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DIÁRIO DE BORDO

Pesquisa histórica e desafios do clima a caminho do Rio

Remadores Márcio Torres e Hamilton de Souza chegam à divisa Bahia-Espírito Santo mapeando comunidades

MÁRCIO TORRES | Especial para A TARDE

Por MÁRCIO TORRES | Especial para A TARDE

16/12/2021 - 6:33 h

Ficamos em Porto Seguro por quatro dias, em função de condições muito duras de vento. Mas foram dias proveitosos, minha esposa Mariana estava comigo e juntos organizamos roteiro e apoios de hospedagens para toda a terceira etapa da expedição. No dia 1º de dezembro zarpamos de Porto Seguro, atravessando pelo canal do Apaga Fogo e seguindo por 18,18 km até Trancoso.

Tem sido extraordinário estudar in loco a formação histórica do litoral baiano. Tenho buscado ampliar meu entendimento sobre como sucedeu o processo de colonização em cada lugar que visitamos. Quem eram os povos originais de cada região, como se deu o processo de europeização das terras, o novo modelo de sociedade senhorial, a chegada dos negros escravizados, e como a relação entre índios, portugueses e africanos influenciou a organização de cada região, desde as Capitanias Hereditárias até a contemporaneidade. É complexo, eu sei, mas o estudo do século XVI em cada lugar que visitamos tem me trazido muitas respostas.

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É fato que até a década de 1970 quase todo o litoral baiano era recheado de comunidades oriundas de descendentes de quilombos, de indígenas, de caboclos, mulatos. Configurações essas que se tornaram as tradicionais vilas de pescadores espalhadas por todo a nossa costa.

Algumas dessas comunidades sofreram muito com o impacto da globalização, do turismo sem planejamento e da especulação imobiliária. Confesso que esperava encontrar mais comunidades ainda preservadas na cultura de pesca tradicional. Mas sinto muito em dizer que estamos caminhando para a extinção das mesmas. O que tenho visto são comunidades se tornando complexos hoteleiros, lugares em que outrora se falava uma língua, mas que hoje se falam idiomas de todo o mundo. E os nativos? Já não estão mais lá!

Não sei se por frustração e tristeza em ver o litoral baiano em processo de desconfiguração cultural, mas procurei fincar meus olhos nas regiões de natureza ainda fértil. No entanto, as condições climáticas continuaram nos dando trabalho, com ventos fortes e muita chuva. E o mar cristalino de praias famosas se apresentou amarronzado, turvo, dando outros ares às paisagens que se tornavam mais selvagens.

Passamos, assim, pela Praia do Espelho no dia 2; por Caraíva, nos dias 3 e 4; na belíssima Ponta do Corumbau, no dia 5. Em Cumuruxatiba o céu desabou de vez. Tivemos que parar lá por três dias em que pontes desabaram, cidades da região inundaram e raios e trovões que dariam inveja a muitos filmes de horror.

Momento em terra: atleta náutico Márcio Torres no centro histórico de Caravelas
Momento em terra: atleta náutico Márcio Torres no centro histórico de Caravelas | Foto: Lemurian Expeditions | Divulgação

Calamidade pública

Em uma pequena trégua do forte vento sul que soprou, no dia 10 seguimos viagem para Prado. Faltando apenas 5 km fomos surpreendidos por uma forte correnteza oriunda do sul, mas o vento continuava soprando na direção nordeste. Ficamos muito confusos, pois fenômeno assim nunca vimos em 30 anos de praia. Ao chegar, só nos deu tempo de tomar banho e, durante o almoço, uma fortíssima tempestade de sul explicou tudo.

Ventos que chegaram a 100 km/h e muita chuva tornaram a situação da região insustentável. Estado de calamidade pública em quase 30 municípios da região e nós ali, em meio a tudo aquilo, com nossos caiaques e o sonho de seguir adiante, enfrentando condições climáticas nunca vistas por nós nesse período do ano.

Do mesmo jeito que veio, subitamente, no sábado passado, a tempestade se foi e seguimos fortes até Alcobaça. Timidamente, o sol saiu e, no dia seguinte, 12 de dezembro, fizemos uma linda chegada pela Ponta da Baleia, a Barra de Caravelas, com praias e coqueirais de tirar o fôlego. No dia seguinte remamos para Nova Viçosa, onde fizemos muitos amigos queridos, remadores da região.

Hoje, dia 14 de dezembro, finalizo esse terceiro diário de bordo da expedição sentado embaixo de uma amendoeira da pacata cidade de Mucuri, encerrando assim a etapa 3 da Expedição Remando em Preservação.

Nosso próximo objetivo é chegar em Vitória-ES e pedimos a Deus que o verão chegue trazendo ventos brandos de nordeste, que dissipem as frentes frias de sul que insistem em trazer fortes ventos e ondas grandes, algo atípico em pleno mês de dezembro.

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