SALVADOR
Moradores de Stella Maris denunciam erros em requalificação
Secult informa que obras foram realizadas com licenças emitidas pelos órgãos ambientais competentes
Por Priscila Dórea
Com as obras de sua requalificação entregues há cerca de quatro meses, a orla de Stella Maris já sofre com a erosão do solo e as consequências dos erros da má execução de seu projeto, afirmam moradores.
Os problemas listados por eles são inúmeros – uma lista que tem sido enviada para a Prefeitura de Salvador com constância –, sendo o mais grave deles a retirada da plantação de restinga, que é o que impede a maré de ‘comer’ o calçadão, o mantendo protegido.
Replantar essa vegetação fazia parte da requalificação, mas meses já se passaram e nada foi feito. Resultado? Sem ela, o talude - plano de terreno inclinado que garante a estabilidade do aterro - já está cedendo e abrindo crateras na borda do calçadão.
“Queríamos essa requalificação, pedimos por ela já em 2003 através de um abaixo assinado, pois a gente queria que as obras que estavam sendo feitas no restante da orla chegasse aqui. A ideia era dar um ar de saúde e modernidade para essa região, seguimos lutando por ela por anos e, na época, realmente não tinha noção de como é requalificar uma área sensível como essa. Participei de reuniões com outros moradores, inclusive, para montar um projeto e pensar no que poderia ser feito. Mas no fim o que eles fazem é jogar concreto, não só aqui, mas em toda cidade”, lamenta a aposentada Isabel Perez, que mora há cerca de 30 anos em Stella.
Ela faz parte da Associação de Moradores, Empresários e Amigos da Orla Norte de Salvador e participa do ‘Levantamento Cotidiano’, uma ação pensada pela associação onde os moradores observam e anotam as mudanças diárias do entorno de suas casas.
“A Fundação Mário Leal Ferreira (FMLF), que sempre nos ouve e com quem temos um ótimo relacionamento, veio aqui e listou todos esses erros resultantes das obras. Eles, no entanto, não vivem esse dia a dia, então começamos a listar problemas do cotidiano, alinhamos aos erros que eles já encontraram e os temos enviado aos poucos para a prefeitura, através da Fundação. Caso providências não sejam tomadas logo, vamos ao Ministério Público”, enfatiza a aposentada Clarice Bagrichevsky, que mora há 22 anos em Stella Maris e também faz parte da associação.
Além da erosão causada pela falta de restinga, as mudas plantadas ao longo do calçadão estão todas secas, pois o enorme sistema de irrigação instalado durante a requalificação – que foi feita de Stella Maris até Ipitanga –, não funciona.
Algumas outras mudas, essas de plantas de restinga, foram plantadas de forma incorreta em um trecho e também estão morrendo. Uma rampa larga de madeira foi instalada no entorno da Barraca do Sal com o objetivo de auxiliar cadeirantes a chegar até a faixa de areia, mas que acaba do nada e qualquer cadeirante que ousar seguir por ela vai sofrer uma queda de mais de um metro de altura.
Outro grande problema resultante da má execução do projeto envolve os quiosques da região. Clarice Bagrichevsky explica que na primeira proposta queriam instalar 40 quiosques de concreto, mas como a associação protestou e conseguiu manter os coqueiros que o projeto de requalificação queria arrancar, eles também bateram o pé sobre a instalação desses quiosques, que possuem uma estrutura pesada que agrediria ainda mais o solo.
“Dos 40 que eles queriam, apenas três foram colocados na região e ainda assim são verdadeiras monstruosidades. Há então as muitas barracas, com suas cadeiras, mesas e sombreiros que praticamente privatizam uma praia que é pública, porque você não pode chegar com seu cooler aqui, que eles já dizem que você precisa consumir para sentar na areia”, conta.
Mas o problema com as barracas ainda tem outro lado: o dos permissionários. Um deles é o André Conceição Antunes, que conta que a ideia inicial do projeto era maravilhosa, mas a realidade hoje, quatro meses depois da entrega, é de uma obra inacabada e que ignorou muitos pontos importantes.
“Eles levaram mais de um ano fazendo isso aqui e quem ver o calçadão acha lindo. Mas o solo já está cedendo sem a plantação de restinga, o que afasta o turista, quando um dos objetivos dessa obra era atrair eles. As barracas não têm água, pois não houve essa conversa com a Embasa e o mesmo acontece com a energia elétrica, que também não temos. Queriam uma orla linda, mas não deram conta do que eles mesmos se propuseram a fazer”, afirma o permissionário.
Por meio de nota, a Secretaria Municipal de Cultura e Turismo (Secult) informou que as obras de requalificação da orla de Stella Maris foram realizadas com as respectivas licenças emitidas pelos órgãos ambientais competentes e foram executadas em consonância com as legislações pertinentes, em níveis federal, estadual e municipal.
E lembra: os locais requalificados encontravam-se totalmente degradados, com ocupação desordenada do solo, veículos estacionados no local e passagem de pedestres, danificando ainda mais o meio ambiente.
A nota da Secult destacou também, que a obra realizada no local preservou as características originais, como a manutenção do cordão de dunas, além da recomposição e manutenção da cobertura de restinga, qualificando a região para os soteropolitanos, elevando o turismo de sol e mar, sem deixar de lado a preocupação com o meio ambiente.
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