Menu
Pesquisa
Pesquisa
Busca interna do iBahia
HOME > bahia > SALVADOR
Ouvir Compartilhar no Whatsapp Compartilhar no Facebook Compartilhar no X Compartilhar no Email

SALVADOR

Moradores de rua relocados para casas de acolhimento

JORNAL A TARDE

Por JORNAL A TARDE

24/02/2006 - 0:00 h

Sedes tem apenas 426 vagas de abrigo e a demanda aumenta durante o Carnaval



JANE FERNANDES




O reinado de Momo já começou e quem mora nas ruas do circuito carnavalesco vê a sua casa literalmente invadida pela folia. Volnei Santos, 22 anos, conhece bem essa situação. No ano passado, em vez de reclamar do barulho que o impedia de dormir, ele aproveitou para garantir um trocado catando latas. Antigo morador das redondezas da Piedade, ele atualmente está no Albergue de Roma. A julgar pela ausência desses nômades urbanos ao longo do roteiro da festa, muitos outros devem ter tomado destino semelhante.



Em ação desenvolvida pela Secretaria Municipal de Desenvolvimento Social (Sedes) e acompanhada por A TARDE, ontem pela manhã, João Régis de Moraes, 69 anos, foi o único encontrado vagando nos domínios de Momo. Velho conhecido da turma da Sedes, ele estava no Largo do Campo Grande quando a kombi passou. Em meio a frases confusas – ele parece ser vítima de transtornos mentais –, Moraes disse estar na rua há menos de uma semana e garantiu que, em breve, alugará uma nova casa. Pelo que é possível entender da sua narrativa, há 40 anos ele oscila entre um lar e a rua.



“Não gosto de ficar na rua, porque tenho muita coisa de valor”, declarou Moraes, que costuma oferecer seu trabalho de sapateiro na escadaria do Corredor da Vitória. Seu patrimônio material, no entanto, cabe em uma mochila e se resume basicamente a velhas máquinas fotográficas, que ele garante terem valor mesmo em meio aos avanços tecnológicos. Embora recuse firmemente em se identificar como morador de rua, ele estava em busca de um lugar para passar o Carnaval, pois sabe não ter condições de ficar no meio da muvuca.



Segundo Joceval Rodrigues, coordenador de acolhimento da Sedes, Moraes deve ser encaminhado para um centro de recuperação que atua em parceria com a prefeitura. Apesar de confirmar um aumento de pelo menos 30% no número de moradores de rua durante o Carnaval, Rodrigues diz que a rotina da secretaria permanece inalterada. A única mudança significativa seria o direcionamento de mais recursos para compra de passagens rodoviárias, pois a maior parte desses “novos habitantes” vem do interior baiano ou até mesmo de outros Estados.



“Ano passado acolhemos um senhor que há 15 anos sai de Santo Amaro para esmolar e catar latas no Carnaval de Salvador”, conta o coordenador. Como já era de se esperar, a maioria dos que chegam à capital baiana com o propósito de ganhar dinheiro só volta para casa quando a folia termina. No caso citado por Rodrigues, o santoamarense aproveitava o capital obtido na festa para comprar sementes e garantir o plantio da lavoura. Para que essas pessoas não passem as noites ao relento, a equipe da Sedes tenta arranjar um cantinho na Casa de Pernoite (Baixa dos Sapateiros) ou no Albergue Noturno.



No entanto, o trabalho carnavalesco não combina com a rigidez dos horários adotados nas casas de acolhimento mantidas pela prefeitura ou nas quatro unidades conveniadas. Além disso, há sempre a carência de vagas, afinal, basta conferir os números para ver que é impossível fechar a conta. Fora do período festivo, a Agência Adventista de Desenvolvimento e Recursos Assistenciais (Adra) contabilizou 1.859 soteropolitanos que não têm onde morar. Em contrapartida, o município oferece apenas 426 vagas de abrigo, o que não daria nem para atender os cerca de 600 “visitantes sem rumo” que desembarcam na cidade durante o verão.



PRESENÇA INUSITADA – Além de resolver as situações cotidianas, Rodrigues e sua equipe se depararam com um acontecimento inesperado nesse carnaval. Dez índios pataxós procuraram a Sedes, terça-feira, munidos de uma “carta de recomendação” do prefeito de Santa Cruz de Cabrália. Interessados em mostrar seu artesanato para a multidão de turistas que estará nas ruas da cidade pelos próximos dias, eles resolveram sair do extremo sul baiano para a capital. Como a secretaria não havia sido avisada da chegada dos índigenas, Camaiorá Pataxó e seus amigos artesãos ainda não conseguiram uma hospedagem definida.



“A gente fica um dia aqui e outro lá”, se queixa Camaiorá. A princípio, os índigenas ficaram hospedados em uma pousada no Stiep, mas ontem pela manhã estavam sendo levados para o Rio Vermelho, onde a prefeitura acredita que eles terão maior facilidade de deslocamento. Ao mesmo tempo que fechava a questão da hospedagem dos inesperados visitantes, Rodrigues acionava a Secretaria Municipal de Serviços Públicos (Sesp) para ajudar a resolver a outra solicitação dos pataxós. Eles precisam também de um espaço para expor e vender seus produtos e garantem que só voltam para casa quando zerarem o estoque.

Siga o A TARDE no Google Notícias e receba os principais destaques do dia.

Participe também do nosso canal no WhatsApp.

Compartilhe essa notícia com seus amigos

Compartilhar no Email Compartilhar no X Compartilhar no Facebook Compartilhar no Whatsapp

Siga nossas redes

Siga nossas redes

Publicações Relacionadas

A tarde play
Play

Veja o momento que caminhão de lixo despenca em Salvador; motorista morreu

Play

Traficantes do CV fazem refém e trocam tiros com a PM em Salvador

Play

Rodoviários reivindicam pagamento de rescisão no Iguatemi

Play

Vazamento de gás no Canela foi ato de vandalismo, diz Bahiagás

x