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FINANÇAS

Mulher investe R$ 50 mil e suposta trader desaparece com dinheiro

Vítima foi convencida que teria retorno entre 15% e 20% mensais com day trade; acusada acumula denúncias

Por Rodrigo Tardio

31/03/2024 - 0:00 h
Acusada de golpe não cumpriu promessa de retorno financeiro, bem como se apropriou indevidamente de material cujo direitos digitais não pertenciam a acusada
Acusada de golpe não cumpriu promessa de retorno financeiro, bem como se apropriou indevidamente de material cujo direitos digitais não pertenciam a acusada -

A promessa era de encher os olhos - e, possivelmente, o bolso. A profissional autônoma Laila Ferreira Santos foi convencida de que conseguiria um retorno de "15% a 20% ao mês" se investisse dinheiro com uma suposta especialista em Day Trade - modalidade de investimento de altíssimo risco, que consiste em operações de compra e venda de um mesmo ativo em um mesmo dia.

Fascinada com o potencial retorno, Laila nem precisou pensar muito: após algumas conversas por WhatsApp, em setembro de 2023 ela fechou acordo com a suposta operadora, chamada Sheila Santos Macedo. Sheila dizia ser representante do Banco BTG-Pactual, um dos maiores do País em investimentos, e ter uma extensa carteira de clientes.

Para maximizar os resultados, Laila juntou todos os recursos que havia conseguido acumular para investir: R$ 50 mil. O valor foi transferido para uma conta bancária de Sheila, no próprio BTG-Pactual. Com as promessas da suposta investidora, a autônoma acreditava que conseguiria um retorno mensal de pelo menos R$ 7,5 mil (15% do montante investido). Mas o que era um sonho rapidamente se transformou em pesadelo.

Laila conta que 30 dias depois da transferência - e após muita insistência -, recebeu Sheila em casa, para o que seria a assinatura do contrato entre elas. A formalização, porém, não aconteceu. Sheila alegou que a instituição bancária também deveria assinar o instrumento e que esse procedimento ainda não havia ocorrido.

De acordo com a vítima, Sheila sempre alegava estar em tratativas com um representante do BTG-Pactual na Bahia, a Seven Investor, empresa localizada no Edifício Salvador Trade Center, na Avenida Tancredo Neves, que tem entre os sócios Marcus Schulze Peixinho.

A partir daí, Laila começou a desconfiar que poderia se tratar de um golpe. Não houve abertura de produto no banco, como previa o acordo, nem nenhum tipo de retorno financeiro. À autônoma, restou amargar o prejuízo - e arquivar todas as interações que havia tido com a suposta investidora, para registrar um Boletim de Ocorrência contra ela.

Na delegacia, em novembro, Laila descobriu que já existiam várias outras denúncias contra Sheila. "É importante alertar as pessoas para que não caiam em situações como essa", enfatiza. "Quem foi ludibriado por essa moça deve procurar as autoridades policiais no intuito da instauração de procedimentos criminais contra esse tipo de prática. Essa pessoa que ludibria e zomba das pessoas precisa ser responsabilizada."

O advogado de Sheila, Pedro Henrique Ribeiro, diz que as alegações contra a cliente "não procedem". "Foram eles (os denunciantes) que procuraram a senhora Sheila a fim de propor a ela que operasse com o dinheiro deles no mercado financeiro", argumenta. "Eles tinham noção que em operações de Day Trade existe possibilidade de ganhos e perdas." Para ele, as denúncias são "apenas uma insatisfação por parte dessas pessoas por não conseguirem obter lucros" nas operações. "Estamos tomando todas as medidas cabíveis para solucionar esse ruído que existiu na comunicação dessas pessoas", diz.

