SALVADOR
Rebelião chega ao fim depois de 28 horas tensas
Por Helga Cirino e Samuel Lima | A TARDE*
A rebelião dos 853 presos dos módulos II e V da Penitenciária Lemos Brito (PLB) foi encerrada por volta das 15h desta segunda-feira, 8, com a confirmação da saída dos últimos dos 294 visitantes da unidade. Nas cerca de 28 horas que durou o motim (deflagrado no final da manhã do último domingo), dois agentes penitenciários e dois acompanhantes de um deles foram mantidos reféns pelos presos.
Segundo o coronel PM Francisco Leite, superintendente de assuntos penais da Secretaria de Justiça, Cidadania e Direitos Humanos, os presos desistiram de continuar o movimento após receber garantias de que os 12 colegas de cela transferidos à Unidade Especial Disciplinar (UED) – os rebelados exigiam o retorno deles à PLB – teriam seus casos analisados individualmente pelo Poder Judiciário.
“Com a abertura do diálogo, foi possível colocar a posição do Estado, e os presos cederam”, relatou Leite. Após três tentativas frustradas de negociação, foram chamados de volta à PLB como interlocutores os internos André Francisco dos Santos, o Bilu, e Edmar Conceição dos Santos, ambos incluídos na lista dos transferidos à UED – e onde continuam reclusos.
A rebelião terminou sem feridos. Entre os reféns, o agente João de Oliveira Almeida, 60 anos, que também é pastor evangélico, precisou de maiores cuidados médicos por ser hipertenso. Ele e o agente Aurelino Silva dos Santos, além de Jorge Santos Martins e Luís Márcio, ambos evangélicos, foram libertados antes das 14h.
Um deles teria vivido momentos de terror. Imagens veiculadas em uma emissora de TV e que teriam sido gravadas por agentes da PLB mostravam um homem amarrado em um colchão, enquanto presos derramam um líquido sobre ele. Alegando não ter conhecimento das imagens, Francisco Leite disse acreditar que tudo não passaria de encenação. “Os presos não têm acesso a álcool e nem a galões de solvente, como foi divulgado. Eles sabem que há câmeras de vigilância e podem ter encenado tudo. Mas vamos apurar como as imagens chegaram à imprensa”, disse.
Entre os visitantes que iam deixando a PLB, a maioria mulheres, eram unânimes as reclamações contra o diretor da unidade, Izidoro Orge. Por outro lado, o motim foi tido como “tranqüilo” para umas, mas também de amedrontador para outras. Durante a rebelião, o momento de mais tensão foi pela manhã.
Os amotinados passaram a ameaçar de morte internos condenados por crimes de violência sexual, pouco depois de a luz ser cortada. “Se eles invadirem e não ligarem a luz, os estupradores e cagoetes (gíria usada para definir informantes da polícia) vão lombrar. Vamos começar por um amarrado aqui na cela”, prometeu um dos presos, por telefone, em uma das freqüentes ligações feitas a familiares do lado de fora da PLB.
Governador – Cumprindo agenda de inaugurações em Lauro de Freitas (Região Metropolitana de Salvador), o governador Jaques Wagner disse ontem que “infelizmente em função de várias atuações que temos feito na melhoria e no controle maior daquela unidade prisional, houve uma rebelião, já sob controle. Longe de ser aquilo que considero ideal, mas estamos construindo presídios para fazer a melhora”.
* Colaborou Luiz Lasserre | A TARDE
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes