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SALVADOR

Perigo: a maré de março chegou

Por JORNAL A TARDE

12/03/2006 - 0:00 h

Maior volume de água e elevação das ondas preocupam a Salvamar, que já prestou socorro a 879 banhistas este ano



EDER LUIS SANTANA




Desde o início do ano, foram registrados 879 afogamentos em Salvador e nas cinco ilhas fiscalizadas pela Coordenadoria de Salvamento Marítimo (Salvamar). O número equivale a um crescimento de 185,71% se comparados os meses de janeiro de fevereiro deste ano com o mesmo período de 2005 e a 81,5% do total de ocorrências do ano passado. Agora, os salva-vidas começam a se preocupar com os possíveis problemas decorrentes da maré de março. O volume começou a subir desde o primeiro dia do mês, quando as ondas chegaram a 2,9 metros, de acordo com a Capitania dos Portos. Pescadores e donos de barracas já esperam pelos prejuízos.



Das quatro mortes registradas até agora, a mais recente aconteceu no último domingo, quando cinco rapazes se afogaram em Piatã, no trecho da praia próximo ao mirante. Embora todos tenham sido socorridos, um jovem de 17 anos, que foi retirado da água inconsciente, acabou morrendo depois de ter sido levado ao posto de saúde em Itapuã. No ano passado, 1.079 acidentes dessa natureza foram atendidos pela Salvamar, com 13 mortes.



O chefe do setor de treinamento da Salvamar, Glauco Bastos, comenta que o último mês de janeiro – quando houve 532 afogamentos e duas mortes – foi um mês atípico, com mar agitado, ondas altas e formação de valas e bancos de areia, que tornam o banho de mar perigoso. Nesse mês, a Capitania dos Portos chegou a registrar ondas de até 2,8 metros, quando o tamanho observado nos últimos três anos variou de 2,4 a 2,6 metros.



“Esse sempre foi um mês tranqüilo”, afirma Bastos, ao lembrar que no ano passado o mesmo período correspondeu a apenas 95 atendimentos, com uma morte. Uma das explicações para o aumento de casos foram as altas temperaturas e o baixo índice de chuvas, que acabaram por atrair mais banhistas às praias.



O maior número de salva-vida também contou para que mais ocorrências fossem registradas. Desde dezembro, o efetivo foi reforçado com 120 homens que devem trabalhar até este mês. Além deles, a Salvamar conta com uma equipe fixa de 106 homens, sendo 78 nas praias. “Com o reforço passamos a cuidar de áreas que antes não eram supervisionadas. Nas ilhas, por exemplo, registramos 50 casos desde que um posto foi montado”, assinala.



A esperança da equipe é que os temporários sejam mantidos por mais tempo para que os postos das ilhas e da Cidade Baixa não tenham de ser desativados. A Salvamar estima que 70% dos afogamentos aconteçam por causa das correntes de retorno – nome dado ao movimento das ondas, que depois de colidirem com rochas ou outros obstáculos voltam ao nível do mar e tendem a puxar os banhistas. “O perigo é que algumas pessoas acabam surpreendidas por valas ou bancos de areia e são levadas para locais de maior profundidade”, explica Bastos.



A Salvamar acredita que a partir deste mês o número de afogamentos entre em queda. Com o término da alta estação, muitos turistas foram embora da capital e o volume de banhistas diminuiu. Entretanto, o mar volta a trazer preocupação com a chegada da maré de março. Ondas de até 2,9 metros foram identificadas pela Capitania. Esse é o maior tamanho desde 2001, quando foi atingindo o tamanho máximo de 2,8 metros.



Em alguns trechos da orla, os donos de barracas de praia já sentem os efeitos do fenômeno que, em anos passados, chegou a derrubar barracas e invadir a pista, derrubando árvores e destruindo calçadas. Na Barraca Pica-Pau, na Pituba, o alambrado de madeira foi destruído pela maré na última quarta-feira.



O gerente do negócio, José Reis, conta que todos os anos reformas são feitas para reconstruir tudo que for levado pela maré de março. Com menos espaço na areia, a quantidade de mesas é reduzida e os clientes não aparecem. Reis – que afirma ter presenciado a maré de março acabando com barracas inteiras – promete rezar para que as ondas sejam breves.



Em Itapuã, a única barraca em funcionamento na frente da Sereia é a Cantinho da Silvinha. O dono, Júnior Ferreira, conta que os demais empresários do ramo acabaram desistindo de ficar por causa da proximidade com o mar. “Quando chega esta época, sabemos que teremos problemas”, afirma, ao mostrar o batente destruído no ano passado. Júnior percebeu que o volume das águas começou a subir e, agora, teme que ventos fortes ajudem na formação das ondas.



Para os pescadores, o momento é de amargar queda na produção diária. O presidente da Colônia de Pesca Z-6, em Itapuã, Robério Bastos, diz que desde o começo deste mês as correntes fortes têm prejudicado a pesca. “Colocamos até um quilo de chumbo na linha para que chegue no fundo do mar, mas as correntes não deixam”, explicou. A previsão é de queda em torno de 50% na quantidade de peixe retirado. Nos dias de maré favorável, é possível se pescar até 12 quilos de pescado.



Bastos lamenta a falta de ajuda aos pescadores, que necessitam de reformas nas colônias. Ele garante que as embarcações utilizadas hoje são obsoletas, inseguras e dispendiosas. Representantes da categoria já pensam em recorrer ao Ministério da Pesca, em Brasília, a fim de levantar o nome de possíveis instituições que possam doar cestas básicas às famílias pesqueiras, até que as condições de trabalho melhorem.



Pituba, Jardim de Alá e Itapuã estão entre as mais perigosas



A maré de março é conhecida pelos estudiosos como maré equinocial – termo dado quando existe uma conjunção do sol e da lua nas proximidades do plano do Equador. Quanto mais alinhados os dois astros estiverem, maior é a força gravitacional que define a potência da maré. Mas existem outros itens que intensificam os efeitos da maré de março. Dentre eles está a morfologia das praias, ou seja, o tipo físico do local, como explica a geóloga Karla Medeiros.



Praias mais inclinadas, como na região da Pituba, Jardim de Alá e Itapuã, tendem a receber ondas mais fortes graças à pouca extensão. Nessas localidades, as ondas acabam colidindo com qualquer obstáculo físico e ficam sem espaço para dissipar sua energia.



Karla realizou um estudo onde analisou os estragos das marés associados com outros fenômenos na costa de Salvador. Matérias jornalísticas publicadas entre os anos de 1993 e 2003 foram analisadas. “A maré de março nada mais é do que a falta de sorte de vários fatores atuarem de maneira conjunta”, diz, ao assinalar que o fenômeno acontece devido à junção da maré de lua nova e cheia – que são as mais elevadas no mê s – com as marés equinociais, que acontecem em março e setembro.



Ventos causam grandes marés



O coordenador do curso de oceanografia da Universidade Federal da Bahia (Ufba), Guilherme Lessa, explica que a maré de março acontece graças a coincidência de uma maré de sizígia (maré de lua ou maré viva – associada à ação da lua e do sol) com a passagem de uma tempestade (frente fria) proveniente do Sul. As marés de sizígia do mês de março, assim como as de setembro, são as maiores do ano devido à passagem do sol pelo plano do equador terrestre. Estas grandes marés podem ser mais elevadas com a ação dos ventos empurrando a água do oceano contra a costa.



Nas praias o efeito é mais danoso. As altas ondas de tempestade alcançam áreas raramente submersas durante o ano. São estas ondas que causam destruição, não as marés. “Se uma grande maré de março ocorrer sem que haja a passagem de uma frente fria, as pessoas só irão notar que a extensão de praia ficou mais restrita na maré alta e bem maior que o natural durante as marés baixas”, explica Lessa.



Os membros da Salvamar dizem que existe a chance de termos este ano uma maré de março intensa, graças à chegada de chuvas vindas dos Estados de Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro. A meteorologista Cláudia Valéria Silva, do serviço de meteorologia (Inmet), assegura que ainda não há previsão de chuvas intensas na capital. Ela comenta que a época de chuvas na cidade começa na segunda quinzena de março, mas ainda não há como saber se este quadro irá se repetir este ano.



CRONOLOGIA



Sinais de destruição




18/04/1995 - Codesal registra o alagamento de quatro barracas atrás do Clube Português, na Pituba, em conseqüência da maré alta.



06/03/1996 - Em Placafor, a maré destrói parte do passeio que fica em frente ao Plaka Shopping Center. Coqueiros ameaçam cair, levando riscos aos que passam pela área.



13/09/1996 - A maré equinocial de setembro destrói barracas e causa grandes prejuízos em Placafor. Na madrugada do dia 12, após as 3 horas da manhã, uma forte ressaca levou abaixo as quase sete barracas instaladas na Praia de Placafor. Na tarde do mesmo dia, duas barracas já haviam sido totalmente destruídas e a alvenaria ameaçava desabar.



29/09/1999 - Fortes ondas que ocorreram desde o dia 23 destroem o muro de contenção do mar e as passagens que dão acesso à Praia de Jaguaribe. As ondas atingiram até cinco metros e arrastaram chuveiros, mesas e outros equipamentos, além de provocar a erosão do terreno onde estão instaladas 13 barracas.



19/09/2001 - Temporal ocorrido na madrugada com fortes rajadas de vento e provoca a destruição de 12 barcos na Praia de Santana, no Rio Vermelho. A maré alta ameaçou invadir casas em Praia Grande, no Subúrbio Ferroviário e, na Praia de Placafor, derrubou sacos usados para conter a maré, além de quase invadir casas. O temporal também foi sentido em Piatã, onde a força dos ventos arrastou sombreiros, mesas e cadeiras.



19/09/2005 - Maré alta atingiu a altura de 2,7 metros, destruindo uma parte da calçada e escada de acesso à Praia de Placaford



IMPORTANTA SABER



Tipos de correntes em cada praia




  • Correntes fixas: Farol da Barra, Pituba, Jardim de Alá, Aratubaia (Boca do Rio), Pituaçu, Patamares, Sereia de Itapuã, Farol de Itapuã, Pedra do Sal, Catussaba, Estela Mares, Flamengo e Aleluia.
  • Correntes móveis: Jaguaribe, Piatã e Aleluia. Cuidados na hora de ir à praia
  • Prefira praias com postos da Salvamar
  • Não beba muito antes de entrar no mar
  • Não tome banho perto de pedras
  • Cuidado com os animais marinhos, como as pinaúnas, caravelas e águas-vivas
  • Antes de entrar na água, certifique-se sobre quais as áreas mais perigosas
  • Se estiver com crianças, fique de olho nelas o tempo todo
  • Prefira os horários de sol mais ameno. Das 8 às 10 e das 15 às 17 horas. Onde estão os postos da Salvamar
  • Ilhas: Praia Grande, Praia das Neves, Itamoabo, Paramana, Ponta de Nossa Senhora
  • Cidade Baixa: Boa Viagem, Ribeira, Penha, Periperi e São Tomé de Paripe
  • Cidade Alta: do Jardim de Alá até Aleluia. FONTE: Salvamar
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