Cachoeira comemora independência da Bahia com série de eventos

Como parte da comemoração do bicentenário da independência da Bahia e do Brasil o município de Cachoeira terá hoje, 25, uma série de eventos, com destaque para o desfile, uma tradição secular que se repete em alusão a fatos ocorridos na cidade nesta data, apontados como ações que deflagraram o processo final de ruptura com o domínio português.

Com início às 15h o evento cívico, cujo ponto alto é no Centro Histórico, terá entre os convidados a presença do governador Rui Costa e comitiva, que aproveita a presença na cidade para entregar obras como o novo Terminal Turístico e anunciar novas intervenções em Cachoeira e região.

Este ano a programação pela independência é especial, com parada temática festiva dividida em 12 alas, formadas por cerca de 2 mil alunos da rede municipal, seguida de pelotões representativos da comunidade regional.

De acordo com o secretário municipal de Educação, Roberto Franco, desde o início do ano letivo o tema está sendo trabalhado em todas as salas da rede e o desfile será o desfecho deste projeto que objetiva disseminar o conhecimento sobre a história nacional desenrolada neste recanto da Bahia.

“Cada ala conta uma fase do processo da independência do Brasil no Recôncavo”, afirmou Franco, que também preside a Comissão do Bicentenário da Independência do Brasil em Cachoeira. Já fazendo parte da programação festiva, no início de junho a comissão organizou um seminário sobre o tema.

Todo trabalho do município foi embasado por uma comissão composta por 10 historiadores especializados no assunto, pontuou o secretário, acrescentando que fazem parte do desfile 11 fanfarras e quatro filarmônicas, que darão o ritmo à festa.

Ainda conforme Roberto Franco, às 19h terá a solenidade de lançamento do ‘Selo Comemorativo dos 200 Anos do Bicentenário da Independência Movimentos Populares’, na praça Teixeira de Freitas.

Em seguida acontece a entrega do Prêmio Literário Bicentenário da Independência do Brasil em Cachoeira, que conta com quatro categorias, para alunos da rede municipal de ensino. Os primeiros colocados receberão prêmios e certificados.

‘HERÓICA CIDADE DE CACHOEIRA’

O título foi conferido à cidade através de Decreto Imperial em março de 1837, confirmando sua importância dentro dos movimentos separatistas que agitaram a província nas primeiras décadas do século XIX e consolidaram a separação definitiva de Portugal em 02 de julho de 1823.

Para compreender os fatos é preciso voltar no tempo, relembrando que em 1815 Napoleão Bonaparte foi vencido na Europa. Entre outros fatos subsequentes, suas tropas se retiraram de Portugal. Com isso os portugueses começaram a cobrar o retorno da família real, que anos antes tinha fugido para o Brasil.

Em 1821 D. João VI voltou à Europa, deixando o filho Dom Pedro I, nomeado príncipe Regente do Brasil. No país, que ainda era formado por províncias e não por estados como atualmente, os ânimos estavam cada vez mais acirrados, encaminhando os acontecimentos para a ruptura com os colonizadores.

De acordo com o professor de História Fábio Batista, neste contexto de insatisfação geral, D. João VI designou o general Bandeira de Melo para comandar os militares em Salvador, o que não foi bem visto por outras lideranças militares locais, que questionavam suas ordens.

No dia 14 de junho de 1822 lideranças políticas de Santo Amaro declararam D. Pedro I ‘defensor perpétuo do Brasil’, ato que se somou às ações que visavam centralizar um poder desvinculado de Portugal, representado pela figura do príncipe.

Com o clima conspiratório instalado e efervescente, muitas famílias já tinham deixado Salvador em direção ao Recôncavo. No dia 24 de junho grupos de milícias (homens armados comandados por fazendeiros) intensificaram aglomeração na região, lembrou Fábio Batista, que é Mestre em História.

HÁ 200 ANOS

No dia 25 de junho dois acontecimentos marcaram o início concreto da guerra. O primeiro foi a aclamação, pela Câmara da Villa de Nossa Senhora do Rosário do Porto de Cachoeira, da figura de D. Pedro I “Imperador e Defensor Perpétuo do Brasil, diante de um contingente considerável de pessoas dos mais diferentes ofícios, ocupações e status sociais”.

A afirmação está no artigo ‘25 de junho de 1822: primeiro passo da independência do Brasil na Bahia (história, cotidiano e celebrações)’, no prelo, assinado por Batista, que faz parte dos historiadores que participaram do projeto do bicentenário em Cachoeira.

Ele ressaltou que o ato provocou um frisson na cidade, desencadeando uma missa e festas, o que irritou um pelotão português que estava em embarcação (Canhoneira Lusitana) estacionada no rio Paraguaçu, em frente da Villa de Cachoeira justamente para acompanhar os acontecimentos na região.

Como os moradores não acataram a ordem de desligar as luzes e encerrar os festejos, tiveram início os confrontos bélicos, em batalha que durou três dias, deflagrando os conflitos que resultaram na proclamação da independência por parte do príncipe, em 07 de setembro daquele ano.

Na Bahia, no entanto, a resistência portuguesa persistiu, resultando em novas batalhas sangrentas entre os grupos que defendiam a ruptura com Portugal, contra os militares que tinham apoio de famílias lusitanas e relutavam em acatar a ideia da independência.

Com envolvimento crescente de baianos e pessoas de outras províncias nos confrontos que se sucederam na região, no dia 01 de julho de 1823 ocorreu a desocupação de Salvador por parte dos militares vinculados à Portugal. Finalmente, no dia 02 de julho o contingente que lutou por mais de um ano, entrou na capital da província consolidando a vitória sobre os portugueses.