SALVADOR
Posto de saúde onde ocorreu tiroteio só reabrirá na segunda-feira
Por Meire Oliveira, do A TARDE
A unidade de Saúde da Família (USF) Prof. Ribeiro Santos, no bairro do Lobato, onde na quarta-feira, dia 01, houve um tiroteio, só deverá reabrir na próxima segunda-feira, dia 6. O horário de funcionamento da unidade também deverá mudar, com o fechamento ocorrendo trinta minutos mais cedo que o horário normal, às 16h30. Durante o intervalo para o almoço (12h às 13h), as portas também ficarão fechadas. O secretário municipal de saúde, José Carlos Brito, se comprometeu em buscar uma nova sede para a unidade, dentro do mesmo bairro, e disponibilizar veículos para conduzir os funcionários.
Os acordos foram estabelecidos entre a Secretaria Municipal de Saúde (SMS), funcionários da unidade de Santa Luzia e comunidade, que se reuniram nesta quinta-feira, dia 02. A USF do bairro já foi alvo de assalto sete vezes, em quatro anos de existência. O último, ocorrido na quarta-feira passada, culminou com a morte de um assaltante e duas pessoas foram baleadas - um funcionário do posto e um estudante que passava na rua no momento da ação.
A SMS também solicitou uma audiência com o comandante da Polícia Militar para avaliar qual a melhor forma de fazer a segurança nas unidades de saúde localizadas em locais de risco. Os policiais militares, solicitados para reforçar a segurança do local, conforme o gerente do posto, Roberto Navarro, já se tornaram alvo de assaltantes que querem roubar suas armas. “Em dois dos assaltos, a delegacia recebeu informações que foram buscar o aparato militar”, disse. Além de dois PMs, o posto conta com cinco vigilantes patrimoniais, que trabalham em escala.
Tentando voltar à rotina a Escola Dantas Júnior, localizada a poucos metros da unidade de saúde, contou com a presença de alguns alunos e nenhum reforço na segurança. “Ninguém da Secretaria de Educação nos procurou. Nem a polícia apareceu aqui durante a manhã inteira”, contou um dos funcionários. Com receio, algumas mães optaram por deixar os filhos em casa. “Tenho medo sim. Amanhã (nesta sexta) vou levar minha filha e ficar lá até a aula terminar”, disse a dona de casa Nadja Silva Santos, 31.
O adolescente de 16 anos baleado no assalto ao posto é aluno da instituição. Ele ainda está com dreno no pulmão e permanece no HGE. “Ele está bem e deve ficar mais cinco dias aqui”, disse o pai do garoto, o vigilante Robson Oliveira dos Santos, 40. A auxiliar administrativo Eliomar Oliveira Alves, 37, que também foi baleada no tiroteio, passou por cirurgia nesta quinta para retirar a bala alojada na face.
De acordo com a delegada Celina Fernandes, titular da 4ª CP (Delegacia de São Caetano), com a USF fechada não foi possível realizar a perícia e nesta sexta, dia 03 haverá nova tentativa. Com a operação de desarticulação de uma quadrilha de sequestradores realizada na quinta, não foi possível avançar nas investigações.
Na comunidade, uma testemunha que mora no local viu tudo de perto e afirma que três homens participaram da ação. “Eles estavam desde cedo escondidos por aqui com capacete na cabeça e 11h30 foram para o posto. Aqui é perigoso em qualquer hora do dia”.
Faltam médicos – Assim como na USF Prof. Ribeiro Santos, que há dois anos têm equipes de saúde sem médicos, há outras unidades da cidade em que médicos se negam a ir ou abandonam o trabalho por causa da insegurança. De acordo com a SMS, de 148 equipes de saúde da família em Salvador, 40 trabalham sem a presença do médico, principalmente, nas áreas periféricas. “Tivemos problemas com a terceirização, mas já estamos resolvendo com concurso e REDA. Mesmo assim, os profissionais se negam a ir para os locais de risco”, afirmou o secretário.
Conforme o vice-presidente do Sindicato dos Médicos (Sindmed), Francisco Magalhães, “há pelo menos um ano as unidades de Nova Constituinte, Fazenda Coutos e USF Centro Oeste Cândido Pereira (Lobato) estão sem médicos, sem contar as outras”. Há casos em que os traficantes chegam a avisar quando o posto não deve funcionar. “Eles falam quando há previsão de confronto, dizem o dia que deve fechar mais cedo e alguns ameaçam os médicos”, afirmou.
Na semana passada uma auxiliar no 14º Centro de Saúde (Pela Porco) foi assaltada e uma médica escapou depois de ser reconhecida. “Um dos traficantes disse para deixar ela seguir”, contou Francisco Magalhães. Em algumas unidades, os funcionários permanecem boa parte do dia com cadeados nas grades, como em Nova Constituinte.
Se aliar aos traficantes e assaltantes é uma das formas de garantir tranquilidade. “Eles protegem a gente. Fazemos curativo quando algum é baleado nesses confrontos e vamos levando”, disse uma agente de Saúde que trabalha em um posto no Lobato. “Eu estou aqui com medo. Ninguém sabe quando algo pode acontecer”, disse uma paciente que esperava o vigilante abrir o cadeado do portão para o atendimento.
*Colaborou Danile Rebouças
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