SALVADOR
Julho Coração Azul ataca tráfico de pessoas
Campanha Ação é lançada hoje na Bahia pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos e Prefeitura de Lauro de Freitas
Por Madson Souza
Foram 76 casos de baianos vítimas do tráfico de pessoas no primeiro semestre de 2024, conforme números contabilizados pela Secretaria de Justiça e Direitos Humanos (SJDH). Para conscientizar as pessoas sobre o tema, hoje é lançada na Bahia a campanha internacional “Julho Coração Azul”. A coordenação da iniciativa é da SJDH, através do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas (NETP). A Prefeitura de Lauro de Freitas também atua na campanha por meio da Secretaria de Políticas Afirmativas, Direitos Humanos e Promoção da Igualdade Racial (SEPADHIR) e do primeiro Núcleo Municipal de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas.
O tráfico de pessoas com finalidade de trabalho em condição análoga a escravidão (74) são mais registrados que os casos de tráfico de pessoas para exploração sexual (2) na Bahia. Homens negros entre 15 e 30 anos são a parcela da população mais vitimizada por esses crimes no Estado.
Conforme a coordenadora do Núcleo de Enfrentamento ao Tráfico de Pessoas e Trabalho Escravo da SJDH, Hildete Nogueira, os dados não são um ponto final sobre o assunto. “Esses números de fato não retratam a realidade. Eles revelam o que a gente enquanto núcleo acompanha. Mas os casos de tráfico de pessoas são maiores que esses números”.
Ela explica que há uma subnotificação muito grande nos casos de exploração sexual, porque há um forte medo de fazer a denúncia. “Muitas mulheres que são traficadas com esse fim têm muito medo de fazer a denúncia. O fato delas estarem sozinhas ou no máximo com uma outra mulher pesa muito também. Por isso que a gente precisa estimular cada vez mais a denúncia”.
Conscientização
Com o intuito de conscientizar sobre o crime de tráfico de pessoas, parte da campanha “Julho Coração Azul” envolve exibir mensagens em estádios de futebol, escolas, estações de metrô e pontos de grande movimentação. Em parceria com o NETP, de Lauro de Freitas, também está planejado um seminário da Campanha. Um plano nacional de enfrentamento ao tráfico de pessoas também será lançado, no dia 30 de julho, em Brasília.
Para Gláucio Bezerra, coordenador do NEPT de Lauro de Freitas, esse aspecto de conscientização da campanha é fundamental. “É preciso mostrar para as pessoas que o trabalho análogo a escravidão existe, que o tráfico de pessoas para a exploração sexual existe. Mesmo no século XXI ainda lidamos com essas coisas”, afirma.
O exemplo vivo de que esses crimes não são coisa de novela é a história de Luiz Henrique Goes. Em janeiro de 2023 ele saiu da Bahia e foi para Bento Gonçalves, no Rio Grande do Sul, com a promessa de trabalho. Ele viveu em situação de trabalho análoga à escravidão de 5 de janeiro - quando chegou lá - até 23 de fevereiro, quando foi resgatado.
“Na hora o cara desaba. Você saiu por uma oportunidade pra trazer dinheiro pra sua família e quando vê está numa situação de violência física e psicológica”. Vivendo em condições de insalubridade e impedido de voltar por falta de dinheiro, Luiz Henrique foi um dos 196 baianos retirados dessa situação.
Hoje, ele trabalha no NETP - que tem como uma de suas funções o pós-resgate dessas vítimas com suporte para saúde, educação, trabalho e mais - de Lauro de Freitas e age como militante contra o tráfico de pessoas. “Hoje uso a dor que eu sofri como arma para poder bater de frente com essa prática”, comenta.
Estímulo à denúncia
Para além da conscientização, o estímulo à denúncia é um dos pontos da Campanha na Bahia, conforme Hildete Nogueira. “O telefone celular, com número de whatsapp, é uma novidade que estamos lançando para facilitar esse contato”.
Os canais oficiais de denúncias são o disque 100 e disque 180. Além deles há também contatos para suporte e orientação, como o telefone fixo do NETP (71) 3266-0131, e o Whatsapp 982340677; além do Casarão da Diversidade, que fica na Rua do Tijolo, 8, no Pelourinho, para contato presencial.
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