Cientistas divergem sobre a ação do Diabo

A parapsicóloga Márcia Regina Cobêro - que também possui formação em teologia, filosofia e história - defende uma posição que é minoritária no âmbito da Igreja Católica: o demônio existe, mas não atua. Logo, não haveria possessão. A posição é seguida por muitos padres e, inclusive, bispos.

Márcia Cobêro, professora do Instituto Padre Quevedo de Parapsicologia, faz formações para o clero católico na região do estado de São Paulo e diz que todos os fenômenos descritos nas possessões têm explicação. "Antigamente, doenças como a epilepsia eram tratadas como coisa do demônio", exemplifica.

Ela argumenta que basear-se nas citações da Bíblia para justificar a ação do demônio é incorreto. "É preciso ver que Jesus falava dentro de um contexto histórico em que não havia a ciência para explicar, por exemplo, casos de loucura", diz. Outro ponto defendido pela professora é que um demônio seria incapaz de realizar milagres.

Cobêro diz ainda que a Igreja jamais se posicionou dogmaticamente sobre a ação do demônio. "Nós não discutimos a existência do demônio, mas a sua ação". Ela diz que fenômenos que ocorrem nas possessões - falar em línguas não estudadas, adquirir força extrema e mexer objetos sem tocá-los - podem ser explicados por fenômenos como a telepatia, a telecinésia e o sansonismo (força extrema). A mente humana teria papel preponderante.

O psiquiatra e teólogo Carlos Kruschewsky diz que "a ciência omite-se de encontrar explicações para os casos de real possessão diabólica. Não posso dizer que algo não ocorre porque não compreendo ou não acredito".

Dom Gregório Paixão, por seu lado, diz que nunca houve uma definição dogmática sobre o assunto porque jamais houve dúvida. "Um dogma só é proclamado quando um ponto da doutrina é motivo de dúvida", esclarece.

Já o padre Paulo Ricardo de Azevedo comenta: "Os parapsicólogos incorrem num erro metodológico, pois confundem ciência natural com teologia. Não sabemos da existência do demônio por experiências naturais, mas por revelação bíblica".

Quanto ao contexto histórico, o sacerdote lembra que não era posição majoritária entre os judeus a crença no demônio - apenas os fariseus e essênios criam na existência de Satanás. "O antigo testamento quase não fala no demônio, mas o novo o cita 511 vezes". Sobre o argumento de que os demônios não fariam milagres, sustenta: "Faz parte da sã e tradicional doutrina da Igreja Católica que o demônio não faz milagres".

Os fenômenos realizados pelos demônios em casos de possessão, influência ou infestação não são considerados, teologicamente, milagres. Estes atos não seriam capazes de mudar a substância das coisas, como transformar água em vinho, milagre de Jesus descrito no Evangelho de João.

Jesus exorcista - Jesus realizou exorcismos, e estes casos são citados em 18 passagens do Novo Testamento. Numa sinagoga, teria ordenado a um demônio: "Cala-te, sai deste homem!". O episódio é descrito no primeiro capítulo do Evangelho de Marcos. A ordem para calar-se foi devido ao fato de o demônio tê-lo identificado como filho de Deus.

No capítulo 6 da Carta aos Efésios, o apóstolo Paulo afirmou que a luta travada pelos cristãos não seria contra pessoas, mas contra os "principados e potestades, contra os príncipes deste mundo tenebroso, contra as forças espirituais do mal (espalhadas) nos ares".

"A existência de Jesus, a sua missão salvífica fica clara quando entendemos que ele veio para derrotar o demônio", diz padre Adilton Lopes. Em julho, o papa Francisco inaugurou uma imagem do arcanjo Miguel no Vaticano. O arcanjo é considerado aquele que lidera os anjos para derrotar Satanás.

Em seu pontificado, Francisco fez muitas menções ao demônio. Em um famoso discurso em novembro de 1972, o papa Paulo VI disse que Satanás é "uma força ativa, um ser espiritual vivo que é pervertido e que perverte os outros".