SEGUNDO TESTEMUNHA
Pastor acusado de matar Lucas Terra teria proibido buscas na igreja
Fernando Aparecido da Silva disse que procura por adolescente iria “atrapalhar a obra”
Por Bianca Carneiro e Leo Moreira
Primeira testemunha ouvida no júri popular dos pastores Fernando Aparecido da Silva e Joel Macedo, acusados pela morte de Lucas Terra, nesta terça-feira, 25, no Fórum Ruy Barbosa, em Salvador, Martoni de Oliveira Costa disse que o pastor Fernando proibiu fiéis de procurar pelo adolescente após seu desaparecimento. Ele também ironizou a preocupação dos amigos em busca do jovem.
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Segundo Martoni, que é testemunha de acusação, Fernando, então coordenador regional das congregações da Pituba, do Rio Vermelho, da Santa Cruz e do Vale das Pedrinhas, ironizou os esforços dos fiéis e chegou a convocar uma assembleia proibindo as buscas por Lucas, dizendo que elas iriam “atrapalhar a obra”.
“O pastor Fernando deu a determinação, disse: ‘um Luquinhas qualquer, que veio do Rio de Janeiro sumiu. Essa agonia de busca vai atrapalhar a obra'”, relatou Martoni.
Fernando dizia ainda que “soldado morto não se levava nas costas” e as palavras dele, no púlpito da igreja da Pituba, eram replicadas pelos pastores em outras igrejas e exaustivamente na Santa Cruz.
O pastor teria citado o pai de Lucas, Carlos Terra, dizendo que ele também estaria “atrapalhando a obra de Deus". Martoni, que era uma das pessoas engajadas na busca, afirmou que chegou a se sentir culpado por estar procurando pelo amigo.
“Eu cheguei a chorar achando que estava indo de contra a obra de Deus. Fui depois pedir perdão a Fernando e ele me consolou”.
Outro ponto crítico do depoimento foi que o pastor Maurício Gonzaga, testemunha de defesa de Joel, teria admitido que os bispos cometeram crimes contra Lucas, de acordo com Martoni.
"Fizeram bobagem com esse menino e o pai vai precisar de força", teria dito o pastor Maurício, segundo Martoni.
Segunda testemunha de acusação
Amiga e confidente de Lucas, Tatiana Santos de Jesus, a segunda testemunha do caso, disse ter sido perseguida e impedida de procurar o garoto, na época desaparecido.
"Ele era amigo de todos. O que ele fazia se destacava. Ganhava almas [trazendo pessoas para consagração na igreja] era destaque. Todos gostavam dele. Meu amigo. Quando ele soube que pastor Fernando estava em Salvador, ficou muito empolgado pela chance de confirmar sua condição como obreiro [dar a gravata]", disse Tatiana.
No dia crime, a testemunha revela ter visto Lucas logo após eles irem até a igreja da pituba. O que era empolgação em breve se tornaria tristeza. "Tati, eu vou agora na pituba ver pastor Fernando para com ele sobre aquela situação", Ele já retorna retraído e estanho e diz "depois tenho algo para lhe dizer". A amiga de Lucas Terra ainda revelou que sofreu perseguição por tentar encontrar respostas para o caso.
"Gente grande está por trás disso [disse um membro da igreja como alerta] [...] Eu estava morrendo de medo de sair de igreja. Era o único rumo que eu conhecia. Eu recebi ameaças falando que aquilo que aconteceu com Lucas iria acontecer comigo", desabafou.
Júri
Por volta das 10h, sete jurados foram escolhidos entre os pré-selecionados, sendo escolhidos pela acusação e defesa dos réus. Cinco homens e duas mulheres compõem o júri. Uma das juradas passou mal e precisou se retirar ainda durante a etapa da seleção do júri.
A defesa de Fernando e Joel fizeram perguntas repetidas a Martoni, com objetivo de tentar pegar a testemunha em contradição, além de questionar os fatos que não foram ditos em depoimentos anteriores.
O júri popular continua, com pevisão de duração de quatro dias. Serão ouvidas15 testemunhas, ao todo, no julgamento: cinco de acusação, cinco da defesa de Fernando e cinco da defesa de Joel.
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