BAHIA
Barra une festa e história
Por Miriam Hermes, da Sucursal Barreiras
A emoção tomou conta das ruas de Barra, a 680 km de Salvador, no oeste do Estado, na noite de São João, com o tradicional desfile dos clubes juninos Curuzu, Riachuelo e Humaitá. O desfile remonta à Guerra do Paraguai, com a explosão de mais de nove mil busca-pés (fogos de artifício fabricados artesanalmente na cidade e região).
As linhas de fogo, formadas por corajosos soldados, são as alas mais esperadas e temidas. Diferentes das espadas do Recôncavo baiano, os busca-pés não são atirados ao chão, salvo quando escapam das mãos dos soldados, provocando correria entre o público.
Para proteger as mãos, os soldados usam luvas de couro, que são constantemente molhadas.
“Na hora, é pura adrenalina”, diz a telefonista Poliana Torres, 24 anos, uma das poucas mulheres que participaram diretamente da linha de fogo. Ela enfatiza que, além dos equipamentos de segurança, é preciso muita força para conseguir segurar a pressão que é produzida pelo busca-pé.
Mesmo com as precauções adotadas, este ano, mais de 20 soldados da linha de fogo foram atendidos nas duas ambulâncias que ficaram em área próxima à apresentação.
De acordo com a enfermeira Juliana Najara, nenhum caso foi considerado grave. Cerca de 15 pessoas foram encaminhadas a uma clínica com queimaduras leves, mas não foi registrado nenhum caso de internamento.
Os familiares dos soldados acompanham apreensivos, com uma mistura de orgulho e medo. Mãe de um soldado do Humaitá, a professora aposentada Sônia Pinto, 60 anos, diz que se preocupa porque já teve um outro filho queimado há alguns anos. “Mas não peço para ele sair. Só peço a Deus para protegê-lo”.
Antes de fazer um desfile organizado, nos moldes atuais, com um clube desfilando após o outro, havia enfrentamento entre as agremiações. No último confronto de grandes proporções, um soldado morreu em 1959. Em 1965, a guerra entre eles foi proibida por decisão judicial. A tradição do desfile, porém, sobreviveu.
Mas não é só de linhas de fogo que são compostos os clubes juninos.
Fazem parte deles vários pelotões, como os de cavaleiros e as bandas que tocam marchas marciais.
Os carros alegóricos, finamente acabados e iluminados, levam jovens e crianças, mantendo distância do pelotão de fogo.
“As crianças estão presentes tanto nos fortes quanto na platéia, pois existe a preocupação com a continuidade da tradição”, afirma Francisco Xavier, vice-presidente do clube Curuzu. Este ano, os temas escolhidos pelos clubes foram os Jogos Pan-Americanos e o bicentenário de nascimento do Almirante Tamandaré.
Com o menor número de participantes, o clube Riachuelo manteve a tradição, apesar das dificuldades.
No encerramento da sua apresentação, a quadrilha junina da vizinha cidade de Buritirama deu um show de energia. Na soma dos três clubes, cerca de 1.500 pessoas participaram direta e indiretamente dos desfiles.
TRADIÇÃO – “Manter o costume do desfile dos fortes é de suma importância para a identidade cultural local”, avalia a professora aposentada e autora de quatro livros sobre personagens ilustres e a história de Barra e região, Joana Camandaroba.
Ela ressalta que a festa é única no Brasil e é uma oportunidade de reencontros, destacando o grande número de famílias locais que recebem visitas de amigos e parentes. “Por isso o São João é tempo de confraternização”, completa a professora.
Segundo o presidente da comissão organizadora da festa – que terminou ontem –, Felizberto Camandaroba Júnior, cerca de 200 mil pessoas participaram do evento durante os nove dias de programação, que teve início dia 16 de junho.
O número estimado de visitantes hospedados em casas de parentes e amigos foi de cinco mil.
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