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16/05/2023 às 5:15 | Autor: Da Redação

LEITE MATERNO

Solidariedade garante alimento para milhares de bebês

Bancos receberam mais de 18 mil litros nos últimos três anos, mas há unidades com estoques críticos

Em uma ronda podem ser coletados de 300 a 500 ml de leite materno
Em uma ronda podem ser coletados de 300 a 500 ml de leite materno -

Victória Asfora é mãe dos gêmeos João e José, que nasceram de 31 semanas e precisaram ser encaminhados para a Unidade de Terapia Intensiva (UTI) da Maternidade de Referência Professor José Maria de Magalhães Netto, unidade da Secretaria de Saúde da Bahia (Sesab).

“Enquanto eles estavam na UTI, não consegui tirar uma gota de leite e descobri que eles não estavam aceitando a fórmula”, lembra a soteropolitana de 25 anos, com os olhos marejados. “Entrei em desespero. Como eles iam ficar com fome?”

Victória conta que foi assim que conheceu o sistema de bancos de leite que o Estado mantém.

“As enfermeiras da maternidade conversaram comigo e me disseram para ficar tranquila, que meus filhos iam receber o leite materno vindo das doações”, relata. “Isso trouxe uma felicidade sem tamanho para o meu coração.”

De beneficiada, Victória tornou-se doadora de leite, assim como Tamires Almeida, de 28 anos, que deu à luz ao pequeno Guilherme no início do mês, na mesma maternidade. “É muito legal saber que estou ajudando outros bebês que precisam, salvando vidas”, destaca.

Somente nos últimos três anos, os oito bancos de leite do Estado receberam um montante superior a 18 mil litros de leite doados, garantindo alimento para milhares de bebês de toda a Bahia. As unidades ficam localizadas em Salvador, Feira de Santana, Itabuna e Vitória da Conquista, atendendo bebês de diversas regiões do Estado.

Coordenadora do Banco de Leite da Maternidade de Referência Professor José Maria de Magalhães Netto, Laís do Nascimento explica que os espaços têm como principal função coletar, processar, armazenar e distribuir leite humano proveniente dos hospitais e maternidades que fazem parte da rede estadual de saúde.

“Não existe nada melhor para a alimentação dos bebês do que leite materno, leite humano”, afirma Lais. “Quando falamos sobre prematuros, essa nutrição é ainda mais importante. Na ausência do leite da mãe, o leite materno pasteurizado, fruto das doações, é a melhor indicação. Esse leite salva vidas.”

Desde o cadastro de uma mãe como doadora até o leite se tornar fonte de alimento de um bebê, o processo é acompanhado de perto por diversos profissionais de saúde, que asseguram a qualidade e descartam qualquer tipo de contaminação.

Somente nos primeiros meses de 2023, os bancos de leite da Bahia já arrecadaram quase 2 mil litros. Nesse período, o banco que funciona no Hospital Municipal Esaú Matos (HMEM), em Vitória da Conquista, foi o que teve o maior número de doações, totalizando 369 litros, seguido pelo banco do Hospital Estadual da Criança (HEC), em Feira de Santana, com 312 litros, e o da Maternidade de Referência Professor José Maria de Magalhães Netto, em Salvador, com 261.

Balanço

Apesar de o número representar uma melhora significativa nas doações, algumas unidades ainda precisam lidar com os baixos estoques do líquido que é capaz de salvar vidas. Um levantamento feito pela Sesab mostra que, nas primeiras semanas de maio, dois bancos de leite estão com estoque crítico: o do Instituto de Perinatalogia da Bahia (Iperba) e o localizado no Hospital Geral Roberto Santos (HGRS), ambos em Salvador.

Coordenadora de enfermagem do Banco de Leite do HGRS, Nilma Azevedo explica que a baixa do estoque é uma preocupação constante. “Nós somos uma maternidade e um banco de leite dentro de um hospital geral, atendemos um volume muito grande de bebês”, reforça. “Agora, mais do que nunca, precisamos de ajuda das doadoras para manter o Banco de Leite do Roberto Santos atendendo.”

Como forma de estimular a doação, uma iniciativa simples da Maternidade de Referência Professor José Maria de Magalhães Netto tem rendido um aumento significativo nas doações. A equipe transformou um carrinho de emergência em posto de coleta móvel e, em pouco mais de dez meses, viu as doações aumentarem em cerca de 20%. No carrinho, estão disponíveis a bomba elétrica, o kit de ordenha, material para higienização das mãos e das mamas, equipamentos de proteção para uso da doadora, como touca e máscara, luva de procedimento para a técnica fazer a abordagem e material para etiquetagem.

Com o posto móvel equipado, as profissionais seguem até as enfermarias e fazem a ordenha sem que as mulheres necessitem se deslocar até o térreo da maternidade, onde fica o banco de leite. “É uma oportunidade de irmos até a mãe e, desta forma, favorecermos mais conforto para elas, ordenhando do lado do seu bebê, durante o momento que estão na enfermaria, sem a necessidade de deslocamento até o banco de leite”, afirma Laís, explicando que, em uma ronda podem ser coletados de 300 a 500 ml de leite materno.

Como estratégia para aumentar o estoque e suprir as necessidades dos bebês atendidos pelos bancos de leite, a Sesab vem investindo em campanhas de doação e na praticidade do processo, fazendo com que mais mulheres façam parte dessa corrente de solidariedade.

Para se tornar doadora, é preciso apresentar exames de HIV, HTLV, Sífilis e hepatite B. Toda mulher que amamenta pode fazer a doação de leite, basta estar saudável e não tomar nenhum tipo de medicamento que interfira na amamentação. Com a liberação médica, a mãe pode iniciar a doação do leite por duas formas: presencial, nos postos de coleta, ou de casa, contando com o serviço de coleta domiciliar.

Hoje, os oito bancos de leite baianos disponibilizam o serviço de coleta. “Fornecemos os kits com frascos estéreis, toca e máscara”, explica a coordenadora do banco do HGRS.

“Além disso, as técnicas dão todo esse suporte de orientação sobre a coleta. Se a mãe não tiver os exames, ela pode realizar no HGRS de forma prática e fácil e, após a validação, programamos as datas para recolher esse leite em domicílio.”

Contando os dias para voltar para casa com os pequenos José e João, Victória garante que vai seguir doando leite materno, mas, a partir da alta, diretamente de sua residência. “Saber que eu posso retribuir o bem que fizeram aos meus filhos é o melhor motivo para seguir doando e fazendo o bem”, testemunha.

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