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SOLIDARIEDADE

Lar Amor é Vida vive dias de incertezas às vésperas do Natal

Instituição acolhe gestantes, mães, bebês e idosos em situação de vulnerabilidade social

Por Da Redação

24/11/2022 - 19:59 h
Imagem ilustrativa da imagem Lar Amor é Vida vive dias de incertezas às vésperas do Natal
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O número 307 da rua Jardim Santa Helena, entre o Horto Florestal e o bairro de Brotas, nos fundos do Hospital Geral do Estado (HGE), é um daqueles lugares da velha São Salvador que vale a pena conhecer. Sob o teto do “Lar Amor é Vida” vive uma grande família. Na verdade, uma família gigantesca e que vai além dos padrões convencionais. Ali convivem em paz e harmonia mais de uma centena de pessoas com idades que variam entre zero e 90 anos.

São gestantes e mães, bisnetos, filhos e bisavós que circulam pelos alojamentos, entre plantas, aves, cães e gatos com a tranquilidade de quem se sente absolutamente em casa.

E quem não se sentiria, com roupa lavada, café da manhã, merenda, almoço, lanche e jantar? Tudo servido religiosamente nas áreas comuns, refeitórios ou, se o “hóspede” preferir ou necessitar, no conforto da cama de lençóis brancos e engomados.

O Lar Amor é Vida é muito mais que uma Organização Não Governamental criada no início da década de 1990 em terreno invadido por um jovem idealista que escolheu a solidariedade como missão. Ali é o endereço que garante dignidade para mães e bebês em situação de extrema vulnerabilidade social, idosos solitários sem renda suficiente para uma vida digna e independente e adolescentes em busca de uma razão para seguir lutando contra os números frios e realistas das estatísticas sociais.

Passados mais de 30 anos, casado e pai de cinco filhas, o pastor Paulo Brito, 48, sente que ainda tem muito o que fazer. “Todos os dias eu olho no espelho e digo para mim mesmo: não desista”, confessa com semblante cheio de incertezas em relação a Ceia do Natal 2022. E o Ano Novo? Bom, melhor enfrentar uma dificuldade de cada vez. E por falar em perrengue, Paulo interrompe a entrevista para resolver um problema rotineiro: descobrir como pagar o Uber que acabou de trazer mais um idoso. A sorte é que o serviço por aplicativo protela a dívida até a próxima corrida. Vida que segue.

Cadê Noel?

É isso. Imediatismo é a palavra de ordem no Lar Amor é Vida e quem dera nesse Natal tudo se resumisse a uma conta de Uber. “Precisamos de todas as formas de doação. Desde recursos financeiros para quitarmos obrigações fixas, bem como fraldas infantis e geriátricas, gêneros alimentícios, peças de vestuário de todos os tamanhos, produtos de limpeza e de higiene pessoal e até do trabalho voluntário de contadores de história e arte educadores”, pontua Paulo Brito, o único habitante homem na "Casa das Sete Mulheres".

Explica-se. Paulo mora com a esposa Luciana e suas cinco filhas (de 9, 10, 12, 15 e 21 anos), além da sogra. “Como se vê sou um homem de fé”, brinca o gestor da Instituição Missão Resgate a Vida, nome jurídico da ONG que atualmente atende em média 120 pessoas por mês.

Estrutura de uma grande família

A ideia de uma casa de família, em contraponto aos abrigos, creches, orfanatos e asilos tradicionais, sempre foi uma fixação de Paulo Brito desde que ele iniciou o projeto na inocência de seus 17 anos, inspirado pelos ensinamentos do pastor Damião que, por sorte e obra do destino, hoje é um dos anciões acolhidos pelo Lar Vida é Amor.

Embora a convivência e a interação entre os diferentes sejam ingredientes que compõem a fórmula da felicidade do Lar Amor é Vida, a regra em tempos de Covid 19 é cada um no seu quadrado. Enquanto homens de 60 a 90 anos ocupam os dois aposentos (com banheiros individuais) do pavimento térreo, onde assistem compenetrados aos jogos da Copa do Mundo de Futebol, as senhorinhas descansam em berço esplêndido nos dois cômodos estrategicamente divididos do andar superior, onde dona Ana Elvira, 85 anos, está prestes a colorir sua 65° mandala, terapia que a mantém ocupada e que sustenta o status de grande artista entre as alegres, exigentes e desconfiadas companheiras de quarto Por motivos óbvios, os dois alojamentos estão próximos da farmácia.

Os poucos adolescentes que ainda restam na casa (já foram quase duas centenas), ocupam espaço vizinho aos dos homens da Terceira Idade.

