SALVADOR
Preparação para atividade policial exige esforço e união entre condutor e animal
Por Henrique Almeida* | Foto: Luciano da Matta | Ag. A TARDE
Jady se posiciona no campo de atividades. O treinador retira a coleira da cadela. Da boca dele, o comando: "Busca". Em disparada, Jady se lança em meio aos obstáculos à procura da caça. Quando finalmente encontra, é recompensada com uma bola de tênis. E nada mais importa.
Ela só tem dez meses, mas daqui a cinco será uma cadela policial formada pelo Centro de Operações Especiais (COE) da Polícia Civil. No dia a dia, doçura, obediência e esforço são características dos cães de atuação e da vida que levam no COE.
Criado há 14 anos e atualmente em processo de renovação, o canil engloba as raças cocker spaniel, pastor alemão, labrador e pastor belga malinois. Três são titulares. Destes, um é usado para detecção de explosivos em megaeventos.
Funk, de 4 anos, da raça cocker spaniel, e o pastor alemão Troy, de 4 anos e 6 meses, atuam na detecção de drogas. Foram eles, junto com a "estagiária" Jady, que ajudaram a localizar 1,5 tonelada de cocaína no último dia 18, no Porto de Salvador. Ainda completam o canil outro "estagiário" (Laica), filhotes e cadelas de reprodução.
Rotina
Pela manhã, durante a manutenção dos boxes, os cães saem para vistoria e são escovados para detectar parasitas. Eles ainda fazem natação e caminhada em áreas externas ou na base do COE, próximo ao aeroporto de Salvador.
A alimentação é fracionada e realizada duas vezes por dia com ração específica para cães de atuação policial. A inspeção veterinária também é fator importante. Além disso, os animais tomam quatro vacinas por ano, a cada quatro meses.
Cada instituição da Secretaria da Segurança Pública possui o próprio canil. Contudo, os cães de uma instituição podem ser usados pela outra. O coordenador do canil do COE, Luís Fernando Bastos, explica que os cães fazem parte de uma linhagem específica e que, embora haja raças próprias de atuação, não significa que todos os cães sejam aptos.
"Os cães que atuam com a gente são treinados de tal forma a se tornarem dóceis. Os cães bravos não servem, pois podem oferecer risco à operação. As três características principais que o cão deve ter são capacidade de busca, possessão e caça", diz Bastos.
Aptidão
Com 250 milhões de células olfativas, número 50 vezes maior que o de um ser humano, conforme explica Luís, o cão possui papel imprescindível. "No aeroporto, por exemplo, trabalhamos por lote. Vistoriamos de 90 a 100 bagagens em 20 minutos. Sem os animais, teríamos que depender do raio-x, que, às vezes, falha na detecção. Também teríamos de abrir mala por mala. Tudo isso demoraria muito".
Para a detecção de drogas ou explosivos, são exploradas a memória associativa do animal e a busca pela recompensa. O cão é exposto a uma caixa de odores, onde se coloca pequena porção da substância a ser detectada, envolta em material plástico, para ele acostumar com o cheiro. O animal não possui contato direto com a substância, então não há prejuízo à saúde dos cães.
A partir daí, nos momentos de exposição ele é recompensado com um brinquedo, que pode ser mordedor, bola de borracha. Na prática e nos treinamentos, o animal percebe que, ao identificar o material indicado pelo condutor, receberá a recompensa.
"Para eles, tudo não passa de diversão. Em uma operação só se premia o animal após ter certeza de que ele identificou o material e não apenas resíduo, pois se ele for premiado pode se perder a operação", diz o investigador Pompilho Barbosa, que crê na proximidade com o cão como elemento-chave de sucesso da operação.
A relação é essencial para saber atuar em mudança de percurso da ação. Para criar esse vínculo, alguns cães passam dias nas casas dos policiais. E, ao final dos serviços prestados, que em geral duram oito anos, podem ser doados aos policiais, a pessoas com condições de manterem a integridade do cão, ou eles ficam na base até morrer.
*Sob a supervisãoda editora Meire Oliveira
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