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SALVADOR

'Má interpretação', diz Associação de Baianas sobre festa de Donata Meirelles

Por Victor Rosa | Foto: Reprodução | Instagram

11/02/2019 - 10:29 h | Atualizada em 11/02/2019 - 11:03
Baianas defendem diretora, alegando má interpretação da foto publicada
Baianas defendem diretora, alegando má interpretação da foto publicada -

A Associação das Baianas de Acarajé, Mingau, Receptivo e Similares da Bahia (Abam) afirmou nesta segunda-feira, 11, que a repercussão em torno da festa de aniversário da diretora da revista Vogue Brasil, Donata Meirelles, não passou de uma 'má interpretação'. O evento, ocorrido na sexta, 8, e no sábado, 9, causou polêmica entre os internautas, que acusaram a aniversariante de racista.

Segundo a coordenadora da Abam, Angelimar Trindade, a associação foi contratada para fazer o receptivo da festa. Ela rebate a informação de que as baianas fizeram o papel de escravas. "As cadeiras não estavam representando escravidão, muito menos estávamos sendo submetidas ao papel de escrava. Pensar isso da gente é vergonhoso", diz Angelimar.

Donata foi acusada de racismo nas redes sociais, por fazer uma festa que remetesse à era colonial. A repercursão começou após a diretora da revista publicar uma foto sentada em uma cadeira com mulheres negras em volta.

Angelimar explica ainda que a organização do evento durou mais d eum mês, e que as cadeiras são representações do candomblé, como Donata informou em uma publicação no Instagram.

"Foram quadro cadeiras daquelas espalhadas pelo espaço da festa para as baianas sentarem. Durante a foto, nós que sugerimos que a Donata sentasse na cadeira, no centro de todas. Afinal, a aniversariante é o centro das atenções, né?", explica.

Ontem comemorei meus 50 anos em Salvador, cidade de meu marido e que tanto amo. Não era uma festa temática. Como era sexta-feira e a festa foi na Bahia, muitos convidados e o receptivo estavam de branco, como reza a tradição. Mas vale também esclarecer: nas fotos publicadas, a cadeira não era uma cadeira de Sinhá, e sim de candomblé, e as roupas não eram de mucama, mas trajes de baiana de festa. Ainda assim, se causamos uma impressão diferente dessa, peço desculpas. Respeito a Bahia, sua cultura e suas tradições, assim como as baianas, que são Patrimônio Imaterial desta terra que também considero minha e que recebem com tanto carinho os visitantes no aeroporto, nas ruas e nas festas. Mas, como dizia Juscelino, com erro não há compromisso e, como diz o samba, perdão foi feito para pedir.

Uma publicação compartilhada por donatameirelles (@donatameirelles) em

Sobre as vestimentas, Angelimar acrescenta que a diretora da Vogue Brasil não participou do processo de escolha, sendo de responsabilidade da associação. "Nós escolhemos roupas brancas com poucos adereços e tiramos os colares de Oxum, por conta da representativade. Tivemos baianas negras, brancas, gordas, magras e cristãs. Trabalhamos o máximo para todas se sentirem representadas", argumenta a coordenadora da Abam.

Repercursão

Diversos artistas se posicionaram contra o evento de aniversário da diretora da Vogue Brasil, alegando fazer parte de uma atitude racista.

A cantora Elza Soares publicou em seu Instagram uma foto sentada em uma cadeira elegante, cercada de mulheres. Na legenda, ela fala: "Hoje li sobre mais uma “cutucada” na ferida aberta do Brasil Colônia. Não faço juízo de valor sobre quem errou ou se teve intenção de errar. Faço um alerta! Quer ser elegante? Pense no quanto pode machucar o próximo, sua memória, os flagelos do seu povo, ao escolher um tema para “enfeitar” um momento feliz da vida".

