SALVADOR
Legado de Makota Valdina é destacado em sepultamento
Por Juliana Salles*

Educadora, militante do Movimento Negro e porta-voz das religiões de matriz africana, Valdina de Oliveira Pinto, conhecida como Makota Valdina, foi sepultada na tarde desta terça-feira, 19, no cemitério Jardim da Saudade, no bairro de Brotas, em Salvador.
Com vestimentas brancas e sob forte comoção, seguiram em cortejo fúnebre familiares, amigos, praticantes do candomblé e outras autoridades como o governador Rui Costa e o senador Jaques Wagner. Durante a cerimônia, foram entoados cânticos do rito em memória da líder religiosa.
“Era uma mãe para mim. Uma mulher simples, alegre e determinada. Lutou por nós e levou nossa cultura pro mundo. Uma perda que ficará para sempre na história”, comentou Paulo Pinto, sobrinho da Makota Valdina.
A socióloga e ouvidora-geral da Defensoria Pública do Estado da Bahia, Vilma Reis, amiga de longa data da educadora, se emocionou ao lembrar situações de luta contra o racismo religioso. “Eu a considero uma guerreira que se colocou a frente e nos capacitou para agir de maneira decente mediante a intolerância e o racismo. Perdemos uma biblioteca da nossa cultura. Quando uma pessoa mais velha morre, é uma biblioteca que se queima”.
Makota faleceu na madrugada desta terça, aos 75 anos, no Hospital Teresa de Lisieux, por disfunção renal aguda. Em nota divulgada pela unidade de saúde, “a líder religiosa deu entrada há cerca de um mês com dores abdominais. Chegou a apresentar melhora, mas não resistiu”.
Trajetória
Valdina Pinto de Oliveira, nasceu em 15 de outubro de 1943 em Salvador. Ficou conhecida como Makota, pelo cargo recebido no candomblé, no terreiro angola erreiro Tanuri Junsara, no Engenho Velho da Federação, bairro onde ela nasceu.
Desde a década de 1960, esteve envolvida com ações sociais na comunidade. E sempre lutando contra a intolerância, se posicionando para as mudanças que garantissem respeito à religião. Makota reuniu conhecimentos em prol de ações efetivas para o povo negro e do candomblé, se tornando um ícone e referência contra o racismo e a intolerância.
Durante os 50 anos de ensino, compartilhou propostas educacionais que defendiam a diversidade cultural da cidade. Por sua atuação recebeu prêmios como o troféu Clementina de Jesus, da União de Negros Pela Igualdade (Unegro), Troféu Ujaama, do Grupo Cultural Olodum, Medalha Maria Quitéria, da Câmara Municipal de Salvador, e Mestra Popular do Saber, pela Fundação Gregório de Mattos. Sua trajetória foi contada no documentário “Makota Valdina: Um jeito negro de ser e viver”, vencedor do Prêmio Palmares de Comunicação, em 2005.
*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira
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