SALVADOR
Mortes por Covid-19 aumentam em até 65% os sepultamentos em Salvador
O número crescente de mortes por Covid-19, que se soma a todos os óbitos causados por outras doenças e acidentes, chama a atenção para a pressão sobre o setor funerário. Em Salvador, cemitérios privados e públicos têm ampliando suas vagas para tentar absorver o pico de sepultamentos ocorrido em março e o aumento sustentado da demanda média desde o início da pandemia.
No cemitério Campo Santo, 388 sepultamentos e cremações foram realizados entre 1º e 29 de março, 172 deles com Covid-19 como causa da morte, informou o gerente Roberto Guimarães. O número representa um incremento de 60% na média de 242 por mês registrada antes da pandemia e supera o pico do ano passado, ocorrido entre maio e julho, com média mensal de 359 serviços.
Para absorver o aumento da demanda, Guimarães conta que 50 novas gavetas foram construídas e outras 160 estão sendo feitas no local. O planejamento é chegar a 390 novos equipamentos do tipo. Outra medida apontada por ele foi a intensificação da liberação de vagas, por meio da exumação, que consiste na retirada de restos mortais após o período de uso de três anos, válido para espaços não perpétuos.
Protocolos
A pandemia também impactou os processos de trabalho do Campo Santo, e de todos os cemitérios, com a adoção de protocolos de prevenção como o uso de EPIs (equipamentos de proteção individual) e a necessidade de higienização de caixões, carrinhos e todos os ambientes. Guimarães não percebe risco de colapso do setor em Salvador, mas acredita que a procura elevada se mantenha ainda em abril, sobretudo na primeira quinzena.
De acordo com a gerente geral Bárbara Bembem, no Jardim da Saudade a chegada da Covid-19 provocou mudanças além das operacionais, pois a unidade passou a oferecer um suporte psicológico para sua equipe, além de realizar testagem quinzenal. “Há uma maior preocupação em levar a doença para casa e ainda tem a questão das fakenews, que gera muitas incertezas, então esse trabalho tem feito muita diferença”, comenta.
Com 318 sepultamentos e cremações feitos em março (até o dia 30), um aumento de 65% na média mensal anterior à pandemia, “o Jardim da Saudade acelerou o projeto de expansão iniciado em fevereiro de 2020, com a construção de quatro mil novos jazigos”, diz Bárbara. Além disso, compraram duas câmeras frias, uma delas exclusiva para óbitos por Covid, ampliaram o crematório e fizeram duas novas capelas. As câmeras são usadas em casos de cremação, pois é preciso aguardar 24 horas após a chegada do corpo para realizar o processo.
Bárbara considera que a tendência, com o avanço da vacinação, é a queda de mortes por Covid, reduzindo a demanda geral pelos serviços de cemitérios, mas destaca que para isso é preciso que a sociedade siga as recomendações dos poderes públicos e autoridades de saúde e evitem exposição.
Municipais
Nos dez cemitérios administrados pela prefeitura de Salvador, seis na sede e quatro nas ilhas, o último mês foi fechado com 732 sepultamentos e 44% dessas mortes causadas por Covid, segundo a Secretaria Municipal de Ordem Pública (Semop). A média mensal anterior à pandemia variava de 370 a 390 serviços e o pico do ano passado ocorreu em julho, com 777 sepultamentos.
Titular da Semop, MariseChastinet, explica que 2880 gavetas foram construídas nos cemitérios de Brotas e Plataforma e está em andamento a licitação para construção de outras 1125. A pandemia também levou a secretaria a dobrar o número de sepultadores que atuam na rede pública, aumentando a equipe de 25 para 50 pessoas.
No dia 31, 450 gavetas novas estavam disponíveis na rede pública para atendimento imediato dos pedidos de sepultamento, lembrando que no caso de Covid o enterro obrigatoriamente tem de ser feito no mesmo dia. Mesmo antes da pandemia, explica Marise, o encaminhamento do pedido já era feito conforme a disponibilidade de vagas, não sendo possível que a família escolha onde realizar o enterro.
A secretaria acrescenta que ocorre ainda a abertura de vagas por exumação, o que tem sido monitorado diariamente para buscar a maior oferta possível em cada unidade. Sobre a ação ajuizada pelo Ministério Público do Estado da Bahia (MP-BA) para que o Município entregue um diagnóstico dos cemitérios públicos de Salvador, Marise disse que a Semop ainda não havia sido notificada.
De acordo com o informado pelo MP-BA, via assessoria de comunicação, o objetivo da ação é esclarecer a relação entre a quantidade atual de vagas nos cemitérios públicos e o número de enterros. Os dados devem ser referentes especificamente a 2019 e 2020, traçando o cenário de antes e depois do início da pandemia.
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