BAHIA
Poder Judiciário promove ação para adoção e apadrinhamento
Na Bahia, um total de 986 crianças e adolescentes ainda esperam por um lar em casas de acolhimento
Por Jade Santana*
Durante o mês de maio, conhecido como mês da adoção, o Poder Judiciário da Bahia (PJBA) promove a campanha Seja Ponte, iniciativa incentiva a adoção e, principalmente, o apadrinhamento de crianças e adolescentes. O objetivo é divulgar matérias, e-mail marketing e cards nas redes sociais.
O apadrinhamento é direcionado para jovens que já não têm mais chances de adoção, geralmente, são os com idade acima de 8 anos. Na Bahia, há um total de 986 crianças e adolescentes em casas de acolhimento.
Salomão Resedá, responsável pela Coordenadoria da Infância e Juventude (CIJ) do TJBA, explica a escolha de estimular não só a adoção. "A gente está constatando aumento do número de crianças nas instituições. Quando adquirem a maioridade, elas terão que deixar a instituição, muitas vezes sem preparo e conhecimento sobre o mundo. O apadrinhamento é uma medida que faz com que o menino que já não tem mais chance de ser adotado venha, com a participação da sociedade, a ser preparado para enfrentar os desafios da vida".
Estratégia
Segundo o desembargador, a adoção já é um tema recorrente durante o mês de maio, porque no dia 25 é comemorado o Dia Nacional da Adoção, é por isso que a Coordenadoria da Infância e da Juventude tenta “provocar e mobilizar o sentimento de reciprocidade e altruísmo da sociedade por meio do apadrinhamento dos jovens que estão em casas de acolhimento”. Para apadrinhar a pessoa pode ser física ou jurídica, e basta buscar o Juizado da Infância da comarca de onde reside.
O padrinho vem a suprir necessidades de crianças acolhidas, seja adquirindo itens, como brinquedos ou livros, para o jovem, reformando o quarto onde dorme, investindo na sua educação ou fazendo passeios e visitas em datas especiais. O apadrinhamento estimula as três modalidades: afetivo, uma pessoa que se disponibiliza a fazer visitas regulares, o prestador, que apoia o jovem com seu trabalho, ou provedor, que dá suporte financeiro.
“É extremamente importante porque é uma forma de minorar os impactos do acolhimento e permite que a criança tenha contato com pessoas e construa um vínculo de afeto”, frisa a juíza Sandra Magali, da Vara da Infância e Juventude da Comarca de Ilhéus.
Além disso, a ação permite que esses escolhidos conheçam a dinâmica de uma família e participem de eventos da comunidade. Ainda, dá a possibilidade de continuar o vínculo com o padrinho após sair da instituição. “Para a pessoa que apadrinha é uma forma de ter uma ação voluntária, de atender a alguém que necessita”, acrescenta.
Importância
Vera Lúcia Guimarães, gestora do Lar Pérolas de Cristo, casa de acolhimento que, no momento, abriga 78 crianças e adolescentes, de 0 a 17 anos, afirma a importância do apadrinhamento. "O perfil de criança para ser adotada a maioria é do sexo feminino, branca, sem irmãos e recém-nascida. É muito triste não receber visita, não ter ninguém que te dê afeto, que aposte em você. É como se essas crianças tivessem cumprindo medida punitiva e não protetiva. O nosso apelo seria que viessem casais habilitados também para a adoção tardia".
Quanto mais velha a criança, mais fora do perfil citado, mais difícil fica para ser adotado, explicita. "A gente vê que com o perfil dos adotantes ser tão estreito, muitas crianças acabam sendo criadas dentro de unidades de acolhimento", conta. O Lar recebe casais adotantes encaminhados pela Vara da Infância e da Juventude.
"Eu recebi uma criança com 9 meses e hoje, com 18 anos, ele conseguiu alugar uma casa, graças a uma oportunidade que teve de se profissionalizar, em uma parceria com o Ministério Público. Ele adquiriu recurso para comprar seu móveis e a prefeitura ofertou um auxílio-moradia, mas sempre sonhou em ter uma família, e infelizmente essa oportunidade não chegou", relata Vera Lúcia.
Reflexos
Ela explica ainda que, além de não terem a oportunidade de ter uma família, esses jovens acabam perdendo outras oportunidades por crescerem em casas de acolhimento. "É violação de direito a pessoa não ter acesso a uma convivência familiar e comunitária. A gente vê que crianças que crescem dentro desse sistema não são prioridade no 'Minha Casa Minha Vida', não têm prioridades no balcão de emprego e serviços de intermediação de mão de obra, e infelizmente, muitos deles acabam migrando de uma unidade de acolhimento de crianças e adolescentes para unidades de acolhimento para adultos”.
O Lar Pérolas de Cristo conta com uma República de Jovens e Adultos, projeto de unidade de acolhimento para quem saiu do sistema de adoção e não consegue se sustentar. "É ofertar um período maior para que ele consiga se profissionalizar e ter uma renda", finaliza.
*Sob a supervisão da editora Meire Oliveira
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes