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Iemanjá celebra geração da vida

JORNAL A TARDE

Por JORNAL A TARDE

02/02/2006 - 0:00 h

Festa de hoje homenageia a divindade afro-brasileira, a única a ter uma comemoração exclusiva, fora do sincretismo religioso



Cleidiana Ramos




Hoje à tarde, quando os pescadores da Colônia de Pesca Z 1, situada no Rio Vermelho, colocarem nas águas sua oferenda para Iemanjá, chegará a seu ápice uma das mais ricas celebrações religiosas da Bahia. Esta é a única festa com data específica para uma divindade das religiões afro-brasileiras. Todas as outras sempre estão associadas a um culto católico, como a comemoração a Iansã em conjunto com Santa Bárbara, em 4 de dezembro.



“A festa de Iemanjá é uma celebração genuinamente afro-brasileira. A celebração durante todo o dia é como se fosse a transferência de um terreiro para o Rio Vermelho. Há vários rituais.



E o detalhe interessante é que, na fila para depositar os presentes, tem gente de todas as classes sociais, numa amostra de como esta devoção conquistou todo mundo”, diz o doutorando em história social Jaime Sodré, xicarangoma (sacerdote músico) do terreiro Tanuri Junssara e oloê (conselheiro) do Bogum.



Um outro detalhe destacado por Sodré é que a festa de Iemanjá fecha um ciclo iniciado com a Lavagem do Bonfim. “O sagrado feminino está presente nas mais variadas manifestações religiosas.



Desta forma, assim como se desce para a Cidade Baixa para saudar o pai, no caso Oxalá, se vai para a Cidade Alta para se louvar a mãe. Nesses intervalos, tem as festas dos filhos, uma representação de toda a família”, explica Sodré.



A festa da divindade é também a da busca da bênção por fartura, no caso o peixe, o que torna os pescadores os maiores organizadores da reverência a ela. “Os pescadores escolhem um local especial para colocar o presente, que é exatamente aquele em que os peixes procriam. Ou seja: aí está mais uma vez o símbolo de Iemanjá como poder gerador de vida”, acrescenta.

 

GLOBALIZAÇÃO – Além disso, Iemanjá acabou reunindo personagens de três tradições religiosas: orixá, inquice e vodun do candomblé, a mãe d’água dos indígenas e a sereia européia. Não é à toa que seu culto já conquistou o Brasil inteiro e começa a se expandir até para outros países.



“Na passagem de um ano para o outro, em todo o litoral brasileiro, muita gente vai colocar presentes para Iemanjá no mar e buscar sua proteção. No Uruguai existe uma celebração a Iemanjá que se tornou a maior festa popular deles”, relata o chefe do departamento de antropologia da Ufba e ogã do terreiro Casa Branca, Ordep Serra.



Segundo Serra, no Brasil, a reverência a Iemanjá dos iorubás ofuscou Olokum, que era a antiga divindade com domínio sobre os mares. “Na Nigéria, ela é uma ninfa do Rio Ogum. Aqui, ela acabou ganhando uma supremacia sobre a água salgada”, completa.



Ela é também cultuada na tradição angola, na qual recebe o nome de Kayala e Kokueto. Na jeje, faz parte do grupo das chamadas Saboses. Em todas elas, recebe o mesmo privilégio de mãe, por excelência, inclusive de todas as outras divindades. É também considerada a protetora da cabeça. 



Divindade mistura crenças



Há um mito iorubá que diz que Iemanjá foi ameaçada de ser violentada por seu filho primogênito, chamado Origan. Em fuga, desesperada, ela tropeçou e seus seios se partiram, derramando as outras divindades e os rios.



“É um mito cheio de simbologia. Origan representa as montanhas, e Iemanjá é o elemento líquido que acaba vencendo um obstáculo à primeira vista intransponível”, explica doutorando em história social Jaime Sodré.



O chefe do departamento de antropologia da Ufba e ogã do terreiro Casa Branca, Ordep Serra, destaca que Iemanjá é saudada por esse motivo como a “mãe dos seios lacrimosos”. Representada na África como uma divindade com fartos seios, no Brasil a imagem de Iemanjá vai ganhar contornos europeus – seu corpo é metade peixe, como o das míticas sereias – e indígenas, por meio dos cabelos negros e lisos.



“Tem também uma famosa imagem de Iemanjá, vestida de azul, saindo das águas, que é muito celebrada pelo pessoal de umbanda”, completa Jaime Sodré.



“Ela é a maternidade generosa, a grande mãe que abraça sempre todos os filhos. Embora não seja tão vaidosa como Dandalunda, a Oxum dos iorubás, tem também sua vaidade. Não é à toa que lhe dão perfumes, pentes e espelhos”, relata Anselmo dos Santos, tata de inquice do terreiro Mokambo, localizado no Trobogy. Seu cargo é o maior na hierarquia da casa, de nação angola.



Saiba mais



As marcas de Iemanjá:



Cores: prateado, azul claro e transparente.

Saudação: Odoyá, na tradição ketu, e Kiua Kayala mameto mazenza, na angola.

Dia da semana: sábado.

Comidas: pata, galinha, peixe, milho branco, preparado com azeite doce, camarão e cebola, entre outras.

 

  • Expressões utilizadas no culto afro Nação: designação para identificar a origem da tradição do culto. No caso da Bahia existem angola, jeje e ketu. A angola é a herdada dos povos da área correspondente a onde hoje está Angola. Reúne as etnias que usam como idioma a família lingüística banto; a jeje é correspondente ao antigo Reino do Daomé, hoje Benin, e tem como idioma o fon ou ewé; a ketu é a herança da área que corresponde hoje à Nigéria e que tem como língua o iorubá. Inquice: nome das divindades no candomblé de nação angola. Orixá: nome das divindades no candomblé de nação ketu. Vodu: nome das divindades no candomblé de nação jeje. Terreiro: Espaço sagrado para a realização de rituais religiosos, onde se mantêm edificações para culto e também de moradia temporária ou permanente de sacerdotes do candomblé. Está dividido em dois espaços: o social, que é aberto para a freqüência de qualquer pessoa, e o fechado, só permitido para iniciados. Fontes: Candomblé – Diálogos fraternos contra a intolerância religiosa, Rafael Soares de Oliveira (org.); DP&A e Koinonia, Jaime Sodré, doutorando em História Social, xicarangoma (sacerdote músico) do terreiro Tanuri Junssara e oloê (conselheiro) do Bogum Dicas
  • Leve só o necessário à festa, como uma cópia da identidade e o dinheiro para os gastos do dia. A multidão facilita a ação de batedores de carteira.
  • Câmeras fotográficas e filmadoras, só se você estiver num lugar que considere seguro, como uma festa particular, um espaço com policiais à vista ou uma área mais tranqüila. Evite as aglomerações, que podem estragar a sua foto e até ocultar a ação dos gatunos de sempre.
  • Se você é de fora da cidade, cuidado com as comidas que consumir na festa. Lembre-se de que estamos no auge do verão e a temperatura chega fácil aos 36 graus Centígrados. Prefira comidas leves.
  • Peça copos para tomar a sua cerveja. Se não for possível, fique de olho na limpeza da latinha. Nem sempre a água usada para gelar as latas é de pureza confiável.
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