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SALVADOR

Hospital é acusado de negligência

Por JORNAL A TARDE

04/02/2006 - 0:00 h

Moradores de Cajazeiras II estão indignados com o atendimento oferecido pelo Eládio Lasserre, da rede estadual da saúde



PATRICK BROCK




João Pereira dos Santos, 58 anos, chegou ao Hospital Eládio Lasserre, em Cajazeiras II, na madrugada de terça-feira. Tinha feito uma cirurgia na próstata 21 dias antes e sentiu-se mal em casa. Trinta minutos depois, segundo a família, ele morreu. A médica forneceu uma guia para a realização de autópsia e recusou-se a dar o atestado de óbito.



A família, por sua vez, recusou a autópsia e enterrou João Vaqueiro, como era conhecido, em clima de revolta.



A filha de Maria Letícia Fraga, de apenas 1 ano, passou cerca de oito horas na unidade até que recebesse atenção médica. Quando recebeu, foi colocada em um leito provisório na ala destinada a adultos.



Os casos são dois dos vários relatados pela população de Cajazeiras, que denuncia negligência no Eládio Lasserre, da Secretaria da Saúde do Estado da Bahia (Sesab). É perceptível a revolta dos moradores da comunidade com o descaso, o desrespeito e a indelicadeza com que, segundo eles, são tratados os que buscam atendimento no hospital.



Segundo Gilvanison Muniz, conselheiro de Saúde da Federação de Associações de Bairros de Salvador (Fabs), há pelo menos dez casos recentes de negligência no atendimento do Eládio Lasserre, uma de três unidades médicas em Cajazeiras (que conta com uma maternidade e uma unidade de emergência em Cajazeiras VIII). O bairro é um dos mais populosos de Salvador, com cerca de 500 mil habitantes.



A revolta com a suposta queda na qualidade do atendimento, que, segundo os moradores, já foi bem melhor, levou ao estabelecimento de uma comissão para encaminhar um ofício ao secretário da Saúde do Estado, em 17 de fevereiro, durante a Pré-Conferência Distrital de Saúde. A população quer o afastamento da direção do hospital e a apuração das denúncias de negligência.



DESRESPEITO – Bernardete Soares dos Santos, mulher de João Pereira, afirma que, em meio ao desespero dos familiares, a médica responsável pelo atendimento mandou que todos ficassem calados – enquanto o marido gritava de dor. Quando ele morreu, o tratamento recebido pelos parentes, segundo ela, foi de total desrespeito à dor da família.



“Como é que a gente vê nosso pai morrendo e mandam a gente calar a boca? Nós queremos providências, não só pelo meu pai, mas por várias outras pessoas que morreram lá”, reivindica Mônica Santos, filha de João.



Alberto Borges, 52 anos, testemunhou a negligência no atendimento a João. Ele estava no hospital por causa de uma doença, mas o médico informou que não poderia realizar o atendimento, feito apenas em casos de emergência. “Nós somos da periferia e não temos recursos. Então, eles não nos atendem”, desabafa.



Borges era uma das pessoas reunidas, ontem, na Rádio Digital, em Águas Claras. O diretor Valdir Santos conta que as pessoas têm procurado a rádio comunitária para denunciar casos de negligência no hospital.



O diretor do hospital, Marco Antônio Andrade, afirmou desconhecer as denúncias de negligência. “Não recebi nenhuma reclamação. Preciso saber os fatos para apurar caso a caso”, argumenta Andrade, que marcou uma reunião no dia 8, próxima quarta-feira, com Gilvanison Muniz para receber os dados sobre as denúncias.



Sesab informa que unidade tem função de indicar vagas



A Secretaria da Saúde do Estado da Bahia informa que o Hospital Eládio Lasserre tem administração terceirizada desde 2002 (a empresa SM venceu a licitação, na época) e atende pelo Sistema Único de Saúde, funcionando como um hospital de retaguarda – que recebe pacientes referenciados pela Central Estadual de Regulação.



A central é responsável por orientar os pacientes sobre que hospitais possuem vagas disponíveis.



De acordo com Márcia Aparecida Feistauer Gomes, diretora de Controle, Avaliação e Gestão pela Qualidade da Sesab, João Pereira dos Santos chegou ao hospital às 6h24 e faleceu às 6h35, o que contraria a versão da família de que teria agonizado por 30 minutos.



Ela explicou que é proibido liberar o corpo e o atestado de óbito em caso de morte súbita – o procedimento adequado é encaminhar para a autópsia. A família, afirma, obteve a liberação do corpo por meio de um atestado de óbito com outro médico, que acompanhava o caso.



A diretora Márcia Gomes acrescenta que a Sesab está aberta a receber novas notificações de casos semelhantes. Sobre a indelicadeza no atendimento, afirma que “a médica pode ter sido incisiva na questão do óbito”, e que “é um momento difícil, a família fica sensibilizada”. “Entendemos que haja um preconceito contra a autópsia nesses casos.”



Ainda segundo Márcia, a taxa de mortalidade no Eládio Lasserre é de 2,8% dos pacientes que entram, considerada aceitável pela Organização Mundial de Saúde (OMS). “O que a população ainda não compreendeu é que os hospitais têm perfis, e os casos que não são de média e alta complexidades não serão atendidos.



A população vê o hospital como porta de entrada ao sistema, mas a rede básica de atenção à saúde é onde deve ocorrer o primeiro atendimento”, diz.

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