SALVADOR
Mulheres são maioria entre obesos
Por Eder Luis Santana e Fernanda Santa Rosa, do A TARDE
O índice de obesidade entre as mulheres de Salvador é o maior do Nordeste. De acordo com pesquisa divulgada pelo Ministério da Saúde (MS), 13,7% das 1.207 entrevistadas tinham a doença. Ao contrário de outras capitais do Brasil, Salvador surpreende os pesquisadores pela incidência maior entre pessoas do sexo feminino. Em primeiro lugar no País está Cuiabá (14,8%), e em último, Palmas, com 7,7%.
Entre os homens soteropolitanos, o índice de obesos coloca a cidade na sétima posição entre as capitais do Nordeste, com 10,9%. Em todo o País, o percentual chega a 13% de obesos de ambos os sexos. Salvador fica atrás apenas de São Luís (10%) e Aracaju (10,1%).
Segundo a coordenadora-geral do setor de doenças e agravos não-transmissíveis do Ministério da Saúde, Deborah Malta, a pesquisa mostra a importância da mobilização tanto da sociedade civil como do poder público em favor de hábitos saudáveis.
“É com base nesses números que podemos formular políticas públicas e fazer a vigilância e prevenção de doenças crônicas”, afirma, após lembrar que amanhã é o Dia Mundial da Atividade Física e o governo precisa investir em campanhas que estimulem a prática de exercícios e a alimentação adequada.
O setor do ministério responsável pelos dados é o Sistema de Vigilância de Fatores de Risco e Proteção para Doenças Crônicas por Inquérito Telefônico – (Vigitel). A coleta dos dados teve a parceria do Núcleo de Pesquisas Epidemiológicas em Nutrição e Saúde da Universidade de São Paulo (USP).
Além da obesidade, o estudo analisou questões como o tabagismo, consumo de bebidas alcoólicas, ingestão de frutas, verduras e hortaliças, atividade física, hipertensão e diabetes e, para as mulheres, exame de mamografia e preventivo de colo de útero (papanicolau).
A amostragem levou em conta o resultado de cerca de 54 mil entrevistas telefônicas, com um mínimo de dois mil indivíduos adultos (a partir de 18 anos) nas 26 capitais e Distrito Federal. As entrevistas foram feitas entre os meses de julho e dezembro de 2007 por uma equipe de 60 entrevistadores. A margem de erro da pesquisa é de 2%.
Metodologia – A coordenadora do ambulatório de obesidade mórbida do Hospital das Clínicas da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Leila Araújo, contesta o método aplicado pela pesquisa. Segundo ela, entrevistas telefônicas comprometem os resultados científicos, porque não há pesagem, nem medição de altura para aferir o Índice de Massa Corporal (IMC). “A maioria das pessoas não sabe bem quanto pesa ou quanto tem de altura. A auto-imagem de cada um acaba sendo o parâmetro”, pondera a coordenadora.
Ainda assim, estudo do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), realizado em 2003 e apontado pela especialista como o mais atual e confiável no tema, mostra uma pequena variação no percentual de mulheres com obesidade em Salvador: 13%. Diverge apenas quanto à incidência da doença no sexo masculino. Pelo IBGE, apenas 4,9% dos soteropolitanos estão em situação de obesidade.
Para a especialista, independentemente de resultados quantitativos, é certo é que a falta de qualidade de vida está entre as principais causas do aumento da doença no Brasil. Segundo ela, apenas 40% dos obesos possuem a predisposição genética para o acúmulo acentuado de gordura. “O excesso de atividades estimula a ansiedade. O resultado é excesso de alimentação e sedentarismo”, avalia a especialista.
No combate à obesidade, um dos objetivos é fazer com que os pacientes não apenas consigam atingir o peso ideal, mas também livrá-los das doenças que acompanham esta condição, como os problemas cardíacos, hipertensão, diabetes, doenças do fígado, dentre outras.
Cirurgia – Entre as alternativas para quem já atingiu o nível mórbido é a cirurgia bariátrica, que consiste na redução do estômago e alteração do intestino delgado. Para a operação, entretanto, há pré-requisitos.
Leila Araújo explica que o candidato à cirurgia deve possuir Índice de Massa Corporal (IMC) acima de 40, ou entre 35 e 40, mas com quadro de doença resultante da obesidade; idade mínima de 16 anos; ter feito tratamento clínico por dois anos, pelo menos; não ter doença psiquiátrica, nem intestinal.
Além do Hospital das Clínicas, o Hospital Espanhol realiza a cirurgia pelo Sistema Único de Saúde (SUS). Para tratamento ambulatorial da obesidade pelo SUS, o paciente pode procurar ainda o Centro de Referência Estadual para Assistência ao Diabetes e Endocrinologia (Cedeba). O Cedeba não realiza a cirurgia, mas encaminha para os outros dois hospitais aos quais é conveniado.
A coordenadora do núcleo de obesidade do Cedeba, Teresa Arruti, alerta que a cirurgia bariátrica, como qualquer outro procedimento cirúrgico, apresenta riscos. “Além do estado físico, é preciso avaliar o estado emocional do paciente, que pode não estar preparado para as mudanças”, explica a especialista. A médica endocrinologista conta que passar por um trabalho psicoterápico é fundamental antes de se submeter ao procedimento.
Esperança – A funcionária pública Mônica Medeiros, 35 anos, sofre de obesidade desde a infância. Ela conta que começou a engordar aos 10 anos. Com 1,74 centímetros de altura, ela pesa 170 quilos e acaba de fazer os últimos exames que a habilitam a se submeter à cirurgia bariátrica.
A data ainda não foi marcada, mas Mônica já comemora os resultados do tratamento. “Passei por um processo de reeducação alimentar e logo estarei magra”, diz, bem-humorada. Apesar da alegria e jogo de cintura para lidar com as limitações, ela teme as conseqüências do aumento de peso. “Tenho medo de morrer de tanto engordar”, confessa.
Com obesidade resultante de uma disfunção hormonal, ela já teve uma trombose vascular, apresenta problemas respiratórios, hipoglicemia, além de dores nas articulações.
“Perdi dois bebês por questões de saúde, e o médico disse que eu perderia um membro se a gestação chegasse ao sexto mês”, conta a servidora. E ensina: “Não é querer, é precisar. Quem tem obesidade tem que procurar ajuda”.
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