O restante do complexo é acessado por uma charmosa ponte de madeira que leva o visitante ao pátio. Ao lado esquerdo está a lavanderia, o fraldário, um pequeno escritório que serve à administração e uma escada de degraus curtos que termina na “Casa das Sete Mulheres”.

Do outro lado do pátio fica o edifício com 18 apartamentos destinados a gestantes, mães e filhos desemparadalos, todas vítimas do abandono dos companheiros e familiares e invisibilizadas pelas mesmas políticas públicas que deveriam protegê-las. “Amparamos estas mulheres durante toda a gestação até o nascimento de seus filhos. Eles permanecem por aqui até encontrarem uma solução digna para suas vidas”, pontua Paulo Brito.

Padrinhos

O Lar que já acolheu mais de 450 pessoas ao mesmo tempo, teve que puxar o freio de mão, pois em tempos de inflação e incertezas o primeiro corte é na doação. “As pessoas encontram nossa casa limpa, higienizada, sem aquele cheiro característico de locais que mais parecem depósitos de seres humanos, e pensam que estamos vivemos o melhor dos mundos. Mas é tudo na base do sacrifício. Dependemos dos padrinhos que financiam os estudos de muitos de nossos jovens, das empresas com responsabilidade social e do cidadão e cidadã que tem empatia pelo seu semelhante”, descreve o pastor Paulo Brito, lembrando que os idosos, pensionistas ou aposentados, colaboram, por Lei, com 70% do salário. O restante, obrigatoriamente, é destinado a família. “Só que na maioria das vezes o idoso recebe salário mínimo ou até menos e o custo para mantê-lo é três vezes maior”, explica Paulo Brito

Mesmo na dificuldade, crianças e adolescentes atendidas pelo Lar Amor é Vida, seguem cursando o ensino fundamental e médio graças a doação de bolsas pelas escolas parceiras e o apadrinhamento de anônimos.

O enxugado e insuficiente quadro de funcionários é outra dor de cabeça constante. “Na verdade, nenhum abrigo consegue atender os padrões exigidos por Lei. Nosso quadro tem apenas cinco funcionários (dois técnicos de enfermagem, cozinheira e dois enfermeiros), e 12 prestadores de serviços distribuídos entre a faxina, lavanderia, portaria, cozinha e o trabalho de cuidador”, salienta o pastor.

Acompanhantes encontram abrigo na Casa da Esperança

Mas quem pensa que as dificuldades do dia-a-dia são suficientes para fazer o pastor Paulo Brito desistir de sua missão, está muito enganado. Com a experiência própria de quem foi o 25° filho de uma família modesta, ele segue buscando parcerias com a mesma volúpia com que encara novos desafios.

Não satisfeito em acolher pessoas de todas as idades, percebeu que o ponto de ônibus nas imediações do HGE era o único teto disponível para abrigar as famílias que vinham do interior em busca de tratamento médico na unidade de saúde mais concorrida do estado.

Incomodado com a situação de mães, pais e filhos que encaravam noites de frio e chuva num desprotegido ponto de ônibus, ele criou a Casa da Esperança, localizada no ponto mais alto do terreno e bem mais próxima do hospital.

E é o próprio serviço social do HGE que encaminha os familiares dos pacientes para a Casa Esperança, onde o serviço de acolhimento é totalmente gratuito.

Na casa, além de camas e banheiros para homens e mulheres, é disponibilizada cozinha completa, onde os próprios "hóspedes" preparam suas refeições.

Dona Silvana Gomes de Jesus, 47, chegou de Jacobina há mais de um mês para acompanhar a recuperação do filho Adailton, 25, vitimado por um acidente de moto. "Isso aqui é maravilhoso. Não pagamos um centavo de diária. Tem até lugar para lavar e secar a roupa", sentencia Silvana, já com o coração de mãe aliviado com a boa recuperação de Adailton.

A manutenção dessa casa de acolhimento (água, luz, transporte para retorno ao interior e parte da alimentação) só é possível graças a parceria com a Fundacem, instituição que em contrapartida mantém cursos de especialização em gestão pública em um dos prédios do complexo que compõem o Lar Amor e Vida.

"Estamos no limite. Precisamos de toda e qualquer ajuda. Contamos com a solidariedade e boa vontade do povo da Bahia para seguirmos com a missão de acolher e amar ao próximo sem distinção. Desejo a todos um Feliz Natal e um Ano Novo mais solidário, justo e de realizações", finaliza o incansável e obstinado pastor Paulo Brito.

Doações

As doações para o Lar Amor é Vida devem ser entregues na própria sede da instituição, ou através da conta corrente 49072-5 agência 3173-9 do Banco Bradesco.

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