Inversão térmica pode ter provocado mau cheiro em Salvador

>>Pesquisador critica falta de monitoramento da qualidade do ar
>>Você sentiu cheiro de produto químico no seu bairro?

Em pelo menos 12 bairros de Salvador, a terça-feira começou com um cheiro diferente no ar. O odor era forte, desagradável e pelos locais onde tirou soteropolitanos da cama, entre 4h e 5h da madrugada, ganhou descrições distintas, embora os relatos, em geral, concluíssem se tratar de um produto químico.

O mau cheiro permaneceu misterioso até a tarde de terça, dia 31, quando o Instituto do Meio Ambiente (IMA), por meio de nota técnica divulgada no site institucional, deu uma possível explicação para o acontecimento: “O odor pode ter sido causado por fontes de emissões urbanas, principalmente veiculares, e de decomposição de esgotos a céu aberto, possivelmente potencializadas pelo fenômeno de inversão térmica e calmarias, na região de Salvador”, lia-se na nota.

POLO – O IMA descartou a possibilidade de que o odor pudesse ter origem no Polo Petroquímico de Camaçari. Segundo a nota, o ar daquela região não sofreu qualquer anormalidade na emissão de poluentes. A versão foi confirmada pela Empresa de Proteção Ambiental do Polo (Cetrel), responsável por monitorar o ar e a água em dez estações da região. “Os níveis estão normais, nada foi identificado”, informou a assessora da Cetrel, Andréa Bessa.

O Instituto de Gestão das Águas e Climas (Ingá) deu explicação semelhante à do IMA para o mau cheiro que tomou boa parte da capital baiana. Segundo o meteorologista da instituição, Heráclio Alves, o calor deve ter aumentado o nível de decomposição de matéria orgânica de esgotos a céu aberto. O fenômeno natural da inversão térmica, diz Heráclio, acontece “quase todos os dias em Salvador e ele não permite que os poluentes urbanos se dissipem”.

Explicações científicas à parte, o mau cheiro chegou a bairros distantes entre si, dos populares aos nobres, dos centrais aos periféricos. Alcançou o Rio Vermelho, Iguatemi, Itaigara, Pau da Lima, Pernambués, Santo Antônio do Carmo, Stiep, Vila Laura, Vasco da Gama, Federação, São Caetano e o Uruguai. Espalhou-se rápido e dissipou-se rápido. Quem sentiu o fedor disse que ele começou entre as 4h e 5h da manhã e que às 7h já havia se dissipado.

Uma das pessoas que se comunicaram com A TARDE para reclamar do mau cheiro foi a engenheira eletricista Fátima Carvalho, 48 anos, moradora da Rua Itabuna, no Rio Vermelho. “Acordei às 4h da manhã por causa desse cheiro forte. Primeiro achei que era arroz queimado, mas tinha de ser muito arroz... Então pensei que pudesse ter alguma relação com o polo petroquímico”, afirmou. Na rua dela, Regina Maria dos Santos, 54, também sentiu o mau cheiro.

Regina trabalha no Rio Vermelho, mas mora no Condomínio Vivendas do Iguatemi. “Quando acordei para andar, às 5h da manhã, senti um cheiro de folha apodrecida, de enxofre. Fiquei com dor de cabeça”, contou. O odor também causou mal-estar a duas vizinhas de Regina. A dona-de-casa Rita Paranhos, 64, foi acordada pelo fedor e sentindo dor de cabeça. “Tinha um cheiro de rato morto, depois pensei que fosse gás de cozinha. Cheguei a lavar a casa toda, pensando que fosse só aqui”, contou.

OUTRA VEZ – A vizinha de porta de dona Rita, Maria Lúcia Barbosa, 68, disse que não foi a primeira vez que sentiu o odor, que, para ela, parece aquele cheiro de combustível de carro quando o motorista dá a partida no motor, só que “mil vezes mais forte”. “Já senti outras vezes, mas é a segunda vez que ele vem com mais intensidade”, disse Maria Lúcia.