BICENTENÁRIO
Comemorações do Dois de Julho validam uma identidade nacional
A festa este ano marca o bicentenário e afirma a Independência do Brasil na Bahia
Por Jane Fernandes
Tema da escola de samba Beija-Flor no Carnaval deste ano, a Independência do Brasil na Bahia completa 200 anos no próximo dia 2 de julho, data cívica cuja importância começa a ser mais reconhecida fora do Estado. Entre os marcos comemorativos previstos na Bahia estão a inauguração de um memorial na Lapinha, o lançamento de livros relacionados ao tema e a montagem de um espetáculo teatral ao ar livre.
Presidente da Fundação Gregório de Mattos (FGM), Fernando Guerreiro vê na criação do memorial, na sede onde os caboclos ficam guardados na Lapinha, uma forma de tornar permanente a atenção sobre o feito histórico. “É criar uma memória fotográfica alegórica dessa grande festa. O espaço vai ficar aberto para visitação o ano inteiro, com isso a gente consegue deixar viva a memória dessa festa durante todo o período do ano, não só no Dois de julho”, defende.
Embora o projeto seja um desejo antigo de Guerreiro, ele conta que “agora decolou e a obra já vai começar”. Ainda não é possível ter certeza de que o memorial esteja pronto até o dia do desfile, mas a proposta é entregar este ano, marcando as comemorações do bicentenário da Independência do Brasil na Bahia. A expectativa é transformar o memorial em ponto turístico e roteiro de visitação para estudantes. Haverá também uma reforma do Largo da Lapinha para os festejos.
“Sou um apaixonado pela festa, eu acho que é a grande festa da nossa cidade: ela é cívica, ela tem um cunho religioso muito forte. Eu acho que é uma festa que tem muito a ver com a nossa identidade histórica”, declara o presidente da FGM. Outro ponto destacado por ele é a montagem de um espetáculo para ser apresentado em praças públicas, possibilitando levar a história das batalhas de consolidação da independência brasileira a todo o país.
A programação comemorativa da Fundação inclui a criação de uma categoria especial “Dois de Julho” no Selo Literário João Ubaldo Ribeiro, por meio do qual a Fundação viabiliza o lançamento de livros.
Este ano haverá ainda a retomada do tradicional concurso de fachadas, com a premiação da decoração mais bonita exposta nas paredes externas das casas situadas no percurso do cortejo.
Data nacional
À frente de diversas iniciativas para a comemoração desse marco histórico, o presidente do Instituto Geográfico e Histórico da Bahia (IGHB), Joaci Góes, enfatiza a importância de reforçar a dimensão nacional da data, ainda referida com frequência como Independência da Bahia. "É a Independência do Brasil na Bahia”, reforça, lembrando que o país não teria se libertado do jugo de Portugal sem a realização das batalhas ocorridas na Bahia.
Citando a parceria com a Secretaria de Cultura do Estado e a FGM, Góes comenta que está em andamento uma série de palestras contemplando diferentes aspectos do tema, ministradas por historiadores da Bahia e de outros estados. Por meio de um convênio com a Assembleia Legislativa, acrescenta, serão lançados doze livros relacionados à Independência, sejam publicações inéditas ou obras republicadas.
O remapeamento do sítio histórico das batalhas é outra ação destacada pelo presidente do IGHB, para o qual contarão com a participação do departamento de história do Exército e da Marinha. “Foi um cordão de proteção realizado desde Jaguaripe, passando por Maragogipe, Cachoeira e Santo Amaro. Todos os produtores que existiam neste grande anel deixaram de fornecer viveres alimentícios para as tropas de Madeira de Melo, o general português que dominava a Bahia”, explica.
Segundo Góes, no próximo dia 2 de Julho, o Instituto pretende inovar, dividindo o cortejo em dois momentos: o tradicional da Lapinha até a Praça da Sé e um desfile monumental a partir da Praça Castro Alves. “Pessoas vestidas teatralmente, representando cada uma daquelas diferentes figuras que compuseram o quadro de heroísmo da nossa luta nacional pela independência do Brasil na Bahia”, declara. Um desejo é contar com a participação de artistas famosos no Estado, mas essas articulações ainda não foram iniciadas.
Recôncavo
Em Cachoeira, cidade com papel central na expulsão das tropas portuguesas e de onde sai o fogo simbólico do Dois de julho, a comemoração do bicentenário está sendo planejada por uma comissão formada pelo poder municipal. Funcionário do Arquivo Público do Município, Igor Almeida é um dos dez historiadores integrantes da comissão. “Elaboramos a ideia de lançar um livro pela Editora da Ufba, deve ser lançado agora no final do primeiro semestre”, informa.
A publicação reúne seis artigos assinados por historiadores da comissão municipal, o de Almeida aborda a trajetória de Tambor Soledade. “Algumas pessoas achavam que ele não existiu, era uma figura poética, ou que ele sucumbiu no dia do confronto. Através de uma ampla pesquisa eu descobri que ele de fato participou do confronto, mas faleceu 50 anos depois”, antecipa.
De acordo com o historiador, a cidade deu início às festividades do bicentenário no ano passado, porque as lutas contra os colonizadores na região começaram em 25 de junho de 1822. Desde então, os estudantes têm aulas com recortes diversos sobre a data, além da realização de dois seminários sobre a Independência: um direcionado para o público infanto-juvenil e outro mais centrado no público acadêmico, com foco nas pesquisas que comporão o livro.
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