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SALVADOR

O que é que o subúrbio tem

Por KATHERINE FUNKE, do A Tarde

06/10/2007 - 17:57 h

No Subúrbio Ferroviário vivem os suburbanos: pessoas que não estão no centro das atenções do poder. É o segundo distrito sanitário com menos acesso à água encanada de Salvador. É também nesta área que fica Felicidade, em Fazenda Coutos: a quarta localidade com pior índice de desenvolvimento humano (IDH) de toda a região metropolitana.

“Morar aqui é muito ruim. O transporte é horrível, demora. Quero tirar meus filhos daqui”, declara a confeiteira Maria Ilda de Jesus Silva, 52 anos, moradora de Plataforma.

Mas o Subúrbio tem muito mais do que indicadores sociais ruins e estrutura urbana precária. Lá tem dançarino que já foi para a Suíça e ator que já esteve na Austrália. Tem o Parque São Bartolomeu, que a população quer ver reativado. Tem uma vista inigualável para a Baía de Todos os Santos.

Lá tem dança de rua de qualidade todo fim de tarde de quarta-feira. Tem banda filarmônica e orquestra sinfônica. Tem hip hop nas escolas públicas. Tem tanta coisa boa que não cabe nesta página de jornal.

“Aqui tem calor humano, comunicação. Estamos sempre presentes um na vida do outro, tanto para a parte ruim quanto para a boa”, diz o ator, dançarino, eletricista e pedreiro Flaviano Santos Sacramento, 25. Ele é um dos “suburbanos” do elenco da peça teatral Sub, em cartaz no Centro Cultural Plataforma, que discute justamente a condição de morador de periferia, à margem das atenções do poder.

O centro é o antigo Cine Teatro, fundado na década de 30 pelo Círculo Operário, assumido pelo governo do Estado em 1970 e abandonado em 1985, já em situação degradada.

REATIVAÇÃO - O local voltou à ativa há apenas dois meses, por força da pressão popular, depois de dezenas de protestos nos últimos 22 anos contra a falta de investimento público. Em dois meses, o Centro Cultural teve muitas noites de platéia lotada. O maior público até agora foi da peça Cuida Bem de Mim, do grupo de teatro do Liceu de Artes e Ofícios, exibida de graça, que atraiu ao longo da temporada um total de 6.127 pessoas.

“Fiquei surpreso com a qualidade do público, o envolvimento, o compromisso de estar ali e o cuidado com o espaço. Tivemos um debate depois e um professor se emocionou ao falar da conquista do teatro”, conta Bira Azevedo, 22, que trabalha na equipe pedagógica da peça.

LUPA - O Centro Cultural Plataforma tem mobilizado integrantes de grupos culturais, que se reuniram para manter o espaço aberto com programação de qualidade.

Com apoio da Fundação Cultural do Estado, os próprios interessados elegeram uma pessoa da comunidade para coordenar o centro. Agora, se dividem em comissões para dar andamento ao trabalho cotidiano da instituição.

“O interessante é que todo mundo se escuta e se respeita. Ninguém quer deixar isso aqui entrar em decadência de novo”, conta o ator Márcio Bacelar, 22, também membro da secretaria do espaço cultural.

Abraçar a causa do antigo cine-teatro é apenas conseqüência da articulação existente há anos entre pessoas mobilizadas da área social e cultural. É o que avalia a coordenadora eleita pela comunidade, Ana Vaneska Almeida. “O Subúrbio está vivo há muito tempo. O Centro Cultural Plataforma só botou uma lupa em tudo isso”.

RUA - A cultura suburbana não acontece só nos palcos do Centro Cultural ou dentro das sedes das associações. Ao ar livre, também é possível se deparar com espetáculos de dança de rua, outros de dança afro-indígena, apresentações de malabares e lonas estendidas para sessões de cinema.

Tudo é criado, gerido e administrado pelos próprios artistas, com apoio de quem admira os que não se deixam levar pelo estigma da pobreza e mostram novos horizontes para quem só via drogas, violência e falta de opção.

Um dos apoiadores é o aposentado Genivaldo Batista, 64, que parou com a filha para assistir a apresentação de break da Caravana Cultural Alagados, na Rua Fronteira dos Vales, no Lobato. “Eu gosto de apreciar a dança deles. É bom porque diverte a garotada, ocupa com diversão e tira das drogas”, diz o homem.

Os mais jovens não tiram mesmo o olho do show. Tem até quem se inspire nos bailarinos para começar a dançar. As primas Rosângela Santos, 18, e Gilmara Conceição, 15, acabam de começar a ter aulas e querem se tornar tão boas quanto Joseilda Cruz, 17, a Jose. É ela quem mostra para todo mundo, sem dificuldade, passos avançados como o chamado “escorpião”, em que o corpo é sustentado pela cabeça.

A b-girl (menina que dança break) conta que aprendeu a técnica em Paripe, com o grupo Power Black. “Comecei há um ano e meio”, revela. Então se despede das fãs e reassume o espetáculo. É fim de tarde, o sol já se pôs e agora são os passos de Jose que iluminam esse trecho da periferia de Salvador.

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