VISIBILIDADE
ONU escuta mulheres com HIV em Salvador
Subsecretária-geral da ONU quer conhecer realidade na atenção à Saúde para subsidiar reunião do G20
Por Marcela Magalhães*
Um grupo de mulheres vivendo com HIV recebeu ontem a visita de Winnie Byanyima, Subsecretária Geral da ONU e Diretora Executiva do UNAIDS, na sede da ONG Mutirô, no Centro Histórico de Salvador. "Estou aqui no Brasil para participar da reunião do G20 porque o Presidente Lula propôs uma iniciativa para apoiar os países em desenvolvimento na produção dos medicamentos que necessitam. Vim para apoiar esta iniciativa e garantir que todo o G20 a adote”, explica.
A visita, que ocorreu ontem à tarde, teve como objetivo principal entender o impacto da epidemia de HIV/AIDS na vida dessas mulheres e discutir a importância do apoio comunitário e da liderança feminina.
Winnie Byanyima destaca que muitos países não têm acesso a todos os medicamentos de que precisam. Quando os medicamentos são produzidos em países ricos, eles são vendidos a preços muito altos, inacessíveis para o resto do mundo. “É importante para mim, onde quer que eu vá, conhecer as bases e ver as pessoas vivendo com HIV, ouvir suas histórias e entender suas experiências reais. Não podemos liderar de forma eficaz sem saber pelo que essas pessoas estão passando", afirmou.
De acordo com o Boletim Epidemiológico sobre HIV/aids 2023, do Ministério da Saúde, a Bahia registrou uma redução de 5,8% no coeficiente de mortalidade por AIDS nos últimos dez anos. Em 2022, o estado registrou 604 óbitos tendo o HIV/AIDS como causa básica, uma queda de 14,5% em relação a 2012. Salvador, no entanto, ainda apresenta uma taxa de mortalidade superior à média nacional, com 8,1 mortes por 100 mil habitantes.
A taxa de detecção de Aids em Salvador está em 3:1, ou seja, três casos em homens para um caso em mulheres. No caso das mulheres entra, portanto, um elemento forte de gênero, na medida em que boa parte delas se infecta por conta de seus maridos ou companheiros. Rosa Beatriz Marinho, coordenadora do Grupo de Apoio à Prevenção da AIDS da Bahia (GAPA Bahia), ressaltou as dificuldades enfrentadas pelas mulheres no contexto de saúde pública. "As mulheres sofrem mais com a toxicidade das medicações para HIV e, até bem pouco tempo, nem testavam os novos medicamentos em mulheres. As relações amorosas não são mais as mesmas, então mulheres têm uma vida com HIV muito mais difícil, muitas vezes solitária", disse Rosa Beatriz.
Experiências difíceis
As mulheres presentes compartilharam suas experiências, revelando os desafios diários que enfrentam, incluindo o acesso limitado a serviços de saúde e o estigma associado ao HIV. "A maioria dessas mulheres sente discriminação em suas comunidades. Uma delas me contou que, ao ir ao cabeleireiro, foi orientada a voltar depois de duas horas, pois o cabeleireiro não queria atendê-la", relatou Byanyima. Além disso, a dificuldade de acesso a testes e tratamentos também foi um tema recorrente.
Rosaria Piriz Rodriguez, coordenadora do Núcleo de Mulheres Posithivas de Salvador, relata uma situação discriminatória e destaca a importância do apoio comunitário. "Minha casa foi queimada por eu ter HIV, eu botei minha cara na TV e as pessoas foram atrás de mim. Minha casa foi queimada e ficou por isso mesmo, mulheres com HIV não estão tendo apoio de ninguém”, declara.
“Precisamos muito das mulheres que estão conosco, muitas delas estão desempregadas. Ter visibilidade enquanto soropositiva é muito difícil por causa do preconceito e da discriminação. Essas reuniões nos dão esperança e fortalecem nossa autoestima", afirmou Rosaria.
*Sob a supervisão do jornalista Luiz Lasserre
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