Gentem, sou negra e celebro com orgulho a minha raça desde quando não era “elegante” ser negro nesse país. Quando preto não usava o elevador dos “patrões”. Quando pretos motorneiros dos bondes eram substituídos por brancos em festividades com a presença de autoridades de pele branca. Da época em que jogadores de um clube carioca passavam pô de arroz no rosto para entrarem em campo, já que não “pegava bem” ter a pele escura. Desde que os garçons de um famoso hotel carioca não atendiam pretos no restaurante. Éramos invisíveis. Celebro minha raça desde o tempo em que gravadoras não davam coquetel de lançamento para os “discos dos pretos”. Celebro minha origem ancestral desde que “música de preto” era definição de estilo musical. Grito pelo meu povo desde a época em que se um homem famoso se separasse de sua mulher para ficar com uma negra, essa ganhava o “título” de vagabunda, mas não acontecia se próxima tivesse a pele “clara”. Sou bisneta de escrava, neta de escrava forra e minha mãe conhecia na fonte as histórias sobre o flagelo do povo negro. Protesto pelos direitos da minha raça desde que preta não entrava na sala das sinhás. Gentem, essas feridas todas eu carreguei na alma e trago as cicatrizes. A maioria do povo negro brasileiro. Feridas que não se curaram e são cutucadas para mantê-las abertas demonstrando que “lugar de preto é nessa Senzala moderna”, disfarçada, à espreita, como se vigiasse nosso povo. Povo que descende em sua maioria dos negros que colonizaram e construíram o nosso país. Hoje li sobre mais uma “cutucada” na ferida aberta do Brasil Colônia. Não faço juízo de valor sobre quem errou ou se teve intenção de errar. Faço um alerta! Quer ser elegante? Pense no quanto pode machucar o próximo, sua memória, os flagelos do seu povo, ao escolher um tema para “enfeitar” um momento feliz da vida. Felicidade às custas do constrangimento do próximo, seja ele de qual raça for, não é felicidade, é dor. O limite é tênue. Elegância é ponderar, por mais inocente que sua ação pareça. A carne mais barata do mercado FOI a carne negra e agora NÃO é mais. Gritaremos isso pra quem não compreendeu ainda. Escravizar, nem de brincadeira. Seguimos em luta ✊🏾

Uma publicação compartilhada por Elza Soares (@elzasoaresoficial) em

Já a cantora Luedji Luna publicou, também no Instragm, uma foto criticando os artistas, empresários e governantes, que vêem à Bahia para férias, mas não investem no estado.

"Portanto, para os não baianos, os não negros, que tanto “amam” a Bahia, para esses que se curam nas nossas águas quentes, que se lambuzam inteiro dos nossos corpos, nosso dendê, nossa música, que saem daqui transformados, curados, com seus ebós feitos e banhos de folhas tomados, qual vai ser a devolutiva?", diz Luedji Luna na publicação.

Bahia terra da felicidade, terra mítica de livros e canções, hoje, mais do que nunca, menina dos olhos do mundo e do Brasil. Todo mundo AMA! Eu também, a despeito de sua polícia, uma das mais violentas e genocidas do Brasil, do apartheid velado, da velha política do pão e circo dos seus governantes brancos(numa capital cuja população é 80% negra, diga-se de passagem), das suas rainhas brancas(numa capital cuja população é 80% negra, diga-se de passagem), eu AMO mesmo! Amo, porque conheço o fundamento desse seu “jeito que nenhuma terra tem”. Pois esse “jeito”, essa mágica, esse axé, esse senso de acolhimento e solidariedade estão fundamentados em África, pai! Sem esses princípios, os 80% de pessoas negras nessa cidade não sobrevivem/veriam pós (re)colonização, sem o senso de comunidade, a gente não sobrevive/veria! Essa Bahia generosa, acolhedora, amorosa, essa Bahia mágica e cheia de axé assim é por uma única e estrita razão: porque ela é NEGRA! Portanto, para os não baianos, os não negros, que tanto “amam” a Bahia, para esses que se curam nas nossas águas quentes, que se lambuzam inteiro dos nossos corpos, nosso dendê, nossa música, que saem daqui transformados, curados, com seus ebós feitos e banhos de folhas tomados, qual vai ser a devolutiva? Quantos empresários desses estão efetivamente investindo na Bahia? (não a Bahia branca das televisões, mas a Bahia profunda, a Bahia preta). Cadê os empresários investindo nos blocos afros de Salvador, que entra ano, sai ano, nunca têm verba? Quantas artistas pretas baianas foram visibilizadas em suas revistas, e televisões? Onde estavam os empresários, artistas e famosos “adeptos” do candomblé quando o terreiro @casadomensageiro foi invadido e seu sacerdote máximo agredido por bandidos, ou quando a prefeitura da capital apaga deliberadamente as luzes que iluminam os Orixás no Dique do Tororó? Onde estavam cada uma dessas pessoas na defesa das religiões de matrizes africanas que tanto AMAM/USAM/ FOLCLORIZAM? Vcs podem substituir o “amor” de vcs pela cultura baiana, por RESPEITO, por exemplo. E dinheiro! Sim, dinheiro também!

Uma publicação compartilhada por Luedji Luna (@luedjiluna) em

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