OBRAS DO BRT
Prefeitura é acusada de derrubar árvores centenárias no Lucaia
Publicação feita nas redes sociais diz que o município promove derrubada durante a madrugada para evitar comoções
Por Daniel Brito
Uma publicação feita em uma rede social acusa a prefeitura de Salvador de derrubar árvores centenárias da Avenida Juracy Magalhães Junior, no Lucaia, por onde passará o trecho 2 do BRT, que vai ligar as regiões da Estação da Lapa e do Parque da Cidade. Segundo o autor da postagem, a ação acontece "na calada da noite, enquanto a cidade dorme, em uma covarde tentativa de evitar comoção".
"A falta de sensibilidade mínima, a falta de qualquer senso estético, a falta de respeito ao meio ambiente e aos cidadãos, que encontravam um pouco de sombra no calor desértico do trânsito soteropolitano, celebram um acordo horrendo com os donos de empresas de ônibus e empreiteiras ávidas em transformarem em concreto o nosso dinheiro", escreve o autor.
A preocupação com a derrubada das árvores na região onde o BRT está sendo construído não é novidade. Desde o início das obras, em 2018, grupos que atuam em defesa do meio ambiente têm feito manifestações contra o processo.
A ambientalista Marcela do Valle, participante do movimento "Não ao BRT Salvador", afirmou que ficou sabendo da situação ao ser procurada pela reportagem. Ela ressalta que a derrubada das árvores na região já era prevista pelo próprio projeto, mas que a novidade se dá por conta do horário em que esteja ocorrendo.
"Uma das coisas mais graves é o fato de essas árvores estarem no curso de um rio, que foi desviado de seu curso natural. Essas árvores também dão suporte à sua preservação e de seu curso d'água. É extremamente grave, mas já estava previsto pelo próprio projeto. Inclusive, havia sido protocolado um projeto junto à Câmara de Vereadores para reconhecer aquela área em um santuário das árvores anciãs. Inclusive, algumas delas consagradas por religiões de matriz africana", lamentou, em entrevista ao Portal A TARDE.
O projeto ao qual Marcela se refere é o Projeto de Lei nº 222/2020, protocolado pelo então vereador Marcos Mendes (PSOL), que propunha a criação do “Santuário das Árvores Anciãs” na região onde o trecho 2 está sendo construído. Porém, a discussão não foi pautada nem na anterior nem na atual legislatura da Câmara.
Ela ressalta ainda que o corte das árvores pode ter graves consequências. "Prejudica, por exemplo, a questão da qualidade do ar, da respirabilidade, da água, do solo e sua impermeabilização. Gera impactos até mesmo na água das praias, pois a impermeabilização do solo carreia mais facilmente a água da chuva, levando desejos, esgotos para dos rios e, dos rios, para o mar. A perda de cada árvore é imensurável e é até difícil de fazer uma avaliação muito rasa", complementa.
"Estamos em uma emergência climática e isso já é um consenso mundial. As áreas verdes em espaços urbanizados têm imensa importância para fazer, inclusive, a mitigação desses impactos, que têm a ver com a emissão de gases tóxicos na atmosfera, gerada pelo uso intensivo de carros", diz, salientando que novas mobilizações em torno da questão devem ocorrer.
Também na avaliação do ambientalista e coordenador do Fórum Clima Salvador, Virgilio Machado, a continuidade da derrubada das árvores pode piorar a situação climática da capital. "Qualquer árvore que a gente perde agrava a situação, sem dúvida. O solo de Salvador já foi muito ocupado, então temos poucas áreas naturais na cidade. Cada redução que temos, portanto, tem um impacto muito maior", enfatiza. Ele expõe que Salvador tem um grande déficit de áreas verdes e de arborização, o que tornaria a capital baiana uma das menos arborizadas do Brasil.
"Pelo mundo todo, as grandes cidades estão recorrendo às chamadas 'soluções baseadas na natureza' para melhorar a qualidade de vida das pessoas e enfrentar problemas urbanos recorrentes como enchentes, ondas de calor, poluição do ar, problemas respiratórios, depressão, degradação da paisagem. O BRT não poderia jamais ser considerado como um substituto de rio e árvores. Ao contrário, um bom projeto urbanístico tem como ponto de partida a integração de meio ambiente e infraestrutura", completa.
O site oficial do projeto do BRT afirma que as obras preveem o plantio de 2 mil novas mudas e que a prefeitura conseguiu reduzir o impacto ambiental, diminuindo a retirada de 579 árvores para 154 árvores, além de transplantar 169.
A reportagem procurou a prefeitura de Salvador, através das secretarias de Mobilidade (Semob) e Sustentabilidade e Resiliência (Secis) para comentar o caso, mas não obteve retorno até o fechamento desta matéria. Ela será atualizada assim que ambas as pastas enviarem seus posicionamentos.
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