SALVADOR
Um bairro no centro onde quase tudo mudou
Por Danile Rebouças, do A TARDE
Roças, hortas, muito verde e clima interiorano. Barris era assim no século XIX. Perto do centro e ao mesmo tempo longe, porque não existia as vias de ligação. As residências eram poucas e o Vale dos Barris era dominado por plantações hortaliças e árvores frutíferas. Havia também uma fonte, muito usada pelas famílias quando faltava água. Os militares também se concentraram por bom tempo no bairro. Lá estava o Quartel de Cavalaria da Polícia Militar da Bahia, que abrangia parte da área onde hoje é a Praça Almirante Coelho Neto.
A Rua Almeida Santos, região abaixo da praça, conhecida antes como Roça dos Lobos, era habitada por descendentes de militares. Pouco havia de construções. A Escola Nossa Senhora do Salete, hoje instituto, foi uma das primeiras edificações do bairro, em 1858. A conhecida Rua do Salete chamava-se Rua dos Currais Velhos. “Nessa época, só havia pomar, mangueira, a Roça dos Lobos e muita gente pobre”, relata a irmã Maria Helena Azevedo, atual diretora da instituição.
Na região da Biblioteca Central, de acordo com moradores mais antigos, estava localizada a roça da família portuguesa Ferreira Moreira, desapropriada mais tarde pelo Estado. Em 1905, a Fundação Visconde de Cairu se instalou no bairro, em área à frente do Salete, com a proposta de formar jovens para cargos de chefia.
Lembranças – As histórias e casos dos Barris são lembranças relatadas por antigos moradores, como Adalberto Félix, 84 anos. Desde 1939 ele mora no bairro, no terceiro casarão construído, conforme informa. A construção obedece ao estilo colonial alemão e foi lá que seu pai, o libanês Miguel Félix, morou com os 12 filhos. “Em 1939, a Caixa Econômica comprou a área do quartel e loteou, facilitando o pagamento para muita gente”, conta. Na rua da praça, oito casarões foram construídos. “As famílias sentavam nos passeios e ficavam horas conversando”.
Até a década de 50, não existia ligações do bairro com o centro da cidade como existe hoje. O Vale dos Barris foi construído somente na década de 70, sendo o Viaduto de São Raimundo uma das primeiras ligações. Nesse período, o bairro inicia uma nova fase e passa por rápidas transformações até chegar à mistura que representa hoje: residencial, comercial, cultural e com forte marca educacional. Um dos primeiros sinais de mudança foi a construção da sede da Biblioteca Pública do Estado da Bahia, em 1970.
A biblioteca aumentou o fluxo de pessoas nos Barris. No início da década de 80, a construção da Estação da Lapa contribui também para o novo perfil do bairro. Surgem edificações, alimentadas pela facilidade do transporte público. Instituições de educação se firmam no bairro, tanto públicas quanto particulares. Pouco tempo depois, em 1985, a chegada do Shopping Piedade e, em 1996, do Center Lapa, fortalece o caráter comercial dos Barris.
Nessa mesma década, o Complexo Policial dos Barris é instalado no vale. Seguindo uma linha arquitetônica de forma arredondada, o complexo abriga o Departamento de Tóxicos e Entorpecentes e sua respectiva delegacia (DTE), a Delegacia de Homicídios (DH) e a 1ª Circunscrição Policial (1ª CP).
As famílias tradicionais começam a se mudar para Pituba, Canela, Barra. “Nesses locais, haviam iniciado a construção de prédios grandes e a novidade era morar em apartamento”, lembra a professora Flor de Liz Couto, nascida e criada no bairro. Os casarões coloniais são vendidos e alugados para clínicas, casas comerciais, instituições de ensino, sindicatos, conselhos profissionais. Na rua da Praça Almirante Coelho Neto, por exemplo, dos oito casarões existentes, apenas um, o de Adalberto Félix, continua sendo residencial.
A Rua Junqueira Ayres também perde as famílias que lá moravam e ganha intenso comércio. “Aumenta o movimento, mas também ganhamos nosso conforto para ir às compras, são vantagens e desvantagens”, opina Flor de Liz, que considera os Barris um local “maravilhoso para se morar”.
Leia íntegra da matéria na versão impressa do jornal ou na versão digital neste sábado
Compartilhe essa notícia com seus amigos
Siga nossas redes