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Uso de tecnologias otimiza trabalho das forças policiais

Reconhecimento facial, dados cruzados e inteligência artificial têm sido ferramentas essenciais

Publicado domingo, 14 de abril de 2024 às 08:12 h | Autor: Priscila Dórea
1500 foragidos foram presos pelo sistema de reconhecimento facial
1500 foragidos foram presos pelo sistema de reconhecimento facial -

O uso das mais variadas tecnologias – sobretudo o cruzamento de dados e a inteligência artificial (IA) – tem equipado o setor de segurança de tal forma que, não só o trabalho das forças policiais e órgãos de segurança têm sido otimizado, mas também se tornando mais eficiente. Um bom exemplo foi a marca alcançada no último final de semana no estado: a Secretaria da Segurança Pública do Estado da Bahia (SSP-BA) capturou o 1.500º foragido da Justiça por meio do sistema de reconhecimento facial.

“Para ser implantado e utilizado, o sistema de reconhecimento facial precisou de um protocolo desenhado e estabelecido não apenas pela SSP-BA, mas também pelas polícias Civil, Militar e Técnica, além de outras superintendências da SSP. Faz cerca de cinco anos que o reconhecimento facial se tornou uma ferramenta para o cumprimento de ordens judiciais, e hoje já está presente em 81 municípios baianos, tudo isso graças à ação integrada das forças”, explica o Major Moisés Travessa, superintendente de telecomunicações da SSP-BA.

Ao soar do alarme que uma das câmeras do sistema reconheceu um fugitivo, a guarnição mais próxima é acionada – que pode ser da Civil, Militar e até da Guarda Municipal. Os dados desses procurados são do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e na hora da abordagem essas informações são checadas e confirmadas mais uma vez. “Além disso, o alarme só toca se a compatibilidade das imagens do sistema do CNJ e as captadas pelo reconhecimento facial baterem, no mínimo, 90%”, explica o Major.

Engenheiro de IA em sistemas avançados de produção e professor da Uniruy, Roney Camargo Malaguti explica que o reconhecimento facial funciona a partir da captura da imagem do rosto de uma pessoa – geralmente em vídeo ou fotografia –, que então é analisada a partir de suas características. “São pontos de referência, como distância entre os olhos, formato do queixo, contornos das maçãs do rosto, entre outros. Esses dados são então convertidos em uma representação digital, um conjunto de números que é único para cada rosto”.

Esse perfil então é comparado com uma base de dados para encontrar uma correspondência. É um processo, explica o professor, que envolve algoritmos de inteligência artificial, especialmente redes neurais, que aprendem com uma grande quantidade de dados, para assim “aumentar sua precisão na identificação de faces em diferentes condições de iluminação, ângulos, expressões faciais e ocultamentos parciais”, lista Roney Camargo Malaguti.

Início em 2019

O reconhecimento facial ficou especialmente conhecido na capital baiana durante o Carnaval de 2019, quando o primeiro foragido foi capturado. E hoje, as forças da segurança pública seguem investindo em mais tecnologia, afinal, “na medida em que os criminosos se especializam, valendo-se, inclusive, da tecnologia para a prática delituosa, as forças de segurança devem atualizar suas capacidades de prevenção e de repressão da criminalidade comum e organizada”, afirma o delegado da Polícia Civil André Augusto Barreto Oliveira, superintendente de Gestão Integrada da Ação Policial (SIAP).

O videomonitoramento inteligente se destaca com o reconhecimento facial e o reconhecimento de placas veiculares – que na última quinta-feira (11), inclusive, encontrou um veículo roubado apenas 40 minutos após o crime. Já na sexta-feira (12), ambos os programas foram apresentados a delegação da Província de Shandong, na China, que visitou o Centro de Operações e Inteligência da SSP-BA, no CAB. Na ocasião, a comitiva chinesa discutiu com representantes das quatro Forças da Segurança sobre os métodos e tecnologias aplicados no estado.

Além dos programas de reconhecimento facial e veicular, as Superintendências de Gestão Tecnológica e Organizacional (SGTO), de Telecomunicações (Stelecom) e de Inteligência (SI) apresentaram também o Alerta Cidadão, plataforma utilizada para emergências em casos de roubos e furtos. Subsecretário da SSP-BA, Marcel de Oliveira destacou a possibilidade da troca de informações e tecnologia. “Maioria das nossas ferramentas é da China e esse encontro pode resultar em mais segurança e aprimoramento para a Bahia”.

O inspetor de nível I da Secretária de Segurança Pública da Província de Shandong, Huai Guodong, afirma que a ida dos representantes da pasta baiana à China alinhará ainda mais o combate ao tráfico de drogas e o crime organizado. “Temos novidades todos os anos e conhecer essas novas tecnologias é fundamental. Ficamos impressionados com o que vimos aqui, está na hora deles conhecerem o que implantamos”.

E entre as outras tecnologias usadas pelas forças policiais, estão também os softwares de inteligência que permitem, por exemplo, a identificação de autores de delitos praticados pela internet, e até extração e análise de dados de dispositivos apreendidos, explica o superintendente da SIAP André Augusto Barreto Oliveira, que ainda afirma, sem sombra de dúvida, que a próxima etapa será uma ampla utilização de IA na segurança pública.

E essa demanda por mais soluções baseadas em IA e automação é uma crescente no mercado, afirma a presidente da Associação Brasileira das Empresas de Sistemas Eletrônicos de Segurança (Abese), Selma Migliori. “A indústria hoje tem dedicado esforços consideráveis para minimizar erros e falsas identificações, implementando algoritmos mais sofisticados e treinando modelos com conjuntos de dados mais diversificados. São esforços fundamentais para garantir confiabilidade e eficácia desses sistemas”, afirma.

Sistemas esses que não se resumem apenas a levar esse monitoramento que traz mais segurança para a população, pois os avanços que a tecnologia trouxe para a telecomunicação policial também têm sido notáveis. Com o uso da tecnologia LTE na capital e RMS, além da comunicação, se passou a transmitir dados e mídias através de equipamentos que deixaram de ser meros radiocomunicadores.

“No interior, já se tem a tecnologia digital TETRA, garantindo segurança nas operações. Para aqueles locais onde não há sequer cobertura da rede de celular, a SSP dispõe de veículo dotado de uma ERB (estação rádio base) móvel, permitindo a comunicação entre as equipes durante operações nesses locais”, explica o superintendente André Augusto Barreto Oliveira. E claro, ainda há espaço para mais avanços tecnológicos.

No setor da segurança, aponta o especialista em ciência de dados, coordenador e professor dos cursos de Tecnologia da Informação (TI) da Wyden, Sebastião Rogerio, a inteligência artificial, a análise de big data, o monitoramento em tempo real e a segurança cibernética são apenas algumas das áreas que podem se beneficiar de uma maior integração.

Um melhor uso da tecnologia pode ajudar a expandir e melhorar a prevenção de crimes, afirma o professor, assim como a resposta a emergências, investigação forense, gestão de crises e proteção de infraestruturas críticas. “No entanto, é importante garantir que esses avanços sejam acompanhados por políticas adequadas, treinamento adequado e considerações éticas para garantir que sejam usados de forma responsável e benéfica para a sociedade como um todo”, salienta Sebastião Rogerio.

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