SALVADOR
Mais espaço para a pipoca

Por Maiza de Andrade, do A TARDE
Em clima de avaliação do Carnaval, com resultado positivo no quesito segurança (queda de 7,8% da violência) e aumento nos negócios, o prefeito João Henrique anunciou que quer aumentar o espaço das arquibancadas e das calçadas para acabar com o aperto do folião pipoca – que pula o Carnaval fora dos blocos.
Mas, para a antropóloga e estudiosa da cultura popular (autora do livro A Trama dos Tambores), Goli Guerreiro, a solução é “derrubar as cordas”. Mas, isso não significa acabar com os blocos, não.
Para ela, o desfile dos blocos, que saem na Barra – Ondina (circuito Dodô) deveria ser transferido para um local mais adequado ao formato que ganhou com a ida dos grandes blocos e dos camarotes. “A Barra virou um sambódromo, com camarotes e desfiles fechados. É um custo muito grande para a cidade, para o folião pipoca, que é maioria”.
Segundo Goli, a saída é levar o desfile da Barra para locais como a Avenida Paralela e deixar o circuito Dodô para os trios que tocam sem cordas. “Toda a estrutura que é montada na Barra poderia ir para a Paralela, só não iria o mar, porque ninguém olha mesmo, só as câmeras de TV olham para a paisagem do lado de fora da festa”, diz. Segundo ela, livre dos blocos de corda, a Barra seria território dos trios independentes, que “foi a melhor coisa deste Carnaval”, avalia.
Indoor – Deslocar o desfile dos blocos para locais chamados “indoor”, fechados, não soa estranho para o presidente da Associação dos Blocos de Trios, Fernando Bulhosa. Ele diz que a ideia já foi considerada pelo segmento como uma possibilidade , “se os órgãos públicos continuassem a ficar desligados do Carnaval”, diz, como quem faz uma ameaça.
Já para o sociólogo Jayme Sodré, em entrevista à revista Muito, do Grupo A TARDE, a solução seria os trios dos grandes blocos tocarem pelo menos um dia, sem corda. Coisa que grandes nomes como Daniela Mercury, Carlinhos Brown e Margareth Meneses já estão fazendo. O Olodum anunciou para o próximo ano a retirada das cordas no sábado, no circuito do Campo Grande.
A provocação de Sodré caberia a bandas como a Chiclete com Banana, que é das mais procuradas pelo folião pipoca. Mas Bulhosa, empresário que é, deixa claro: “Tudo bem, o Chiclete pode tocar, mas, quem vai pagar a conta?”
A mesma opinião tem o controlador dos produtos Chiclete com Banana, Joaquim Neri, para quem os blocos já fazem seu papel ao financiar as bandas que tocam também para o povão, na pipoca. Conforme Neri, o cachê do Chiclete é de R$ 300 mil para shows de duas horas e bem superior a isso para as apresentações no Carnaval, que é de cerca de seis horas. Quem se habilita?
Despreendimento – Para o presidente da empresa municipal de Turismo Saltur, Cláudio Tinôco. não tem “nenhuma condição” de a prefeitura bancar bandas como Chiclete para a pipoca pular à vontade. “Isso só pede acontecer com o despreendimento das bandas, de outra forma, alguém terá que pagar a conta”, diz.
Já o Rei Momo, Gerônimo, do alto do trono, conquistado pelo voto direto dos foliões, diz que mais que despreendimento, as grandes estrelas do Carnaval deveriam tocar um dia sem cordas como contrapartida pela prioridade que têm na cobertura da mídia e como uma forma de integração social. Gerônimo vai longe na utopia: “A primeira medida que tomaria se eu tivesse o poder, era fazer a mídia ficar intinerante para que os fominhas por TV fossem procurar as câmeras nos lugares mais inusitados, como lá em Cajazeiras”, diz.
Maioria – O secretário estadual de Cultura, Márcio Meireles, apoia-se no banco de dados Info Cultura para reforçar a necessidade de mais investimento na pipoca, que representa 60% dos foliões. A contratação de trios de melhor qualidade, e de artistas de diversos gêneros musicais, da tradição do samba ao rock foi a principal aposta da Secult. Ele destaca a importância do investimento privado, por parte dos blocos de corda, mas ressalta que é preciso inteligência para o equilíbrio entre o interesse do mercado e o público.
Meireles vê avanços no diálogo entre os segmentos envolvidos e acha que isso poderá contribuir para mudanças necessárias como o horário de desfile pelo critério de antiguidade dos blocos. “Temos que pensar nisso e também no horário das transmissões que todos disputam. No Campo Grande, o erro é começar na apoteose, diferente da Barra, onde a plateia midiática fica mais espalhada”, avalia.
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