SALVADOR
Moda 'loiro pivete' faz a cabeça de toda a periferia
Confira o relato do repórter do Massa!, Cássio Moreira, que entrou na moda durante a reportagem
Por Cássio Moreira | Portal Massa!
Pó descolorante, água oxigenada, resistência e muita pegada. Estes são os ingredientes necessários para meter o famoso 'loiro pivete' ou 'nevou', a cara dos meninos da periferia de Salvador nas festas de final de ano.
Na rua Santa Luzia, no bairro de Periperi, Subúrbio Ferroviário, Luiz Henrique 'Sapo', realiza o sonho de largar o 'saiyajin' nos jovens. Ao Portal MASSA!, ele contou que iniciou no ofício em 2008, após participar de um projeto social para aprender a cortar cabelo. Segundo o barbeiro, cerca de 20 cortes são realizados diariamente.
"Eu comecei em 2008, em março de 2008, em um projeto social, no qual o dono do projeto colocou os meninos daqui para cortar cabelo. Era ali na Praça da Revolução. Foi dali que eu aprendi, fui me dedicando. Hoje em dia estou aqui fazendo a cabeça da galera", explicou.
O processo varia de acordo com o cliente. Sapo afirma que pra ficar 'perfeito', a fórmula precisa agir por cerca de 40 minutos, no mínimo. Durante o processo, o profissional passa várias mãos do produto no cabelo, sempre supervisionando para garantir que não vai 'passar do ponto'. Segundo o barbeiro, só no último Natal, 32 clientes utilizam o estilo. O pacote completo, com descoloração e corte, sai por R$ 80.
"A gente passa um produto que protege o couro cabeludo que não deixa tanta ardência. A gente executa o corte, não passando o navalhado, porque deixa o couro cabeludo mais propício à ardência, passa o produto para fazer a proteção do couro. Em seguida vem a aplicação do produto, que deixa de 40 minutos a uma hora, a depender da grossura do fio do cabelo. Vai de cabelo para cabelo. Depois de feito, a recomendação é que hidrate o cabelo", largou o profissional do corte.
Rompendo as barreiras
Estilo favorito dos meninos, o nevou já superou barreiras, segundo o próprio Sapo, e chegou até a turma dos bairros nobres, rompendo os olhares tortos e preconceituosos da sociedade, que por muito tempo associou o platinado à marginalidade e ao crime.
"Hoje em dia é mais tranquilo, mas antigamente era muito discriminado. Diziam que era coisa de quem não prestava, de malandragem, mas acabou caindo na tendência e todo mundo está aderindo", disparou Sapo, que continuou, "diminuiu (preconceito), mas mesmo assim ainda é discriminado, mas é mais porque eles não têm a capacidade de fazer. Eu acho que é mais por isso mesmo. Vem gente até de outra cidade, até de Camaçari, desde que comecei a passar nas emissoras. A caminhada é longa", completou.
Depoimento do 'repórter Massa!
Eu, Cássio Moreira, repórter do Portal MASSA!, aproveitei e entrei na onda do nevou pela primeira vez. Cria da periferia, fiquei receoso no primeiro momento por saber na pele como o ‘saiyajin’, mas acabei embarcando na aventura e meti o platinado. O processo foi rápido, durou pouco mais de uma hora. O resultado não poderia ser melhor. O nevou pegou legal e mudou a minha cara.
Quando cheguei na minha quebrada, geral tomou um susto com o visu novo. Me senti potente e acho que essa é a magia que o nevou promove. Desperta a atenção, representa um grito de existência e se coloca como uma ferramenta no enfrentamento ao racismo. Mais que um estilo, o nevou é um grito de resistência.
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