SALVADOR
Vilas do Atlântico: de point do verão a bairro residencial
Por Emanuella Sombra, do A Tarde
>> Taxa de segurança privada não agrada a todos
Há três décadas, quando a primeira comunidade planejada da Bahia saiu do papel, havia uma distância enorme entre dizer “eu moro” e “eu tenho casa” em Vilas do Atlântico. Foi questão de tempo. Inicialmente pensado como veraneio das classes média e média alta, aos poucos o pseudocondomínio se transformou em bairro nobre. Em lugar dos antigos moradores sazonais, gente disposta a plantar raiz nos sossegados loteamentos costeiros de Lauro de Freitas, mais atrativos do que as distantes praias além-pedágio.
“Com o passar dos anos muita gente veio morar aqui. Há muito turista, mas a proporção praticamente se equilibrou”. O contador José Geraldo Moura, 56 anos, avalia a transformação do bairro com a propriedade de quem passou metade da vida nele. As estatísticas, a seu favor, apontam o que ele constatou pela observação. Estimada em 10 mil, a população flutuante foi superada pelos moradores fixos, hoje em torno de 16 mil habitantes.
Idealizada no final da década de 70 pela Construtora Odebrecht, Vilas foi erguida sobre 3 milhões de metros quadrados iniciais, inspirada no conceito de villages europeus. Projetada como reduto de férias, a idéia era de que – no futuro – atendesse ao poder aquisitivo dos funcionários do Pólo Petroquímico. Com estimadas 4 mil residências e 280 estabelecimentos comerciais, é hoje o que pode se chamar de “ilha” abastada em meio a um cinturão de pobreza.
IDH - Os dados atestam a projeção. Vilas ostenta os maiores Índices de Desenvolvimento Urbano (IDH) e Expectativa de Vida da Região Metropolitana – 0,88 para 1 e 70 para 41 anos –, inferiores apenas a bairros soteropolitanos como Itaigara, Horto Florestal e Caminho das Árvores. Hospitais, clínicas estéticas, escolas, bares, restaurantes, uma numerosa quantidade de petshops, clubes de hípica e tênis, faculdades... O alto padrão de vida suscitou numerosos serviços, alguns encontrados somente ali.
“Oito, nove e dez isso só nesta rua”. O cálculo puxado à memória, enquanto aponta com o indicador a direção dos concorrentes, faz Delzita Irineu Lopes, proprietária de uma loja de ração para animais, constatar uma estatística meio absurda. Na Luís Tarquínio, avenida convencionada como território de Vilas, há mais de dez petshops. Reza a lenda que o número total supera a quantidade de farmácias e padarias do loteamento.
“Como o bairro foi ficando residencial, as pessoas têm mais propensão a criar bichos”, deduz Antônio Carlos Almeida, advogado e coordenador da Associação dos Amigos do Loteamento Vilas do Atlântico (Salva). A demanda, segundo ele, tem a ver com a quantidade de casas, onde a segurança doméstica é reforçada por cães de grande porte. Não tão grande como os animais do hipismo, outra particularidade que atrai, diariamente, praticantes inclusive de Salvador.
João Batista Andrade Júnior, 43, professor da Escola Equitação Equoterapia Jaguar, diz ser esta a razão para que muitos percorram diariamente a Avenida Paralela rumo a Lauro de Freitas, fazendo o caminho inverso dos que trabalham na capital e moram no interior. No caso dele, o trajeto diário até Vilas se dá por uma questão meramente financeira. “O custo de vida é muito alto, o aluguel é caro. A alimentação nem tanto, mas é inviável morar”, explica.
Esta não é uma opinião consensual. “Ah, você mora em Vilas do Atlântico, então você é ‘barão”, reproduz o português Antônio Portela, 67 anos, a provocação dos amigos de fora. Ele discorda. Há oito anos acostumado às delicatessens cujos preços “são praticamente iguais aos de Salvador”, Portela só reclama do trânsito, insuportável tanto na semana como no feriado.
Vilas realmente não se imunizou contra os problemas típicos da urbanização desordenada, apesar dos índices sociais invejáveis. Proprietário do tradicional Buraco da Velha, barraca na Praia de Grumari, o carioca Marcos Aurélio Alves, de 50 anos, diz que não trabalha depois das 17 horas por medo de assalto. “Felizmente há segurança particular, policiais militares sempre fazem ronda. Mas este é um local visado, o poder aquisitivo dos freqüentadores é alto”, justifica.
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