filho por meio de organizações sociais e militares. Apenas com a medicação fixa para o tratamento de saúde do filho, ele mostrou ao Portal A TARDE notas e comprovantes fiscais que somam R$ 400 por mês, em média. No entanto, por causa das condições causadas pelas síndromes, Arthur ainda precisa do acompanhamento constante e chega a fazer procedimentos médicos para amenizar quadros mais graves de abscessos.

Investigação

Hohenfeld fez o relato do caso para o delegado Charles Leão, da Delegacia de Repressão aos Crimes de Estelionato por Meio Eletrônico (DreofCiber), em Nazaré, no último dia 17.

"A DreofCiber investiga 15 casos possíveis de fraudes que teriam ocorrido por meio de arrecadação de doações para pessoas em estado de vulnerabilidade social, em campanhas divulgadas em uma emissora de televisão. Dois jornalistas, outros funcionários da emissora, são investigados e pessoas que cederam a chave Pix para a transação têm o nível de participação apurado. Três aparelhos celulares foram apreendidos e passaram por perícia. Demais detalhes não podem ser divulgados, pois a investigação encontra-se na fase de inteligência policial, o que demanda o sigilo necessário para a realização", disse a Polícia Civil, em nota.

A situação com a Record TV Itapoan teve início após três profissionais da emissora terem supostamente desviado cerca de R$ 800 mil em doações que seriam destinadas para uma criança em tratamento contra o câncer.

O caso foi descoberto pelo apresentador de um dos principais programas da rede, após um alerta do empresário do jogador Anderson Talisca, ex-Bahia, que fez a doação de R$ 70 mil. A Record TV Itapoan ainda abriu investigação interna sobre o episódio e formalizou o pedido de investigação às autoridades competentes.

A vítima daquele que é visto como o caso que culminou na primeira apuração por parte da empresa, além dos órgãos policiais, declarou que sua esposa entrou em contato com uma equipe de reportagem para solicitar matéria que visava a arrecadação de dinheiro para o tratamento do filho caçula do casal, que já tinha um valor pré-calculado.

Ainda com base em depoimento para os órgãos competentes, o repórter responsável pela apresentação da pauta sugeriu um número de Pix desconhecido para a doação e, após ser questionado pela família sobre o motivo, teria explicado que seria para "facilitar no controle das doações realizadas".

Com o inquérito ainda em curso, o advogado do repórter citado disse que seu cliente não tem qualquer envolvimento com o caso e nunca teve acesso à conta para onde as doações foram feitas.

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Tags:

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