O Carnaval começa pelo feijão

Sylvia verônica



Sabedoria de mãe. Nas casas dos bairros populares de Salvador, não é de hoje que a ressaca das festas de largo e do Carnaval é curada com feijão. Antes mesmo de sair para a festa, os foliões encontram a feijoada pronta na cozinha. Preparada pelas mães, a iguaria também alimenta filhos de parentes e amigos.



Sempre foi assim na casa da quituteira baiana Dadá. “Minha mãe fazia aquele feijão pobre lá no Conde. Quando eu abri o restaurante no Alto das Pombas, tive a idéia de fazer a feijoada durante uma conversa com quatro amigos. Estávamos tomando todas (risos) e eu pensei em fazer essa festa que batizei de Lavando a Dadá”, recorda.



O que começou como um evento para 80 pessoas hoje é o Feijão Vip da Dadá, que, este ano, deve reunir 6 mil pessoas. Serão 600 kg de feijão e uma infra-estrutura digna de superprodução: além de pistas de dança, quem for comer o feijão da quituteira vai curtir os shows de Afrodisíaco, Luiz Caldas e Batifun. É a feijoada mais cara do calendário pré-carnavalesco de Salvador: a camisa custa R$ 200. “Esse feijão é, para mim, a celebração do sucesso da menina pobre que venceu na vida. Gerei 800 empregos só com a produção da festa”, comentou.



Dadá é a precursora das feijoadas pré-carnavalescas oferecidas por outras grandes quituteiras baianas,

a exemplo de Dinha do Acarajé e Alaíde. O ingrediente principal do prato típico pode ser de dois tipos – o feijão mulatinho ou o feijão preto, este mais comum na feijoada carioca e mais procurado pelos turistas, boa parte do público dessas farras gastronômicas disputadíssimas a esta época do ano. “Na minha casa, nos dias de Carnaval, também não falta feijoada, salada, macarrão e maionese”, diverte-se Dadá.



Dinha do Acarajé abre o ciclo das feijoadas em fevereiro com a Feijoadinha, realizada há sete anos no dia 2 de fevereiro, mesma data das comemorações ao orixá Iemanjá. Amanhã é dia de duas das maiores feijoadas. A da Alegria, produzida por Lícia Fábio, em sua 13ª edição, e animada pela banda Afrodisíaco e Mirela Bastos na Área Verde do Bahia Othon Palace, no Rio Vermelho. A camisa custa R$ 120.



Simultaneamente, outra quituteira abre as portas para receber convidados. Alaíde do Feijão, dona de um restaurante no Pelourinho, serve o feijão ao som do Ilê Aiyê e Filomena Bagaceira. A anfitriã pede aos convidados a doação de materiais escolares para turmas de alunos carentes.



E quem pensa que a terça de Carnaval é para começar a sonhar com as feijoadas do próximo ano está enganado. Confirmando a fama das mães zelosas, Dona Madalena, mãe de Carlinhos Brown, recebe o filho e os amigos – que descem com ele no Arrastão da Timbalada, que acontece com os restos de folia da Quarta-feira de Cinzas – com uma feijoada. O cantor Ricardo Chaves é freqüentador assíduo do arrastão e da feijoada há oito anos. “Eu vou pro arrastão, depois para o feijão de Dona Madalena. Aí, fecha a tampa e meu Carnaval tá concluído”, declarou Chaves.



ROTA DO FEIJÃO



Feijoada Alaíde do Feijão