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SALVADOR

Tradição, fé e simpatia

Por Meire Oliveira, do A Tarde

26/09/2007 - 23:36 h

As oferendas a São Cosme e São Damião, com o passar do tempo, ultrapassaram o universo do candomblé. Na verdade, mesmo praticando outras religiões, pelo desejo de agradecer conquistas ou por pura simpatia aos santos, muitas pessoas fazem o ritual de oferecer caruru, comida específica das religiões de matrizes africanas. Promessas, respeito, admiração ou apenas simpatia transformaram em tradição as homenagens.

Alguns gestos, como servir primeiro a comida dos santos, reunir sete meninos ao redor de uma bacia na mesa ou no chão e cantar músicas dedicadas a Cosme e Damião, acabaram assimilados de forma inconsciente, ou não, por boa parte dos admiradores das divindades, que, no candomblé, estão associados aos cultos para o orixá Ibeji.

O fenômeno tão natural na cidade é fruto de uma reinterpretação cultural do povo negro, segundo o antropólogo Ordep Serra. “Com a proibição de praticar sua religião, eles fizeram uma releitura do cristianismo a partir do seu próprio código, de forma inteligente e criativa. Por isso, o culto transcendeu os limites do candomblé e foi assimilado pelos católicos”.

No entanto, a associação de uma mitologia por outra, ambas com repertório rico, não é uma exclusividade dos religiosos do candomblé e também foi feita pelo catolicismo com apropriação de divindades do rito greco-romano, os irmãos gêmeos Castor e Pólux, conhecidas como dióscuros (dios kouroi = filhos de Zeus). Seu culto era muito popular entre os gregos e no sul da Itália. “E tudo isso foi sempre feito com muita harmonia. O catolicismo veio depois e não repeliu os cultos anteriores. Apenas rebatizaram as divindades já existentes”, disse.

A solidificação dessas fusões ocorreu pelo resultado positivo. “É bonito, interessante e tem um poder enorme de congraçamento entre as pessoas. Todo mundo comemora em clima de alegria. Quem não gosta disso?”, questiona Ordep Serra.

Assim como acontece entre pessoas de religiões que não pertencem à matriz africana, a realização do caruru independe da classe social. O antropólogo e professor da Universidade Federal da Bahia (Ufba) Vivaldo da Costa Lima escreve no livro Cosme e Damião: o culto aos santos gêmeos no Brasil e na África: “O caruru de São Cosme transcende as classes de que se teria originado, é uma obrigação e uma festa, é uma antiga tradição renovada, acrescentada de novos elementos de fantasia, de solidariedade e de alegria”.

O tamanho é mensurado, geralmente, pela quantidade de quiabos. Mas há quem diga que ele pode ser servido de acordo com o poder aquisitivo de cada um. “Na Bahia, terra tradicional por excelência, a família, quer seja rica, pobre ou da classe média, como também branca, preta ou mulata, comemora os santos Cosme e Damião obedecendo ao ritual da Igreja Católica, acompanhando os festejos com um pouco dos usos e costumes do feitiço africano”, disse Hildegardes Vianna, no livro Bahia, Cidade Feitiço.

No ano em que não for possível fazer um caruru grande, a oferenda aos santos basta para lhes agradar, como alguns costumam realizar, e pronto. Mas os depoimentos mostram que sempre o dono da casa recebe ajuda inesperada para tudo sair como planejado. É o caso da seguidora do espiritismo Guiomar Dantas dos Santos, 50 anos, que encontrou a solução por meio de um sonho.

Ela conta que em um dado ano da década de 80 estava sem dinheiro até para comprar comida em casa. E na véspera do dia 27 de setembro foi dormir com uma preocupação a mais: a possibilidade de não fazer o caruru daquele ano.

Enquanto dormia, segundo ela, foi acordada por uma voz que a ordenava escrever um número. Sem papel por perto, riscou na parede mesmo e voltou para a cama. Logo pela manhã, uma amiga pagou uma dívida em dinheiro. Aí veio a intuição de apostar em um jogo de azar usando o número revelado no sonho.

“Nem lembrei que não tinha comida em casa. Peguei o dinheiro todo e joguei”. No início da tarde, o resultado foi surpreendente: a quantia foi tão grande que, além dos ingredientes, Guiomar ainda comprou um fogão. “Na mesma hora, comprei tudo do caruru e ainda sobrou dinheiro. Com eles (Cosme e Damião), tudo rende”, acredita.
Mas, no final das contas, fala mais alto o encanto pela festa. Comemoração na qual não há convidados. Quem for atraído pelo cheiro ao passar pela entrada das casas pode entrar. É só comer e se deixar levar pela alegria que simboliza o culto as divindades gêmeas.

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