MENTOR TRAÍDO

Conhecido no mercado financeiro, o trader Sérgio Gargantini também conta ter sido lesado por Sheila, mas de outra forma. De acordo com ele, a suposta investidora foi aluna e mentorada em programas de formação de traders oferecidos por ele, mas acabou fazendo pirataria com os cursos. "Infelizmente, a confiança depositada em Sheila foi profundamente abalada após inúmeras denúncias", destaca. "Surgiram relatos de que ela estava contatando algumas pessoas e oferecendo meus cursos e mentorias por metade do valor original."

De acordo com Sérgio, Sheila alegou que fez a oferta de 50% de desconto para um interessado nos cursos de Gargantini, que se encontrava sem condições financeiras de arcar com o ensino. Na realidade, porém, tal negociação teria sido feita com dezenas de pessoas. "Muitos acreditavam na história de que ela estava me representando e depositavam o dinheiro diretamente para ela, permitindo que Sheila se apropriasse do valor sem repassar nada para minha empresa, a verdadeira detentora dos direitos sobre os produtos digitais", relata o trader.

Ainda de acordo com Gargantini, a pirataria não apenas prejudicou a integridade do programa, como também levantou preocupações sobre a distribuição não autorizada de materiais educacionais. "Após investigar, percebi que várias pessoas foram induzidas por ela, uma traição dolorosa, especialmente considerando o quanto eu a havia ajudado", conta. "Sheila se autoproclamava assessora de investimentos vinculada a uma instituição financeira respeitável, prometendo rendimentos rápidos. Tal prática é expressamente proibida para quem não possui as certificações adequadas junto à Comissão de Valores Mobiliários (CVM)."

CUIDADOS

O consultor e professor de Finanças e Economia Antônio Carvalho destaca os cuidados para investir dinheiro com mais segurança. Para ele, é importante que se observe sempre alguns aspectos das promessas envolvendo operações financeiras, a começar pelo rendimento prometido: qualquer rentabilidade muito acima das oferecidas por instrumentos bancários tradicionais tem alta probabilidade de estar relacionada com algum tipo de golpe.

Além disso, o interessado deve se certificar que a instituição que oferece o investimento é verdadeira e possui todos os registros e autorizações de funcionamento e para realizar o tipo de operação apresentada. Também convém desconfiar de investimentos oferecidos por meio de aplicativos de mensagem, redes sociais e e-mail que, a partir de simples aceitação e transferência de valores, já estará contratada.

SERVIÇO

O professor Antônio Carvalho destaca sinais de alerta para possíveis golpes:

- Ganhos muito acima dos padrões de mercado: como regra, os especialistas recomendam desconfiar de qualquer investimento que prometa rendimentos fixos superiores a 1,50% ao mês. No caso da vítima na reportagem, isso corresponderia a R$ 750 de retorno sobre uma aplicação de R$ 50 mil (bem longe dos R$ 7,5 mil mensais prometidos);

- Muita facilidade na contratação: a aparente ausência de burocracia pode seduzir, mas é uma característica das operações fraudulentas. Geralmente, os golpes são realizados por meio de procedimentos simples e rápidos, como assinatura digital de um contrato (fictício) ou simples aceitação apalavrada, concluída com uma transferência bancária simples.

- Tempestividade: é característica das operações fraudulentas criar o sentimento de urgência nas vítimas, para que eles não tenham tempo para pensar e para provocar o chamado "medo de perder a oportunidade". Cuidado com expressões como "somente até hoje” ou “até o próximo dia útil”.

- Ausência de garantia de instituição financeira conhecida e confiável: as empresas autorizadas a realizarem operações financeiras precisam ter registros como corretoras junto ao Banco Central do Brasil (BCB) e à Comissão de Valores Mobiliários (CVM). Assim, não basta apresentar-se como corretora, operadora de day trade ou como subsidiária de um banco conhecido, é preciso apresentar tais registros. Eles podem ser consultados e/ou confirmados nos portais das instituições https://www.bcb.gov.br e https://www.gov.br/cvm/pt-br.

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Tags:

Day trade Finanças golpe investimento promessa

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