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SALVADOR

Pobreza cresce 44,2% na capital baiana, revela IBGE

Salvador manteve a maior proporção de extremamente pobres entre as capitais, com 323 mil pessoas, ou 11,2%

Por Mariana Brasil*

03/12/2022 - 0:30 h
Taiane Romão, 36, mora com quatro  filhos e dois netos e está sem emprego fixo desde o início da pandemia
Taiane Romão, 36, mora com quatro filhos e dois netos e está sem emprego fixo desde o início da pandemia -

Entre 2020 e 2021, a população em situação de pobreza em Salvador cresceu 44,2%, ou 284 mil pessoas, o maior aumento absoluto entre as capitais do Brasil, de acordo com o Censo 2022 do IBGE. Em 2021, 937 mil pessoas da capital estavam abaixo da linha da pobreza, o que representa 33,2% da população. Os números são os mais elevados desde 2012.

O estado é o 4º mais populoso do país, com 15,8% da população em extrema pobreza, 2,363 milhões de pessoas. Salvador manteve a maior proporção de extremamente pobres entre as capitais, com 323 mil pessoas, representando 11,2%. Embora o percentual de pobres na Bahia fosse apenas o 11º do país, em números absolutos o estado manteve o 2º maior contingente de pessoas abaixo da linha da pobreza, em 2021, menor apenas do que o registrado em São Paulo.

“A pandemia teve um impacto muito grande. Em 2020, esse impacto foi atenuado de forma importante pelos benefícios de programas sociais”, diz Mariana Viveiros, coordenadora de Divulgação do Censo 2022 na Bahia. “Porém, com a redução do peso desses auxílios em 2021, e a não recuperação de mercado de trabalho, a gente tem esse agravamento de uma situação já ruim estruturalmente, por conta de algo mais pontual, mais agudo”, fala Mariana.

Insegurança alimentar

Para quem não conseguiu o benefício, a situação foi ainda mais grave, como relata Taiane Romão de Lima, 36 anos. “A gente come o que pode comer, não pode ir no mercado e comprar para comer uma coisa diferente. O alimento me preocupa muito, mas o aluguel já é mais difícil”, conta. “Vou me inscrever no auxílio agora, e estou esperando para ver se vou ser aprovada ou não”.

Taiane mora com quatro filhos e dois netos. Sem emprego fixo desde o início da pandemia, a vendedora não vinha recebendo o benefício por ausência na documentação de integrantes da família. Mãe e filhos contam enfrentar dificuldades de recolocação no mercado.

“Sempre falta. A gente vai se virando como pode”, diz Marcele Lima, de 18 anos.

Filha mais velha de Taiane, a jovem passou a vender amendoim para ajudar na renda da família.

O dinheiro insuficiente faz com que a família dependa de doações pontuais, não sendo garantia do sustento. “As doações ajudam, mas está sempre faltando alguma coisa”, diz Taiane.

“Esses lares, 49% são chefiados por mulheres, mãe solo”, pontua Márcio Lima, presidente estadual da Central Única das Favelas na Bahia (Cufa). “Impacta diretamente na educação dos seus filhos, na segurança alimentar dessas mães e na saúde, principalmente a saúde mental também”.

Organizações como a Cufa, que trabalham diretamente com comunidades baianas, perceberam uma queda nas doações recebidas no último ano, em paralelo a um aumento das necessidades das famílias em vulnerabilidade social.

“Três a cada cinco pessoas estão precisando de doações para sobreviver”, destaca. “A insegurança alimentar que a gente costumava observar nesse território das favelas que era leve ou média, hoje passou a ser grave”.

“Passou a ter um número de pessoas sem ter o que comer em casa. Na Cufa, 85% das doações do ano de 2022, comparada a 2021, tiveram uma queda nas doações de alimentos. Na Bahia, o impacto foi ainda maior. O número de famílias que estão precisando de doações hoje aumentou muito mais, 15%, enquanto o número de doações caiu 95%”, afirma.

Para Danilo Santos, gestor da Teto no Nordeste, a piora foi clara nas favelas com que a organização trabalha. “Principalmente no que diz respeito à alimentação, segurança pública e emprego. As comunidades em que a Teto atua são extremamente vulneráveis, com pouquíssima ou quase nenhuma garantia de direitos básicos, como saúde, educação, infraestrutura, moradia”, observa.

Dentre as localidades contempladas pela organização, o coordenador destaca que houve uma piora considerável em relação à pobreza nas comunidades da Manuel Faustino, em Boca da Mata de Valéria, Bosque Imperial de Inema, em Paripe, e Vila Vitória, em Fazenda Grande 3.

“Muitas pessoas estão desempregadas, consequentemente, sem poder levar o alimento para casa, e existe um aumento da violência, além das pessoas que perderam suas casas por não ter como arcar o aluguel”.

A coordenadora de divulgação do IBGE explica que a Bahia já apresentava, historicamente, números elevados de pobreza. “É uma questão histórica, estrutural, econômica de geração e distribuição de renda que perpassa uma série de áreas da vida das pessoas”, diz.

“O poder público funciona pouco nessas comunidades, nos territórios em que atuamos”, afirma Danilo.

“Nesse período, o trabalho das ONGs foi essencial para a mínima manutenção do bem estar dessas famílias. Ainda assim, é imprescindível que o poder público, em todas as instâncias, federal, estadual e municipal, busque se aproximar das periferias para dialogar e conseguir intervir nos problemas sociais causados pelo aumento da pobreza extrema”, afirma.

*Sob a supervisão da jornalista Hilcélia Falcão

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