SALVADOR
Software promete simular efeitos de drogas ilícitas, como maconha e cocaína
Por Fabiana Mascarenhas, do A Tarde
Um fone de ouvido e um computador. Com a ajuda deles, o acesso ao mecanismo de um software capaz de simular os efeitos das mais variadas drogas. Apesar de ser difícil de acreditar, é justamente essa a promessa dos criadores do software I-doser.
Sem fumar, cheirar, injetar ou ingerir qualquer substância química, eles garantem ser possível alterar o estado da mente por meio de diferentes sons que simulam o consumo de drogas lícitas e ilícitas, como maconha, álcool, cocaína, ecstasy, ópio, café, antidepressivos, relaxantes ou estimulantes, além de variações sintetizadas pelo próprio fabricante. O uso do software, no entanto, é questionado por alguns especialistas por falta de comprovação científica sobre a isenção dos possíveis riscos para a saúde.
Para experimentar as “drogas virtuais”, o usuário precisa baixar o programa no site oficial www.i-doser.com e comprar uma “dose”, um arquivo que vem com os sons sincronizantes. Existem mais de 170 “doses” com preços que variam entre R$ 5,50 e R$ 400. Há ainda a opção de testar amostras grátis como as de álcool e café. Há, no entanto, sites piratas que disponibilizam as doses gratuitamente.
A simulação dura o período do áudio – cinco minutos a meia hora, tempo médio de cada dose. A recomendação é usar um bom fone de ouvido e ficar de olhos fechados, em ambiente com pouca luz. Os sons são variados e simulam o uso de ópio, ecstasy, morfina e até a sensação do orgasmo.
Usuários – Em diversos sites da internet e no site oficial do software www.i-doser.com, não faltam relatos de pessoas que utilizaram a droga virtual, como vem sendo chamada. “Cara, eu não botei fé nisso. Mas depois de usar, comprovei, isso funciona. Cocaine dá um sono. Muito irado”, revela Vini Buri, ao contar sua experiência em uma das comunidades na internet. Há, no entanto, pessoas que afirmam não sentir efeito nenhum. “Eu usei o programa e fiquei com uma baita dor de cabeça por causa do barulho, mas não senti nenhum efeito, acho que é lorota”, diz Diego Xavier.
Apesar da promessa de poder usar todas as drogas sem nenhum efeito colateral, especialistas alertam que não há comprovação científica na proposta. “Isso é uma bobagem, não tem o menor fundamento. É impossível um som reproduzir o efeito químico de uma droga. Nada consegue simular o efeito de uma droga, se não a própria droga”, afirma o psiquiatra Aderbal Vieira, responsável pelo ambulatório de tratamento de dependências não-químicas do Programa de Orientação e Atendimento a Dependentes da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp). Sobre os diversos relatos dos “usuários”, o psiquiatra afirma que pode haver uma “auto-sugestão”. Isso quer dizer que o ouvinte da “dose” pode sentir efeitos semelhantes aos das drogas apenas porque quer acreditar.
Opine: Você acha que o software I-doser contribui para estimular o uso de drogas?
As melhores respostas serão publicadas no caderno Ciência&Vida do Jornal A Tarde de 22.06.
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