COMEMORAÇÃO
"Pós-Covid" deixa os idosos celebrarem Dia das Mães
Com cenário mais tranquilo, amor e carinho marcam reencontro de parentes em uma das maiores datas festivas
Por Priscila Dórea
Atravessando a crise sanitária firmes, fortes e vacinadas, as mãezonas com mais de 70, 80 e 90 anos comemoram esse Dia das Mães junto a suas famílias depois dos muitos meses preocupando-se não só com a própria saúde, mas também com os filhos, netos e bisnetos. O medo não foi pouco e quem bem sabe disso é Gersonita Leal de Almeida, a Dona Geir, que no dia 22 de maio completará 100 anos e afirma: “Vivo tão cercada de amor e carinho que, mesmo em tempos tão difíceis, tive forças para passar por tudo”.
Com 7 filhos, 22 netos, 15 bisnetos e um amor incondicional pelo Esporte Clube Bahia - ela até mesmo apareceu no filme Bahêa Minha Vida -, a enérgetica e futura centenária Dona Geir chegou a pegar covid-19. “Não tive sintomas fortes e tudo deu certo, mas o susto foi grande. A pior coisa foi, durante esses mais de dois anos, sentir uma saudade imensa de ter minha família e amigos por perto, junto comigo. Gosto de bagunça, sabe? Animação e as pessoas por perto. Estou voltando a ver a minha família agora, aos pouquinhos, mas a felicidade é imensa”, conta.
Todo o cuidado continua sendo pouco, afirma uma das filhas que mora e cuida de Dona Geir, Bernadete Leal de Almeida, que está enfrentando a sua própria batalha pessoal contra a leucemia. "Os tempos têm sido difíceis e de muito medo, não só porque cuido dela e de mim, mas porque minha mãe chegou a ter crises de ansiedade por não poder ver os filhos. Aos poucos e com organização, todos já têm vindo visitar e tomar café da manhã com ela, em pequenos grupos. Todos sentem saudade, mas precisamos ser rígidos com isso para cuidar bem dela”, explica emocionada.
Alerta
Quem também ainda toma todos esses cuidados com a mãe é Artênio Américo Valadares. Ele diz que observar o número de casos voltando a subir em outros países tem deixado a família em alerta. ”Se manter longe para deixar ela segura ainda é necessário, mas o bom é que moro do primeiro andar e ela no térreo, embaixo de mim. Então a família toda tem aparecido para dar um oi e conversar pela janela mesmo. Somos oito irmãos, além dos netos e bisnetos, e a família sempre foi a coisa mais importante para nós”, conta.
A mainha de Artênio é a dona Artemira Cabral Valadares Chagas, de 94 anos. Ela afirma que o apoio e a presença, mesmo que distante, da família tem sido muito importante nesses últimos meses. “É essencial se precaver em relação ao vírus, mas acredito e tenho fé que melhores dias e encontros virão. Estamos nos sentindo um pouco mais seguros e tem sido muito prazeroso voltar a encontrar todos. Hoje, todos os meus filhos devem vir aqui me visitar, mas espero que logo, logo nós já possamos comemorar o Dia das Mães como antes, junto também dos meus netos e bisnetos”, deseja Artemira.
Tanto Geir quanto Artemira terão um almoço de Dia das Mães hoje que vai seguir o caminho que melhor zela pela saúde das matriarcas: pouca gente e muito cuidado. E ainda que esse isolamento hoje seja “menor”, a consequente solidão desse cuidado em prol da saúde das pessoas mais velhas se tornou comum nos últimos dois anos, explica o fisioterapeuta, sócio e diretor executivo do Centro Terapêutico do Idoso Flor de Lótus, Davi Santos Fonseca. “O isolamento social afeta o emocional, o cognitivo e o sono, além de diminuir a força muscular e a resistência cardiorrespiratória, por exemplo, e, como consequência, diminui a autonomia e a independência do idoso”.
A população brasileira está envelhecendo e, de acordo com dados da última Pesquisa Nacional por Amostra de Domicílios Contínua (PNAD) do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), um pouco mais de 18 milhões das mulheres brasileiras têm mais de 60 anos e 2,95 milhões têm mais de 80. Essa população erroneamente acredita, pontua o fisioterapeuta, que não é mais necessária. "Quando na verdade eles podem e devem se manter ativos, realizando atividades físicas e cognitivas, socializando e fazendo novas amizades”
.O próprio Centro foi criado - e inaugurado no olho do furacão da pandemia, em julho de 2020 - numa busca para mudar o conceito do que é envelhecer. Uma concepção que Maria José Rodrigues Souza, a Zezé, com seus 74 anos, 7 filhos, 14 netos e 12 bisnetos, faz questão de mostrar o quanto está errada se a pessoa que a conhece acha, por um minuto, que ela fica em casa paradinha sem fazer nada por causa da idade. “Gosto de animação, de encontrar as pessoas e fazer minhas coisas. Quando a pandemia estava a todo vapor, fiquei em casa me resguardando como devia e deu tudo certo. Agora estou aqui, pronta para o que der e vier”.
Neste Dia das Mães o almoço será por conta de uma de suas filhas, afirma Zezé e todos os filhos vão se reunir na casa da mãezona, que diz que não vai chegar perto do fogão, vai esperar a feijoada ficar pronta enquanto curte a família. Quem também vai ser mimada pelos filhos com um almoço é Adélia Santana Coutinho, 84 anos, a amiga de Zezé, apaixonada por viajar. “Conheci muitos estados, mas o lugar que mais vou é para a Ilha de Itaparica com meus filhos. Diminuímos as idas até lá na pandemia, mas tomando todo o cuidado, cheguei a ir algumas vezes. Não sou de ficar parada”, conta.
Ambas fazem parte do Grupo Nova Vida (que fará 34 anos de existência este mês) do Centro Social Urbano de Pernambués, um grupo de idosos que realiza inúmeras e diferentes atividades durante toda a semana. Junto a elas, para fechar o trio de amigas, a mãe de quatro filhos, Maria Antorina, de 75 , conta que o esquema do Dia das Mães na casa dela é um pouco diferente. “Lá em casa nós nos organizamos e cada um prepara uma parte do almoço e leva. A pandemia tem sido difícil, mas se eu precisasse sair, eu saía. Cheguei até mesmo a cuidar de uma das minhas filhas que pegou covid. O importante agora e hoje, é que estamos bem e podemos aproveitar esse tempo juntos”, comemora.
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