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11/06/2022 às 6:00 - há XX semanas | Autor: Rodrigo Tardio

DEGRADAÇÃO

População reclama da falta de conservação em praças de Salvador

Especialistas relacionam falta de cuidado com estes locais ao aumento da violência urbana

Idealizador de um projeto esportivo local, Edmilson Macêdo, afirmou que "já perdeu 15 bolas por causa de alambrado furado"
Idealizador de um projeto esportivo local, Edmilson Macêdo, afirmou que "já perdeu 15 bolas por causa de alambrado furado" -

Alambrados destruídos, equipamentos enferrujados e sem conservação fazem parte do cenário encontrado em praças públicas municipais de Salvador. Na Semana do Meio Ambiente, a equipe do Portal A TARDE visitou alguns destes locais, que deveriam oferecer um ambiente limpo, organizado e verde para os moradores do entorno.

Uma das situações de abadono foi encontrada na praça Mico Preto, no Vale das Pedrinhas, inaugurada em 2019. O nome foi sugerido pelos próprios moradores, em homenagem ao boxeador e ex-morador da localidade, Luis Augusto Nascimento dos Santos. Ele morreu em 19 de agosto de 2015, vítima de leptospirose, provavelmente adquirida em função do esgoto que eistia na região, antes da construção da praça.

O equipamento, abraçado por todos como a "diversão da comunidade", não faz jus ao merecimento da vizinhança. De acordo com o morador Mauricio dos Santos, se não fosse a população, a situação "estaria pior".

"Aqui a gente faz mutirão e coloca a mão na massa, como fizemos com os alambrados. A gente dá um jeitinho de amarrar um arame aqui e outro ali e vai costurando", diz ele.

Ainda de acordo com o morador, as árvores não são podadas e os coqueiros trazem riscos para quem passa pelo local. "Eu tive que pagar do meu bolso a retirada dos cocos. Estavam caindo e poderia atingir uma criança, um idoso ou até a nós, mais jovens. Isso pode matar"..

Prática de esportes

Na praça, um projeto social que acolhe meninos para a prátca do futsal é desenvolvido por Edmilson Macêdo, também morador da região. O projeto atende a crianças e adolescentes de 6 a 15 anos, três vezes por semana.

"Para participar do projeto, eu exijo que esteja com o desempenho bom na escola. Aqui é um trabalho para formar cidadãos porém, com esse estado ruim em que a praça se encontra, nos atrapalha muito. Já perdi 15 bolas do projeto por causa desses buracos nos alambrados da quadra. No momento, só disponho de uma bola. Caso fure, não terei como continuar. Ninguém da prefeitura vem aqui nos ajudar", afirma.

Uma arena de areia para a prática do futevôlei e frescobol também é opção para os esportistas. É o caso de Ademar Figueiredo, que se diverte com as raquetes. O brilho no olhar, ao falar da "arena", retrata o sentimento de amor pelo lazer, que tem sido prejudicado pela falta de apoio do município.

"Aqui, até a areia é comprada por nós. O que adianta fazer praça e não conservar? Quem tem que se virar somos nós, com os gastos por algo que é de competência da Prefeitura. É preciso que eles olhem por nós", apela.

O local abriga ainda um parquinho para crianças, mas os pais estão evitando levar os filhos, já que o estado de conservação dos brinquedos passou a ser uma "armadilha". É o caso de Andréa Almeida, que não libera a filha para frequentar o local.

"Minha filha brincava aqui, pois é a diversão da comunidade. É o nosso lazer. Agora não permito mais, pois os brinquedos estão enferrujados e os cocos podem cair em cima dela a qualquer instante", relatou.

Andréa se surpreendeu quando a equipe do Portal A TARDE informou que visitaria mais duas praças em regiões nobres da cidade, onde as queixas eram constantes. "Imagine. Se o bairro do rico está assim, imagine aqui na nossa favela?!", indagou.

Praça Myrian Fraga

Na praça Myrian Fraga, no Itaigara, a situação não é diferente: campo com gramado sintético degradado - impossibilitando a prática de atividades -, além de muita sujeira e o aspecto de abandono.

"A gente usa (a praça) para os pets fazerem as necessidades", disse uma moradora que preferiu não se identificar.

Lagoa dos Patos

Na Praça Lagoa dos Patos, na Pituba, a sensação de abandono está presente até na água onde patos e gansos se refrescam, que é tomada por vegetação. Até a placa que demarca o local enferrujou e a leitura de quem precisa se localizar é impossível.

Conservação x violência

Um estudo defendido pela mestra em Sociologia Hanna Love, em relatório publicado no final de 2021 no site da Brookings – organização de políticas públicas sem fins lucrativos sediada em Washington D.C - partindo da realidade dos municípios dos Estados Unidos, investigou de maneira mais ampla os fatores relacionados aos ambientes urbanos. Trazendo essa realidade para o Brasil, a relação entre violência urbana e estes locais pode ser um indicativo de que intervenções pontuais nos bairros, como reformas em moradias, arborização e criação de ambientes para o convívio com vizinhos, diminuem a criminalidade.

De acordo com a socióloga Beth Santos, o combate à violência, principalmente nas grandes cidades, requer a construção de espaços públicos qualificados para promover a interação das pessoas.

"Estamos falando de diálogo, de sociabilidade e de convivência. É claro que, diante da complexidade que o problema da violência adquire hoje, nenhuma medida isolada vai trazer resultado. Precisamos de politicas públicas de combate à violência em várias escalas e níveis".

A falta de interação social e a inexistência de organizações civis e comunitárias nos bairros podem influenciar a ocorrência de crimes violentos.

"Precisamos de politicas públicas de qualificação urbana, de melhoria da qualidade de equipamentos urbanos, ou seja, de mais poder público. Mas precisamos, também, de uma politica de segurança preventiva e integrada, e de uma sociedade civil organizada, cobrando o seu direito à cidade".

Um estudo recente sobre a qualidade do ambiente urbano na capital baiana, realizado pelo QUALISalvador, traz a dimensão da violência como um dos elementos principais. Quanto mais expostos a situações de violência, menor a qualidade do ambiente urbano em determinado bairro. As maiores taxas de homicídios em Salvador estão nos bairros onde reside a população pobre e negra.

Outro estudo, coordenado por Tânia Benevides, professora e pesquisadora da UFBA e da UNEB, revela a intensificação da violência nos bairros periféricos, o que afeta principalmente os "jovens com faixa etária compreendida entre 15 e 29 anos, do sexo masculino, pretos e pardos na maioria".

O Mapa revela os bairros com as maiores taxas de homicídios – mais de 90 a cada 100 mil habitantes. São eles: Retiro (1.155), Comércio (807), Granjas Rurais Presidente Vargas (466), Cassange (328), Calçada (222), Jardim Santo Inácio (218), Santa Luzia (158), Nova Esperança (155), Baixa de Quintas (153), Campinas de Pirajá (140), Lobato (130), Cajazeiras VII (126), Praia Grande (123), Calabetão (120), Alto da Terezinha (107) e Cajazeiras II (92).

Imagem ilustrativa da imagem População reclama da falta de conservação em praças de Salvador
| Foto: Mapa Violência

De acordo com Beth Santos, a reforma de moradias, prédios, terrenos e lotes abandonados em localidades sem investimentos´podem diminuir as taxas de violência.

"Desde que o projeto de requalificação esteja, de fato, voltado para o atendimento das necessidades de sociabilidade da população daquele lugar. Se é para combater as causas da violência, é preciso associar requalificação urbana com politica econômica e social - e não estamos aqui falando de assistencialismo, mas de verdadeira inserção produtiva e social".

Desal responde

Em nota enviada ao Portal A TARDE, a Companhia de Desenvolvimento Urbano de Salvador (Desal) afirmou que as três praças citadas na reportagem foram alvos de atos de vandalismo nos últimos meses.

"A praça Mico Preto, na entrada do Vale das Pedrinhas, passou por troca de equipamentos da academia de saúde ao ar livre, brinquedos, grama sintética e pintura, sem contar as inúmeras trocas de lâmpadas em LED. A Desal tem programado vistorias mensais para este equipamento, as imagens são claras do vandalismo com pichação. Já as praças Myriam Fraga no Itaigara e a Lagoa dos Patos, passaram por vistorias e serão requalificadas", diz a nota.

A Desal afirma ainda que "a Prefeitura tem um agendamento de vistorias diárias para as mais de 500 implantadas em 9 anos. O custo destas ações, entre reformulação, manutenção e retrabalho (vandalismo), passa de R$1 milhão por ano. Todos sabem das ações da Desal contra o vandalismo, acontecem sempre em passarelas, praças, viadutos e monumentos. Vale lembrar que diversas outras praças estão sendo construídas ao mesmo tempo na cidade. Na última quinta feira, entregamos 5 praças em Nova Brasília de Valéria, a um custo de R$ 800 mil", finaliza.

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