“A lama levou tudo", diz morador de barraco que desabou na Ceasa | A TARDE
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“A lama levou tudo", diz morador de barraco que desabou na Ceasa

Quatro pessoas estavam dentro do barraco; ninguém se feriu gravemente

Publicado sexta-feira, 04 de março de 2022 às 17:32 h | Atualizado em 04/03/2022, 18:43 | Autor: Bianca Carneiro
Barranco localizado na invasão Deus é Fiel cedeu e derrubou barraco instalado na região
Barranco localizado na invasão Deus é Fiel cedeu e derrubou barraco instalado na região -

Era por volta das 9h, quando Micael Oliveira acordou com o susto. A lama havia tomado todo o barraco enquanto ele, a esposa, a sogra - que tem deficiência física -, e a filha, uma bebê de apenas 11 meses, dormiam. A perda foi total, mas entre todos os prejuízos, a gratidão por não ter perdido o seu bem mais precioso: a vida. Felizmente, ele e a família tiveram apenas ferimentos leves.

O caso aconteceu nesta sexta-feira, 4. O barraco onde Micael morava, localizado na invasão Deus é Fiel, em Ceasa 2, era encostado em um barranco que acabou cedendo com a forte chuva que atinge Salvador, desde a quinta-feira, 3.

“A lama levou tudo, não sobrou nada, tudo que a gente tinha foi enterrado. Agora estamos imaginando o que vamos fazer, onde ficaremos”, conta ele. 

Alojada na casa de um vizinho, a família disse que uma equipe da Secretaria Municipal de Promoção Social, Combate à Pobreza, Esportes e Lazer (Sempre) esteve no local e fez a doação de um colchão e fraldas para a bebê. No entanto, não foi oferecido nenhum tipo de auxílio financeiro ou abrigo temporário, segundo Micael. Desempregado, ele, que faz bicos para sustentar a família, se preocupa com o futuro e pede ajuda.

"É uma situação precária, eu como pai de família, me sinto triste, e não podemos ficar aqui para sempre, pois vai chegar uma hora que será um incômodo para nossos vizinhos. Os móveis que a gente lutou, batalhou para comprar, para do nada acabar assim. Meu sofá ficou totalmente destruído, minha cama. A única coisa que conseguimos salvar foi o celular, com a ajuda do pessoal aqui’, lamenta.

Vizinhos ajudaram a família a recuperar alguns itens
Vizinhos ajudaram a família a recuperar alguns itens |  Foto: Olga Leiria | Ag. A TARDE
  

Procurada pela equipe de reportagem do Portal A TARDE, a Sempre afirmou que a família recebeu apoio e terá os benefícios iniciais, que são os auxílios moradia no valor de R$ 300, e emergencial, que varia de um até três salários mínimos, mais provisões emergenciais. O órgão também disse que os itens entregues, citados por Micael, -  cestas básicas, colchões, kit dormitório e enxoval - são emergenciais, sendo distribuídos até que os auxílios sejam pagos. 

Em nota, a assistente social, Ivana Ramos, disse que sobre o abrigo inicial, a família "expressou o desejo de não se dirigir para uma das nossas Unidade de Acolhimento (UAIs), sob a justificativa de que, na comunidade, possuem uma ampla rede de apoio comunitário e ficarão na casa de vizinhos”.

No entanto, Micael disse que não chegou a ser comunicado sobre o abrigo ou o pagamento dos auxílios citados pela Sempre.

Prefeitura avalia situação 

A situação provocada pelas chuvas nas últimas horas foi avaliada pelo prefeito Bruno Reis e gestores municipais, na tarde desta sexta-feira, 4, na sede da Defesa Civil de Salvador (Codesal), na Avenida Mário Leal Ferreira (Bonocô). A reunião ocorreu com as presenças da vice-prefeita, Ana Paula Matos, do diretor-geral da Codesal, Sosthenes Macêdo, e da equipe técnica do Centro de Monitoramento de Alerta e Alarme da Defesa Civil de Salvador (Cemadec) composta por de meteorologistas, engenheiros, arquitetos e técnicos.

Segundo o gestor do Executivo municipal, a cidade está preparada para auxiliar os cidadãos neste período de chuvas. A prefeitura disse ainda que está atenta para acionar, se for preciso, o Sistema de Alerta e Alarme nas áreas de risco.

“Nas últimas 48 horas, em algumas regiões da cidade, já choveu algo em torno de 140 mm. Isso é quase o que estava previsto para todo o mês de março. Nas principais áreas de risco monitoradas a precipitação de chuvas já chega perto de 130 mm. Caso esses números cheguem perto de 150 mm, vamos precisar da colaboração da população para realizar a evacuação. Toda nossa equipe está mobilizada”, detalhou Bruno Reis.

Conforme a prefeitura, a cidade recebeu diversos investimentos em obras de macrodrenagem e em contenção de encostas. Atualmente a capital baiana conta com 340 áreas de risco protegidas na cidade com contenções e geomantas, possibilitando às famílias que residem nestas localidades segurança nos períodos chuvosos. Há ainda outras 40 áreas passando por intervenções para proteção neste momento, de acordo com o órgão.

Uma rede de monitoramento composta por 71 Plataformas de Coleta de Dados (PCDs), entre as quais, 48 estações pluviométricas, quatro estações hidrológicas, três estações meteorológicas e 15 estações geotécnicas (equipamentos da Codesal e do Cemaden), avalia as chuvas.

Até as 17h desta sexta-feira, a Codesal registrou 260 ocorrências na capital. O maior quantitativo de ocorrências foi de ameaças de deslizamento com 60 registros. Na quinta-feira, 3, foram mais de 160 ocorrências registradas pelo órgão ao longo do dia.

Com a frente fria instalada em Salvador neste final de semana, a Codesal permanece em esquema de plantão 24 horas, atendendo às solicitações pelo telefone gratuito 199. Além disso, o órgão tem utilizado o serviço de mensagem de texto (SMS) enviado para o celular, onde o cidadão recebe informações sobre situações de risco que podem ser provocadas, principalmente, pelo período chuvoso. A inscrição pode ser feita através do número 40199.

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