SALVADOR
Lembrança dos bondes

Por Adilson Fonsêca, do A Tarde
>> Bar do Pelé concentra bohêmios
A antiga estação de viajantes e tropeiros da década de 1940 acabou virando um bairro onde os resquícios do passado ainda são vistos nas conversas diárias. Apesar do progresso, que trouxe com ele o asfalto, a rede de esgoto, mas também a ocupação desordenada, a violência e a falta de infra-estrutura urbana, o bairro do Sertanejo ainda guarda lembranças de um passado não tão distante, quando era parada obrigatória de quem vinha do interior do Estado para a capital.
São aproximadamente 70 anos, desde que Hailton Carvalho Bonfim, 78 anos, um dos moradores mais antigos do bairro e que ainda reside no mesmo local, chegou, ainda criança, para morar em uma casa na Rua do Sertanejo (atual Doutor Estevan de Assis). A região era formada por sítios, pertencia à antiga comarca de Brotas e serviu, até 1958, como depósito de lixo.
Atualmente, a mesma geografia não mais abriga os antigos casarões de portas altas e cobertos de telha cozida, onde havia quintais e as pessoas costumavam ficar até altas horas na porta das casas jogando conversa fora. No local, casas de até quatro pavimentos coladas umas às outras. “Hoje, temos apenas as lembranças, no pensamento e nas conversas dos antigos moradores”, comenta Hailton.
ANTIGO FORNO – Localizado numa espécie de grotão entre os bairros de Cidade Nova e Pau Miúdo e a Avenida Barros Reis, o Sertanejo ficou conhecido, até meados da década de 70, como o Bairro do Forno. A denominação vinha de uma rua secundária, onde a prefeitura mantinha um incinerador de lixo, que funcionou até 1958.
Já o nome próprio do bairro, Sertanejo, tem uma outra história, conforme relatam os dois moradores mais velhos, Hailton Carvalho Bonfim, 78, e Ubirajara Carvalho, de 62 anos. Segundo os dois, na década de 40, tropeiros e caixeiros-viajantes vinham de Feira de Santana e pernoitavam num pequeno largo próximo ao leito do Rio das Tripas, onde hoje funciona a Igreja Senhor dos Passos, na Avenida Barros Reis.
Em meados da década de 60, já com a Avenida Barros Reis sendo interligada ao Retiro e à BR-324 e a construção da Estação Rodoviária no bairro das Sete Portas, a região sofreu modificações, mas o nome Sertanejo já estava consolidado. “Como todos vinham do sertão, costumávamos chamar o local de Largo do Sertanejo. E assim ficou sendo chamada toda a área ao redor, até hoje”, diz Ubirajara.
Outro fato da história do Sertanejo, relatado pelos moradores, é que toda a região de encosta, onde hoje se situam os bairros do Pau Miúdo e Cidade Nova, compunha uma pedreira, que no início da década de 60 foi desativada pelo Exército. Com isso, o bairro, que era formado basicamente por uma única rua, se expandiu pelas laterais até atingir as paredes da antiga pedreira.
BONDES – A parada de bonde no Sertanejo, nos anos 50, era uma atração para quem residia no local. Isso porque a linha, que vinha das Sete Portas, seguia pela Avenida Barros Reis até o Largo do Retiro e, de lá, para o Largo do Tanque, trazia não apenas passageiros, mas carnes e vísceras que vinham dos antigos matadouros do Largo do Retiro e das Sete Portas e Barroquinha.
O Rio das Tripas era o escoadouro natural dessas atividades, mas também porque costumava trazer novidades, que vinham com os viajantes do interior do Estado, que pernoitavam naquela área, próxima à Rodoviária, trazendo mercadorias ou aguardando embarque para suas cidades de origem. Nos anos 70, com a desativação dos bondes, o bairro também perdeu a importância como ponto de encontro de viajantes e entrou em decadência. Surgiram ocupações no alto da encosta (bairros do Pau Miúdo e Cidade Nova), e do bucolismo restaram as “estórias”.
Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.
Participe também do nosso canal no WhatsApp.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes