SALVADOR
Perigo não atrapalha guerra de espadas em Cruz das Almas
Por George Brito, do A TARDE, e Redação
Nilton Silva Lima, 15, apesar da pouca idade e com a mão esquerda e o punho direito queimados, corria afoito com a espada na mão nas imediações da Praça Estevam Barbosa Alves. De repente, o “bum”, a espada explodiu segundos depois de o garoto soltá-la. Era fim da tarde desta terça-feira, 23, em Cruz das Almas, e as pequenas batalhas já aconteciam pelas ruas do centro da cidade.
Desde 1º de junho, 47 pessoas já deram entrada no Hospital de Cruz das Almas com queimaduras. Não foram registradas lesões graves. Mas o dia da grande batalha só ocorre nesta quarta-feira, 24, na Praça Senador Temístocles, a partir das 14h.
“A emoção é grande, né, velho!”, afirmou o menino de Ilha de Itaparica, pela primeira vez em Cruz das Almas e que nunca havia soltado uma espada antes. A adrenalina e o frisson são o que leva centenas de espadeiros para o momento de “tocar” a espada, no que foi batizado de “guerra” de espadas.
Para os espadeiros mais experientes, como Walter Lopes Santana, 51, a espada “quer liberdade”, e não existe guerra porque “não há vencedores”. Ele fabrica a própria espada, tem experiência de 40 anos nas batalhas e participa da campanha de conscientização da prefeitura, cujo slogan é “Espadeiro consciente – respeite a vida”.
A conscientização vem surtindo efeito. Segundo informações da Santa Casa da Misericórdia, o número de acidentes com espadas reduziu de 478 feridos, em 2004, para 235, no ano passado, dentro do universo de mais de dois mil atendimentos.
O experiente Walter dá a dica para evitar acidentes. “Eu toco minha espada no chão e rolo ela. Não solto na boca nem na mão”, disse. Para participar da “guerra” ele usa calças, casaco, coturno e um enorme chapéu de homem do campo. “Não preciso de luva porque não toco na espada de ninguém”, explica.
Disputa – Para alguns espadeiros, alguém conseguir pegar sua espada é uma humilhação. “Se pegar, é humilhante”, afirmou Arnaldo Costa, 16, que há quatro participa das batalhas, sempre com luvas. É humilhante porque mostraria que o espadeiro não soube imprimir o melhor “rabeio” (impulsão) na espada.
Os jovens adoram correr atrás das espadas para poder pegá-las. Foi o que fez Diego dos Santos Filho, 13. “Aprendi com meu pai”, conta mostrando a passagem da tradição cultural dentro da família. Para a guerra na Senador Temístocles, ele vai levar quatro dúzias. E nada de luvas.
Mas não é todo cruzalmense que gosta de espada. “Sou daqui, não sou contra, mas tenho pavor de espadas”, afirmou o motorista Jurandir Silveira, 51, morador da Rua Elói Passos. Um pouco adiante, na Rua Rui Barbosa, outros espadeiros realizavam pequenas batalhas. Era a preparação para esta quarta.
Assalto – A nota negativa no município aconteceu na segunda, no Sítio Rancho Alegre, zona rural de Cruz das Almas, quando quatro homens encapuzados e armados realizaram assalto em uma festa. Na ação, um sargento da Polícia Militar recebeu tiro na perna e houve tentativa de estupro a uma jovem.
O delegado de Cruz das Almas, Paulo Roberto Guimarães dos Santos, observa que os homens estavam com revólveres calibre 38, uma espingarda e um facão. Na festa, havia pelo menos dez pessoas.
O sargento Fernando da Silva Carvalho, 58, que estava com a família na comemoração, recebeu o tiro, quando tentava acalmar os ladrões. Os assaltantes fugiram a pé, depois de recolher aparelhos celulares, notebooks, alianças, carteira de cédulas e dinheiro.
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