'NESARA GESARA'
Polícia descobre golpe que prometia 'R$1 octilhão' de lucro
Mais de 50 mil pessoas foram vítimas do golpe que era cometido em igrejas
Por Da Redação
A Polícia Civil do Distrito Federal (DF) investiga nesta quarta-feira, 20, um golpe envolvendo dezenas de pastores que iludiram cerca de 50 mil vítimas evangélicas com a promessa de obtenção da rentabilidade de 'R$ 1 octilhão' em falsos investimentos. O valor representa 1 seguido de 27 zeros: R$ 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000. Para se ter uma ideia, o Produto Interno Bruto (PIB) do Brasil em 2022 foi de R$ 9,9 trilhões. Especialistas ainda apontam que a fortuna dos principais países do mundo somadas não alcança a quantia.
Em cinco anos, os integrantes do esquema criminoso faturaram R$ 156 milhões. A Operação Falso Profeta, deflagrada nesta quarta-feira, cumpriu dois mandados de prisão e 16 de busca e apreensão contra suspeitos de participação no golpe.
Na ação as forças policiais, uma pastora foi presa e o outro alvo, também líder religioso, segue foragido. Segundo a apuração da polícia, o grupo, conhecido por usar a teoria conspiratória 'Nesara Gesara', ficou em atividade por mais de cinco anos e tinha como integrantes pastores, o que facilitava a indução dos fiéis que frequentavam suas igrejas a pensar que eram "abençoados a receberem grandes quantias".
O que é "Nesara Gesara"
Nesara, ou National Economic Security and Recovering Act, é o termo inglês de Ato para Recuperação e Segurança da Economia Nacional. Já Gesara seria a mesma coisa, só que em escala global. A teoria engloba uma séria de medidas para “a libertação da humanidade por meio de uma reforma política, econômica e financeira”, acabando de vez com as dívidas, juros e impostos, além da mudança da relação dos governos e bancos com empresas e pessoas.
Como funcionava o esquema da 'benção'
Segundo a Polícia Civil do DF, a investigação aponta que os suspeitos formam uma rede criminosa organizada, estruturalmente ordenada, hierarquizada e caracterizada pela divisão de tarefas, especializada no cometimento de diversos crimes como falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, sonegação fiscal e estelionatos por meio de redes sociais (fraude eletrônica), com o fim de obter vantagem econômica em prejuízo de milhares de vítimas no Brasil e no exterior. Elas são induzidas a investirem quantias em dinheiro com a promessa de recebimento futuro de valores milionários.
O golpe consiste na conversa enganosa através de redes sociais (Youtube, Telegram, Instagram, Whatsapp, etc.), abusando da fé alheia, da crença religiosa e invocando a teoria conspiratória apelidada de “Nesara Gesara” para convencer as vítimas, em sua grande maioria evangélicas, a investirem suas economias em falsas operações financeiras ou falsos projetos de ações humanitárias, com promessa de retorno financeiro imediato e rentabilidade estratosférica.
Foi detectada, por exemplo, a promessa de que somente com um depósito (“aporte”) de R$ 25 as pessoas poderiam receber de volta nas “operações” no valor de um octilhão de reais, ou mesmo “investir” R$ 2.000 para ganhar 350 bilhões de centilhões de euros.
Como instrumento da fraude, os investigados constituem pessoas jurídicas “fantasmas” e de fachada simulando ser instituições financeiras digitais (falsos bancos), com alto capital social declarado, através das quais as vítimas supostamente irão receber suas fortunas.
E, para dar aparência de veracidade e legalidade às operações financeiras, os investigados ainda celebram contratos com as vítimas, ideologicamente falsos, com promessas de liberação de quantias surreais provenientes de inexistentes títulos de investimento, que estariam registrados no Banco Central do Brasil (BACEN) e no Conselho de Controle de Atividades Financeiras (COAF).
A investigação também apontou movimentação superior a R$ 156.000.000 (cento e cinquenta e seis milhões de reais), nos últimos cinco anos, bem como foram identificadas cerca de quarenta empresas “fantasmas” e de fachada, e mais de oitocentas contas bancárias suspeitas.
Em dezembro do ano passado, a Polícia Civil do Distrito Federal prendeu em Brasília um suspeito de envolvimento no esquema, após ele ter feito uso de documento falso perante uma agência bancária localizada na Asa Sul, simulando possuir um crédito de aproximadamente R$17.000.000.000 (dezessete bilhões de reais). Porém, mesmo após a prisão em flagrante desse indivíduo, à época o principal digital influencer da organização criminosa, o grupo continuou a aplicar golpes.
Nessa nova etapa da investigação, em que participaram cerca de cem policiais civis, foi realizado o cumprimento de mandados de busca e apreensão no Distrito Federal e quatro Estados – Goiás, Mato Grosso, Paraná e São Paulo. Também são cumpridas medidas cautelares de bloqueio de valores, bloqueio de redes sociais e decisão judicial de proibição de utilização de redes sociais e mídias digitais. Além do DECOR, participaram da operação policiais do Departamento de Polícia Especializada, e das Polícias Civis dos estados de Goiás, Mato Grosso, Santa Catarina, Paraná e São Paulo.
Os alvos poderão responder, a depender de sua participação no esquema, pelo cometimento dos delitos de estelionato, falsificação de documentos, falsidade ideológica, lavagem de dinheiro, crimes contra a ordem tributária e organização criminosa.
O que é 1 octilhão?
Milhão: 1.000.000 (6 zeros)
Bilhão: 1.000.000.000 (9 zeros)
Trilhão: 1.000.000.000.000 (12 zeros)
Quadrilhão: 1.000.000.000.000.000 (15 zeros)
Quintilhão: 1.000.000.000.000.000.000 (18 zeros)
Sextilhão: 1.000.000.000.000.000.000.000 (21 zeros)
Septilhão: 1.000.000.000.000.000.000.000.000 (24 zeros)
Octilhão: 1.000.000.000.000.000.000.000.000.000 (27 zeros)
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