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Maioria dos pontos de Salvador não conta com abrigo para passageiros

Publicado quarta-feira, 18 de junho de 2008 às 19:39 h | Atualizado em 18/06/2008, 20:49 | Autor: Carolina Mendonça, do A TARDE On Line

O passeio e um pequeno poste com uma placa indicativa. Esta é a configuração de 61% dos pontos de ônibus de Salvador, de acordo com a Superintendência de Transporte Público (STP) do município. Percorrendo a cidade, é comum encontrar passageiros esperando o coletivo de pé e sem qualquer tipo de proteção contra as intempéries do clima. Os números do órgão apontam que, dos 2.736 pontos de ônibus da capital, apenas 1.050 têm abrigo.



Segundo a STP, o problema não seria causado apenas por falta de vontade política. De acordo com a assessora da gerência de projetos da STP, Grace Marinho, ainda que houvesse recurso, não seria possível equipar todas as paradas, por conta da formação urbanística desordenada de Salvador. Dessa forma, muitos dos “desabrigados” não teriam como ser equipados, pois estão localizados em ruas sem espaço suficiente para a construção de coberturas e colocação de assentos.



Algumas paradas, no entanto, teriam plenas condições de receber estrutura adequada, mas ainda fazem os passageiros penar. É assim, por exemplo, em toda a extensão da Avenida Dom João VI, em Brotas. Uma das mais extensas da capital, a via não conta com um único abrigo para quem depende de transporte público.



A situação se repete em vários outros locais da cidade. Em dois pontos de ônibus na Orla de Itapuã, as pessoas buscam a sombra do poste de luz nos dias de sol. Nos dias de chuva, elas utilizam o muro das ruas transversais e as sombrinhas para se abrigar do aguaceiro. “Neste lugar não tem tempo bom. A melhor das hipóteses é quando fica nublado e não chove, mas mesmo assim venta muito”, queixa-se o aposentado Antônio Dantas, 72.



Revoltado com a situação, Dantas diz não entender como o problema ainda não foi resolvido. “Era só fazer um recuo no Clube e botar uma cobertura”, sugere, apontando para a sede do Cassino dos Suboficiais e Sargentos da Aeronáutica de Salvador (Cassis).



A mesma situação é enfrentada pelos passageiros que aguardam coletivos na Avenida Paralela, em frente à Faculdade Jorge Amado, no sentido Aeroporto. O ponto de ônibus fica na saída de uma passarela, que acaba sendo utilizada como abrigo. “A passarela quebra um galho, mas não resolve, pois a cobertura é alta e quando chove, molha do mesmo jeito”, reclama a estudante Josana Santos, 21. A desempregada Isaura Alves, 23, diz que além da falta de estrutura, o local é inseguro, por estar ao lado de um terreno baldio. “Fica um deserto isso aqui, dá medo”, descreve.



Já no bairro das Sete Portas, a crítica é ainda mais dura. Os passageiros, que antes contavam com a proteção, agora ficam expostos ao tempo depois que a parada de ônibus localizada na Rua J.J.Seabra foi deslocada, há cerca de um mês e meio. “A medida foi feita para melhorar o trânsito, mas ninguém pensou em um mínimo de conforto para os passageiros?”, questiona o professor Teófilo Fernandez, 51.



A falta de proteção fez a população procurar outros lugares para se abrigar, como a loja do seu Dinézio Magalhães, 60, cuja frente se confunde com o próprio ponto. “Quando dá 17, 18 horas, preciso colocar uma grande para que as pessoas não entrem aqui para esperar o transporte”, conta o comerciante.



De acordo com o gerente de projetos da STP, Moisés Brito, o ponto das Sete Portas deve receber cobertura e assentos dentro de um mês e os outros até o final de agosto. “Vamos receber as peças em julho e vamos entregar todas estas paradas equipadas”, garante.

Soluções - Para a arquiteta e mestre em Desenvolvimento Urbano Maria Gleide Santos Barreto, melhor do que intervenções esporádicas, seria adequar planejar soluções arquitetônicas de acordo com as necessidades de cada ponto de ônibus. “Não se pode fazer um único projeto para toda a cidade, pois as condições de cada local são diferentes. Na Orla venta mais do que em Brotas, por exemplo”, explica.



Na opinião de Maria Gleide, o planejamento deve ser pensado a partir das variações climáticas da cidade, da quantidade de pessoas que circulam numa parada, da acessibilidade e da segurança da população. “Pode-se optar por desenhos e materiais mais adequados, para que um ponto seja seguro, mas permita a visibilidade. Que tenha ventilação, sem que as pessoas se encharquem quando chove”, diz.

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