MOBILIDADE
População aponta principais desafios no trânsito de Salvador
Para soteropolitanos, falta de planejamento urbano e congestionamentos são os maiores problemas
Por Daniel Genonadio
Metrópoles convivem com problemas em comum, desafios que precisam ser superados constantemente, e em Salvador não é diferente. Uma das principais adversidades enfrentadas pelos quase três milhoes de habitantes da quarta maior cidade do Brasil é o trânsito, que impõe barreiras na locomoção diária e na rotina.
Alguns problemas foram evidenciados pelos soteropolitanos em uma enquete do Portal A TARDE, que contou com cerca de 1.400 participações. Destas, cerca de 44% apontaram que falta planejamento urbano para que o tráfego de veículos aconteça de maneira ordenada. Já os congestionamentos foram indicados como o principal problema por 30% dos participantes. Outros desafios também foram apontados, como obras (11%), buracos (9%), falta de sinalização (3,5%) e estragos da chuva (2,5%).
"O cidadão quer mais fluidez no trânsito (chegar com mais rapidez ao seu destino), todavia mobilidade e segurança são fatores considerados mais relevantes. Os problemas apontados pela pesquisa são reais, e resolvê-los é o principal desafio dos nossos gestores. A gestão do trânsito precisa ocupar lugar de destaque na mente dos nossos governantes e também da população", afirma o major Luigi Souza, especialista em legislação de trânsito.
Para o motorista por aplicativo Jaquison Carvalho, que enfrenta o trânsito de Salvador cerca de 10 horas por dia, os condutores também têm que fazer a própria parte. "O principal problema no trânsito ainda é a falta de educação e bom senso do condutor. Após isso, vêm os buracos, falta de sinalização e de planejamento urbano, entre outros", avallia.
O superintendente de Trânsito de Salvador, Marcus Vinícius Passos, discordou do resultado da enquete e disse não existir falta de planejamento. Segundo ele, a cidade conta com modificações constantes para sanar os problemas no trânsito, mas essas intervenções também geram incômodos momentâneos.
"Não existe uma falta de planejamento, existe uma vontade e uma expectativa muito grande da população de que as coisas aconteçam logo. Para isso, infelizmente, tem que passar por esses desconfortos iniciais", ressalta.
"Salvador tem uma topografia diferenciada e muitas vielas. Em muitos locais, não existe possibilidade de ampliação de via, então o que pode ser feito está sendo feito. Eu posso exemplificar com o túnel que liga a BR-324 com o Subúrbio Ferroviário. A gente tem estudado muito para encontrar alternativas e melhorias no trânsito, mas não é tão fácil", acrescenta o superintendente.
Intervenções incomodam população
Salvador contabiliza diversas obras em vias de grande movimento da cidade. As intevenções são feitas para resolver os problemas do trânsito, oferecer alternativas e diminuir os congestionamentos. No entanto, enquanto ainda não estão finalizadas, as mudanças impactam e acentuam congestionamentos em função do fluxo de veículos.
"As obras que estão sendo executadas são o principal problema", disse o motorista por aplicativo Marcos Souza, de 35 anos. Ele também avaliou que a atuação da Transalvador para minimizar os impactos das modificações é insuficiente. "Eles continuam trabalhando e trava tudo. Poderiam fazer essas obras à noite, quando o trânsito está mais calmo".
A mesma reclamação foi feita por Jucineide Guimarães, 38, que é professora e também trabalha como motorista por aplicativo durante cinco horas diárias. "Tenho vários problemas ao dirigir na cidade. Uma delas é buracos, estragos da chuva e falta de manutenção das vias. Já precisei parar de trabalhar por danificar os pneus e suspensão do veículo. O pior de todos atualmente é a quantidade de obras em alguns locais", opina.
Aliar a quantidade de obras na cidade com a manutenção de um bom trânsito é um desafio reconhecido pela Transalvador. "Salvador hoje é a cidade com a maior quantidade de obras viárias no país. São obras estruturantes que causam, sim, um desconforto inicial para a população, a gente não está aqui para negar, mas também vão trazer benefícios e melhorias imensuráveis. Esse é o grande desafio", destaca o superintendente.
Entre as grandes intervenções viárias que estão em andamento em Salvador, destacam-se o mergulhão entre as avenidas Tancredo Neves e Magalhães Neto, que deveria ser entregue neste primeiro semestre, mas foi adiada e deve ficar pronta somente entre julho e agosto, segundo declaração do secretário Municipal de Mobilidade Urbana, Fabrizzio Müller, na semana passada, em evento da prefeitura.
De acordo com Müller, a obra sofreu um atraso por causa da chuva. O mesmo aconteceu com o trecho 3 do BRT, maior obra de mobilidade em curso na capital baiana nos últimos anos. "A gente acredita que, até o final desse primeiro semestre, a obra em si já esteja conclusa. Após isso, é iniciada uma operação assistida", explicou Fabrizzio Muller.
O BRT - que concluiu o trecho 1 e está em fase final do trecho 3 - ainda não estará completo, já que o trecho 2, o maior da intervenção viária, ainda está em estágio inicial. A obra tem afetado o trânsito, que fica congestionado na avenida Juracy Magalhães, sentido Paralela, e na avenida ACM, sentido Pituba.
"Evito a região do Iguatemi, principalmente a parte do BRT, e a avenida Suburbana, na parte da Baixa do Fiscal", disse Marcos Souza sobre locais em que tem problemas para transitar em horários de pico. As regiões também foram apontadas como problemáticas por Jaquison Carvalho. "Costumo evitar em horário de pico vias de grande fluxo, por exemplo, a Ligação Iguatemi-Paralela (LIP), avenida Suburbana, no sentido Paripe, e avenida Paralela".
"A população precisa ser informada com antecedência das interdições das vias e dos transtornos decorrentes das obras, para que possa adotar rotas alternativas. Além disso, esses locais precisam ser devidamente sinalizados para evitar acidentes e redução da fluidez", indicou o especialista em trânsito Luigi Souza.
Estragos da chuva
O mês de abril deste ano é exemplo de como a chuva pode causar estragos no trânsito de Salvador. Durante o mês, foram registrados 394,4 milímetros de chuva, 39,4% acima da média histórica (normal climatológica), que é de 284,9 mm, contabilizada pela estação pluviométrica de referência, em Ondina. Foi o segundo mês de abril mais chuvoso dos últimos oito anos, de acordo com a Defesa Civil de Salvador.
Com isso, foram registrados longos congestionamentos nas principais vias, alagamentos, deslizamentos de terra que invadiram vias, quedas de estruturas e interdições de ruas, entre outros problemas.
"A pior experiência é sempre quando está chovendo. Trava tudo e você não tem pra onde ir", enfatiza Marcos Souza, que revelou ter trabalhado menos durante abril, a fim de evitar os transtornos.
"Os momentos de chuva causam alerta justamente pela própria topografia da nossa cidade. Então a prefeitura trabalha em conjunto, através da Codesal, Seman, Transalvador. Nos locais onde a gente já tem o conhecimento prévio de que existe alguma possibilidade de alagamento, com a possibilidade de congestionamento ou risco ao cidadão, intensificamos as ações e colocamos as equipes de prontidão", explica o superintendente de Trânsito.
Na avaliação do major Luigi Souza, é preciso realizar um mapeamento dos locais onde ocorrem alagamentos e, a partir daí, elaborar um plano de ação que favoreça a mobilidade nos dias de chuva, estabelecendo rotas alternativas e, em caso de necessidade, a interdição de vias que não ofereçam segurança.
Ações para melhoria
O trânsito de Salvador também apresenta outras questões além da engenharia de tráfego, como fiscalização e ações educativas. Luigi Souza sinaliza algumas possíveis melhorias, como colocar faixas de pedestres em boas condições, sinalização horizontal e vertical e adoção de semáforos inteligentes que se adequem ao fluxo de veículos.
A cidade já tem trabalhado outras alternativas para o trânsito. "Fizemos a inclusão de zonas 30 em seis áreas da cidade, que privilegiam pedestres, ciclistas, motociclistas. Essas áreas vieram pra melhorar e trazer de volta a cidade ao cidadão, porque as vias eram pensadas apenas para carros. Agora, existe um um contexto maior para a gente pensar num conjunto de todos os atores que envolvem o trânsito. Saímos de 30 km de ciclovia na última década pra mais de 310 km", explica Marcus Passos.
Sobre a fiscalização, o gestor de trânsito de Salvador pontua que são feitas ações como a intensificação da Lei Seca para tentar amenizar e educar as pessoas que insistem em conduzir veículos após a ingestão de bebida alcoólica. "A gente também busca a conscientização das pessoas a não estacionarem em local proibido, a não fazer paradas em ciclofaixa. Esses pontos que prejudicam a fluidez do nosso trânsito", falou.
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Cidadão Repórter
Contribua para o portal com vídeos, áudios e textos sobre o que está acontecendo em seu bairro
Siga nossas redes